No Recife, Nina Silva destaca papel da diversidade na educação empreendedora
O 21º Congresso Internacional de Inovação na Educação, promovido pelo Sistema Fecomércio/Sesc/Senac Pernambuco segue até esta sexta-feira (3)

Clique aqui e escute a matéria
Discutir empreendedorismo a partir da combinação entre tecnologia e propósito humano, olhando para os diferentes estratos sociais do Brasil, significa reconhecer que mulheres e pessoas negras — embora representem a maioria da população — continuam tendo acesso limitado às oportunidades.
Nesse contexto, Nina Silva, empresária e executiva em tecnologia, uma das fundadoras do Movimento Black Money (MBM) e CEO do Afreektech, participou do 21º Congresso Internacional de Inovação na Educação, promovido pelo Sistema Fecomércio/Sesc/Senac Pernambuco, com a palestra “Educação Empreendedora: Inclusão, Tecnologia e Novas Economias para o Futuro”.
"A gente tem acesso hoje à democratização da comunicação pelo WhatsApp, de vender pela internet. Mas, quando se trata de quem está criando essas tecnologias e de quem está ganhando com elas, ainda vemos o poder concentrado em poucas mãos para desenhar esse futuro — que deveria ser pensado para todas as pessoas. Caso contrário, não será um futuro sustentável", afirmou a empresária.
Ao refletir sobre o papel dos dados e dos talentos humanos, Nina Silva ressaltou que é preciso levar em consideração a diversidade de origens e etnicidades. Ela observou que, mesmo diante da abundância de informações e do avanço de conglomerados na criação de novas tecnologias, muitas dessas inovações ainda parecem inacessíveis e não conseguem resolver problemas básicos da população.
Em 2017, foi criado o Movimento Black Money, um hub de inovação com objetivo de inserir e proporcionar autonomia da comunidade negra na era digital. Esse ecossistema empreendedor negro, com foco na comunicação, educação e geração de negócios, teve como seu diferencial fomento ao letramento identitário. "A gente utiliza tecnologia para dar autonomia a população preta do país, a partir do acesso a oportunidades de reais no mercado de trabalho e acessos de qualidade", explicou.
E como a tecnologia pode chegar até aqueles que estão na ponta?
Nina Silva lembra que para falar de acesso é necessário falar de infraestrutura e, uma das limitações e desafios existentes no país, é como fazer com que todas as pessoas tenham as mesma infraestrutura básica para acessar essas tecnologias e espaços de forma democrática.
"Nós estamos falando de um país que ainda tem 35 milhões de pessoas fora da internet, ao mesmo tempo que, em uma cidade como São Paulo, temos pessoas com até três celulares. Então essa discrepância é estrutural", pontuou,
Acontece que essa estrutura não só alimenta uma dinâmica de poder como também mantém privilégios. E é nesse ponto, em que Nina destaca que importância de unir políticas públicas, entendimento dos espaços, junto a iniciativas privadas.
"Não consigo trabalhar empreendedorismo com acesso a inovação e tecnologia, se eu não tiver estruturas que façam com que essas pessoas que precisam empreender ou que estão com a necessidade e não com a oportunidade do emprrender, como elas detém uma estrutura que não seja apenas o Whatsapp, como vender no Instagram, é preciso mais", destacou.
Educação básica é peça importante na transformação digital
Na sociedade do dizer e da influência, engajar jovens para que eles não apenas consumam, mas possam criar tecnologias, é um trabalho que vai além do incentivo as suas potencialidades.
“Um jovem gamer no Brasil pode estar criando um jogo com outro jovem na Índia, e vendo as similaridades da vivência de um jovem periférico de país emergente. Então quando a gente globaliza experiências, a gente também globaliza dores e desigualdades.. Isso precisa ser oportunidade e não para se manter na marginalização”, afirmou Nina Silva, em resposta a coluna Enem e Educação.
Para ela, iniciativas como o Movimento Black Money buscam “hackear o sistema” ao criar uma educação empreendedora que fale a linguagem das comunidades e transforme representatividade em oportunidade.
No entanto, essas desigualdades podem ser evidenciadas desde a educação básica — e as suas fragilidades que vão do acesso, a oferta de um ensino de qualidade, e o investimento na aprendizagem de crianças e adolescentes ao longo da trajetória escolar — , até que eles sejam inseridos no mercado profissional posteriormente.
"Enquanto em escolas particulares crianças estudam robótica e gestão de projetos, em muitas escolas públicas ainda falta estrutura para o básico”, afirmou. Ela defendeu políticas públicas que modernizem o ensino e aproximem as famílias da escola, de forma que as crianças possam desenvolver desde cedo pensamento lógico, criatividade e habilidades digitais essenciais para o futuro.
Programação do Congresso
O 21º Congresso Internacional de Inovação na Educação está sendo realizado com programação presencial no Recife Expo Center, no Bairro do Recife, e transmissão 100% online pelo site: www.pe.senac.br/congresso.
Nesta quinta-feira (2), o evento focará temas como "Inovação que gera empregabilidade", com Márcio Marietti, consultor de Tecnologia da Informação; e "Conectando redes para o cuidado com o planeta", com Thomas Kiss, designer de negócios sustentáveis.
Já na sexta-feira (3), Mariano Enguita, professor de Sociologia e escritor espanhol, ministra a palestra "O meio-termo: equipes, centros e redes no centro da inovação e transformação educacional e digital". O encerramento será com o escritor, ator, roteirista e apresentador de TV Marcelo Tas, que abordará a temática Criatividade e Inovação.
Além do auditório principal, o evento conta com espaços temáticos interativos que provocam aprendizagem ativa, como o Espaço Narrativas e Storytelling na Educação, Conexões Literárias, Neurociência e Aprendizagem, Data Science na Educação, entre outros.