Idepe 2024: Resultados relevam desafios e desigualdades no Ensino Médio; veja os municípios que se destacaram

IDEPE avalia escolas públicas de PE (0-10) em Português, Matemática e fluxo escolar, para alunos do 5º e 9º anos e 3º do Ensino Médio

Por Mirella Araújo Publicado em 24/10/2025 às 15:28 | Atualizado em 24/10/2025 às 21:06

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Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) 2024, com o desempenho por redes municipais e estadual, por escolas e por gerências regionais, já podem ser consultados no site da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEE).

O indicador avalia, em uma escala de 0 a 10, a qualidade da rede pública pernambucana em três dimensões: desempenho em Língua Portuguesa e Matemática — aferidos por meio dos testes do Sistema de Avaliação da Educação Básica de Pernambuco (Saepe) — e fluxo escolar, com base nos dados do Censo Escolar, considerando alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio.

Os municípios pernambucanos que se destacaram na avaliação do 3º ano do Ensino Médio, que pertecem a rede estadual de ensino, foram: Quixaba, que alcançou a nota mais alta, 6,59, ante 6,02 em 2023; Tuparetama, com 6,15, inferior ao resultado de 6,55 registrado no ano anterior; e Lagoa do Ouro, com 5,81, levemente acima dos 5,80 de 2023.

É importante ressaltar que essas notas refletem o desempenho dos alunos da rede estadual, de responsabilidade do Governo do Estado, e não das prefeituras.

Na Região Metropolitana, Moreno alcançou 4,92 (alta de 6,3% sobre 4,63 em 2023), Ilha de Itamaracá registrou 4,70 (queda de 2,1% em relação a 4,80 no ano anterior) e Recife marcou 4,55 (alta de 6,5% sobre 4,27, em 2023).

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Quando analisado o desempenho dos estudantes no âmbito municipal, considera-se o acompanhamento de sua trajetória escolar. Embora a nota reflita o desempenho de alunos da rede estadual, ela é resultado de um investimento que começa desde o início da Educação Básica, sob responsabilidade das prefeituras.

Essa trajetória ocorre a partir da garantia de acesso à Educação Infantil, seguindo com foco prioritário no ciclo de Alfabetização, passando pelas recomposições de aprendizagem nos Anos Finais do Ensino Fundamental, até o ingresso no Ensino Médio.

Cenário de estagnação

 Para Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE, os resultados — que se assemelham aos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) — indicam uma estagnação do Ensino Médio em Pernambuco, em contraponto aos avanços significativos nos Anos Iniciais e, de forma menos acentuada, nos Anos Finais do Ensino Fundamental.

Diante desse cenário, ele defende que é preciso investigar as causas que levam municípios menores a apresentarem resultados muito superiores aos da Região Metropolitana do Recife, que contam com mais investimentos em infraestrutura escolar.

Segundo o educador, essa análise mais aprofundada deve considerar fatores como o vínculo entre escola e comunidade, os efeitos da violência e do estresse sobre o aprendizado, a distribuição de professores e a oferta de disciplinas. 

“Talvez as escolas do interior estejam mais próximas da população. O professor mora perto dos alunos, há convivência e engajamento. Nas minhas visitas como secretário, as escolas do interior eram limpas, organizadas e tinham uma identidade muito forte com o entorno”, observou.

O que nas cidades da RMR, esse cenário é bem distinto. “Nas escolas da periferia do Recife, a realidade é muito dura. A falta de professores é bem maior nessas unidades. Muitos docentes pedem transferência logo que possível, buscando escolas em regiões de melhor localização. Isso cria um ciclo de vulnerabilidade que impacta diretamente a aprendizagem”, destacou.

Além do diagnóstico, Mozart Neves Ramos afirmou que o enfrentamento das desigualdades no Ensino Médio exige ações estruturantes e políticas pedagógicas mais consistentes, voltadas não apenas ao desempenho em avaliações, mas também à formação integral dos estudantes.

Ele reforçou a importância da formação e valorização dos professores, sobretudo em áreas como a Matemática. “Isso tem sido um problema nacional, não à toa motivou a criação do movimento Toda Matemática, para que possamos realmente sair desse resultado estagnado e em um patamar muito baixo — principalmente no Ensino Médio”, afirmou Ramos Neves.

