Plataforma do CIn-UFPE capacita profissionais na alfabetização de crianças neurodivergentes não verbais
Reaact é uma plataforma gratuita nacional que usa cartões de comunicação para criar frases, com voz, alto contraste e teclado virtual
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Uma plataforma desenvolvida pelo grupo de pesquisa Assistive, do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn-UFPE), tem sido utilizada para capacitar profissionais na alfabetização de crianças neurodivergentes não verbais.
O Reaact (www.reaact.com.br) é uma plataforma gratuita e 100% nacional, desenvolvida para ser intuitiva e de fácil uso. Por meio de cartões de comunicação, a ferramenta permite a construção de frases com apoio de recursos como síntese de voz, modo de alto contraste e teclado virtual.
Como diferencial, o sistema é multiplataforma e baseado em nuvem, o que dispensa a instalação de aplicativos. Basta criar uma conta para acessar todos os recursos a partir de qualquer computador, tablet ou celular conectado à internet.
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O professor e pesquisador da CIn-UFPE, Robson Fidalgo, que atua no grupo de pesquisa há mais de 10 anos, explicou que a plataforma Reaact, voltada à Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), surgiu no que ele chama de “virada de chave” do mundo analógico para o digital.
“Até então, o que eu faço hoje em tablet e em computadores, as pessoas faziam no papel. Imprimiam, classificavam. E aí você tinha aqueles cadernos grandes com esse material, e era assim que funcionava antes”, explicou à coluna Enem e Educação.
“É muito gratificante quando a gente vê que a pesquisa da gente chega para causar um impacto na sociedade. Existe todo um momento de você conceber a pesquisa, desenvolvê-la, amadurecer... existe um ciclo até você transformar aquela pesquisa e colocar ela na sociedade”, completou.
O CIn-UFPE também mantém parceria com a Clínica de Fonoaudiologia da UFPE, conhecida como Clínica Escola Professor Fábio Lessa, que atualmente atende 30 crianças autistas que utilizam a plataforma.
“Quando falamos de comunicação alternativa baseada em cartões, estamos lidando com diferentes tipos de estímulos. A imagem do cartão funciona como estímulo visual e cognitivo, enquanto a legenda atua como estímulo sonoro — ao tocar no tablet, sai o áudio correspondente. Além disso, é possível vincular um estímulo emocional", afirmou Fidalgo.
A plataforma não beneficia apenas pessoas neurodivergentes, mas também aquelas com paralisia cerebral, por exemplo, ou outras condições que comprometem a fala funcional. O professor ressalta que ela é especialmente eficaz na primeira infância, mas também pode ser usada por quem tem capacidade cognitiva preservada e limitações motoras, auxiliando na leitura, compreensão e produção da fala.
Estratégias de inclusão
Psicopedagogos e fonoaudiólogos da Clínica Mundos têm utilizado tecnologia no trabalho com crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que apresentam dificuldades de comunicação — especialmente nos casos classificados como nível três, em que há grandes desafios para desenvolver a fala funcional.
Nessas situações, em vez do vocabulário usual, as crianças se expressam por meio de gestos, expressões faciais, linguagem corporal e sistemas de símbolos ou imagens.
“Os principais desafios incluem dificuldades em explicar necessidades e emoções, compreender e ser compreendido por outros, o que pode levar a frustrações e isolamento social. Quando a fala não é uma opção, a comunicação alternativa entra em cena para dar autonomia e diminuir frustrações”, afirmou Cora Cabral, coordenadora de Fonoaudiologia da Clínica Mundos, rede especializada em terapias para neurodivergentes.
“A plataforma é de fácil usabilidade e bastante editável, de modo que podemos personalizar para qualquer paciente, segundo as demandas de cada um — com imagens, sons, e referências do dia a dia deles”, explica a psicoterapeuta Ana Paula Calado.
Essa é apenas a primeira etapa da parceria entre a rede de clínicas e o projeto do CIn-UFPE. O objetivo é que, com o tempo, a própria criança consiga usar a ferramenta de forma autônoma, sem depender da intervenção terapêutica.
“A comunicação é um direito fundamental, e garantir meios para que pessoas no TEA não verbal possam se expressar é garantir inclusão e bem-estar. Não há um único caminho nesse processo, mas estratégias personalizadas e construídas com paciência, afeto e apoio profissional sempre trazem os melhores resultados, contribuindo para autonomia e melhor qualidade de vida para essas crianças”, conclui Cora Cabral.