Anuário aponta desigualdades de infraestrutura e aprendizagem em escolas públicas; veja os dados de Pernambuco
Os dados são do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, elaborado pelo Todos Pela Educação, em parceria com Fundação Santillana e Editora Moderna

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O que deveria ser uma realidade garantida nas escolas da rede pública — como acesso à água potável, energia elétrica, banheiros e cozinha — revela, na prática, um cenário de desigualdades entre as diferentes regiões do Brasil.
Menos da metade das escolas públicas do país conta com rede de esgoto, e mais de 20% não possuem serviço de coleta de lixo. Apenas 38,7% das salas de aula têm algum tipo de climatização, como ar-condicionado, aquecedor ou climatizador.
No que se refere à tecnologia, 44% das escolas públicas estão conectadas com parâmetros adequados para uso pedagógico em sala de aula. Por outro lado, 4,6% não possuem nenhuma conexão ou nem mesmo energia elétrica suficiente para o funcionamento dos equipamentos.
Os dados são do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, elaborado pelo movimento Todos Pela Educação em parceria com a Fundação Santillana e a Editora Moderna, divulgado nesta quinta-feira (25).
“A ausência de infraestrutura básica, além de ser uma questão de dignidade, está diretamente ligada às condições de aprendizagem dos estudantes. Já houve muitos avanços no país, mas há regiões em que a situação permanece crítica", afirma Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação.
Pernambuco precisa avançar mais na infraestrutura
No recorte por estados, o Anuário mostra que em Pernambuco, embora haja progressos, persistem desafios significativos tanto na infraestrutura quanto na qualidade da aprendizagem.
O levantamento aponta que 97,3% das escolas possuem banheiros, 96,3% têm acesso à água potável e 96,9% estão conectadas à rede elétrica. No entanto, apenas 57,9% contam com rede de esgoto, e somente 42,1% dispõem de salas climatizadas.
Também há diferenças na oferta de equipamentos pedagógicos. Nos Anos Finais do Ensino Fundamental, 35,2% das escolas contam com laboratório de informática, 26% possuem laboratório de ciências e 57,9% têm quadra de esportes. Já no Ensino Médio, os índices são mais altos , onde 71,3% têm laboratório de informática, 50,1% contam com laboratório de ciências e 79,3% possuem quadra de esportes.
Aprendizagem: de cada 100 alunos, poucos aprendem o esperado
No que diz respeito à aprendizagem, os dados revelam um contraste entre o acesso à educação e a efetividade do ensino. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que concentram 672.838 matrículas — sendo 1% na rede estadual, 69,9% na municipal e 29,1% na rede privada —, de cada 100 crianças, 96 concluem essa etapa até os 12 anos. No entanto, apenas 35,4% delas apresentam níveis adequados de aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática no 5º ano.
Nos Anos Finais, com 547.841 matrículas — distribuídas entre 0,1% na rede federal, 21,7% na estadual, 57,6% na municipal e 20,6% na rede privada —, os indicadores caem: de cada 100 estudantes, 89 concluem até os 16 anos, mas só 16,4% demonstram aprendizagem adequada nas duas disciplinas ao final do 9º ano.
No Ensino Médio, que reúne 338.112 matrículas — 2,7% na rede federal, 85,9% na estadual e 11,4% na rede privada —, apenas 67 de cada 100 alunos concluem essa etapa até os 19 anos. O desempenho é o mais crítico: somente 8% conseguem atingir a aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e Matemática na 3ª série.
Os dados apresentados no Anuário foram elaborados a partir de informações oficiais do IBGE (PNAD Contínua 2024), do Saeb (MEC/Inep/Daeb) e dos microdados do Censo Escolar da Educação Básica (MEC/Inep/DEED).
"Nenhum dado de trajetória é tão bom", aponta especialista
Em conversa com a coluna Enem e Educação nesta sexta-feira (26), Bernardo Baião, coordenador de Políticas Educacionais do movimento Todos Pela Educação, afirmou que os dados sobre a trajetória escolar no Brasil estão longe do ideal e que isso é uma realidade que se repete em todas as regiões do país.
“Quando a gente olha para o cenário de Pernambuco, e do Brasil como um todo, percebemos um avanço significativo na garantia do acesso, permanência e conclusão dos estudantes — isso evoluiu bastante nos últimos dez anos. Por outro lado, há uma necessidade clara de melhorar a qualidade do ensino, o que exige um conjunto de ações estruturadas”, destacou Baião.
Entre essas ações, ele cita a ampliação do tempo do estudante na escola, o investimento na formação inicial de professores, especialmente na modalidade presencial, a realização de concursos públicos e a valorização dos profissionais da educação.
“E aqui temos um elemento central, que talvez seja o mais importante: a implementação de políticas voltadas ao combate das defasagens de aprendizagem”, acrescentou. Baião explica que é natural que o aluno enfrente desafios ao longo da trajetória escolar. No entanto, o Todos Pela Educação alerta que é fundamental oferecer respostas efetivas para enfrentar esses gargalos.
De acordo com os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, observa-se uma queda progressiva nos percentuais de aprendizagem considerada adequada, à medida que os estudantes avançam nas etapas de ensino. Questionado sobre como essas falhas nas transições escolares podem ser interpretadas, o coordenador aponta duas leituras principais.
O segundo ponto, segundo Baião, é a necessidade de enfrentar as defasagens acumuladas ao longo dos anos. “A principal transição entre os Anos Iniciais e os Anos Finais do Ensino Fundamental é marcada pelo processo de alfabetização. Infelizmente, a maioria dos alunos ainda não é alfabetizada na idade certa — e nem com a qualidade necessária”, criticou.
“Em Pernambuco, olhando os dados, vemos que o processo de alfabetização não está à altura do que os estudantes precisam para acompanhar os anos seguintes”, completou.
Ensino Médio: desafios são mais complexos
No caso do Ensino Médio, o cenário é um pouco mais complexo, apesar dos incentivos por parte do Poder Público. O programa do governo federal Pé-de-Meia, que tem como objetivo garantir a permanência dos estudantes na escola por meio de um auxílio financeiro, representa um avanço importante para que eles possam concluir os estudos.
“O programa é um primeiro passo relevante para reverter parte do cenário atual. Ele atua tanto na melhoria da trajetória escolar quanto na aprendizagem, além de incentivar o ingresso no ensino superior. Mas, no Ensino Médio, há outros fatores que influenciam bastante a trajetória, especialmente entre os estudantes mais vulneráveis”, destacou Baião.
Segundo ele, os maiores desafios nesta etapa estão relacionados a questões sociais, como o ingresso precoce no mercado de trabalho e a gravidez na adolescência.
“O aspecto social interfere fortemente na trajetória escolar, mas não pode ser usado como justificativa para os baixos índices de aprendizagem. Precisamos de mais tempo de aula. Por isso, defendemos de forma enfática a educação em tempo integral como a principal ferramenta para garantir a melhoria da aprendizagem”, concluiu o coordenador.
Em Pernambuco, 69,4% das matrículas do Ensino Médio na rede estadual são na modalidade de tempo integral.