O Ministério da Educação (MEC) lançou neste mes de outubro o Compromisso Nacional Toda Matemática, que tem como objetivo assegurar que todos os estudantes da educação básica se apropriem dos conhecimentos e desenvolvam as competências e habilidades estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a área da Matemática.

Além disso, a iniciativa quer garantir a institucionalização de programas de fortalecimento da Educação Matemática em todos os sistemas e redes de ensino que atendem à educação básica. 

 

Guga Matos/JC Imagem
O professor Mozart Neves Ramos falando para o público no auditório Graça Araújo, no Sistema Jornal do Commercio, no JC Educação - Guga Matos/JC Imagem

Niveis de aprendizagem

Ao avaliar o município de Quixaba, por exemplo, Mozart destaca que, do ponto de vista da aprendizagem adequada, conforme os parâmetros do Novo Plano Nacional de Educação (PNE) em discussão na Câmara dos Deputados, ainda há desafios acentuados.

“Em Quixaba, 67% dos alunos do Ensino Médio têm aprendizado adequado em Língua Portuguesa, mas em Matemática esse percentual é de 48%”, apontou.

A diferença se repete mesmo entre os municípios que também alcançaram um melhor desempenho. “Já em Camocim de São Félix, que teve 5,28 — o último do grupo [entre os dez municípios que obtiveram as maiores notas] —, o nível de aprendizado em Língua Portuguesa é de 36% e em Matemática, de apenas 8%. Então a gente vê a desigualdade já dentro do próprio grupo de destaque, olhando a aprendizagem do Ensino Médio", disse o professor a coluna Enem e Educação.

Ainda segundo Mozart Neves Ramos, a situação na Região Metropolitana do Recife é especialmente preocupante. No Recife, por exemplo, apenas cinco a cada cem alunos da rede estadual conseguem alcançar o nível de aprendizagem esperado em Matemática. Em Olinda, o índice é ainda menor — três a cada cem estudantes.

“Isso exige um olhar estratégico, porque a gente não consegue romper; ao contrário, amplia-se ainda mais a desigualdade e o baixo patamar de aprendizagem desses jovens”, afirmou.

Continuidade entre etapas garante avanço no Ensino Médio

Em conversa com a coluna Enem e Educação, Lucas Fialho, gerente geral de Desenvolvimento Pedagógico da SEE, afirmou que diante do contextos socioeconômicos distinto entre as regiões, a gestão estadual tem investido na infraestrutura escolar, especialmente em áreas urbanas, e que isso impacta diretamente a motivação dos estudantes.

“Diferentemente do interior do estado, onde a escola normalmente tem um cuidado maior e os estudantes têm uma sensação de pertencimento muito forte”, explicou. Ele também destacou que no interior, muitas escolas já vem desenvolvendo a um tempo um forte trabalho de recomposição pedagógica.

“Por exemplo, a escola estadual de Panelas, que entregou uma nota altíssima, demanda um esforço menor, porque os valores já estão sendo consolidados na rede desde o início do Ensino Fundamental. Já nos grandes centros urbanos, os estudantes chegam com defasagens críticas, então o esforço é tanto de recomposição quanto de qualificação do ensino para elevar a proficiência”, disse.

O gerente enfatizou que a continuidade pedagógica entre etapas é fundamental para o progresso do Ensino Médio. “Quanto mais alinhadas estão as etapas, melhor cada etapa entrega para a seguinte. Hoje temos um trabalho muito robusto nos anos iniciais, que deságua no Ensino Fundamental 2. Isso cria uma base sólida para o Ensino Médio, com expectativa de bons resultados futuros”, explicou.

“O esforço que estamos fazendo vai permitir que Pernambuco retome o lugar de destaque no Ensino Médio nacional. É um trabalho de longo prazo, mas já vemos os frutos na aprendizagem e na proficiência dos estudantes”, concluiu.

Confira os municípios com as maiores notas do Idepe 2024 no 3º ano do Ensino Médio

Thiago Lucas/Design SJCC
Resultados do Idepe 2024 por município - Thiago Lucas/Design SJCC

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Resultados do IDEPE 2024 - Thiago Lucas/ Design SJCC

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