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Na Alepe, Sintepe critica governo por atrasar votação de reajuste: 'usam nosso projeto para aprovar outros'

Reajuste deixou de ser aprovado duas vezes após governo esvaziar plenário. Crítico de Raquel, presidente da Casa diz que priorizou pauta.

Por Mirella Araújo, Rodrigo Fernandes Publicado em 09/06/2025 às 13:28 | Atualizado em 09/06/2025 às 13:38

Professores e demais trabalhadores em Educação da rede estadual de Pernambuco lotaram o auditório Sérgio Guerra, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta segunda-feira (9), para cobrar aos deputados estaduais a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 2968/2025, que prevê reajuste de 6,27% no piso salarial da categoria.

O encontro ocorreu em meio à paralisação feita pelos Sindicato dos Trabalhadores em Educação do estado (Sintepe) para pressionar o Legislativo para aprovar o texto, que já foi colocado duas vezes na pauta do plenário, mas não teve aprovação por falta de quórum — provocada pelo esvaziamento da bancada governista.

Caso a pauta não seja aprovada na sessão plenária desta segunda-feira, o sindicato não descarta a possibilidade de greve, mas isso só poderá ser determinado em assembleia.

A presidente do Sintepe, Ivete Caetano, disse que o acordo passou meses sendo debatido em mesas de negociação até chegar num denominador entre a categoria e o governo do estado, e que não há divergências entre o sindicato e o Executivo para justificar a demora na aprovação.

A sindicalista acusou o governo de estar atrasando a pauta dos professores para pressionar os deputados sobre outros projetos  de interesse do Palácio pendentes na Casa. "Ela [a governadora Raquel Lyra] quer o usar o nosso projeto de lei para forçar a aprovação dos outros. Essa é a verdade", disparou.

"Parece que a governadora não sabe, mas nós somos uma categoria majoritariamente de pós-graduados, alguns são doutores, outros são mestres. Nem a governadora nem essa casa legislativa estão lidando com gente que não tem escolaziação, com gente que não acompanha política", completou.

Ivete também afirmou que procurou a governadora após a última sessão plenária esvaziada pelos governistas para buscar um entendimento sobre a aprovação do projeto. Em outro momento, a sindicalista disse que escutou da secretária estadual de Administração que a bancada governista estava orientada a aprovar o projeto, o que não aconteceu.

Na visão dela, o governo deveria estar usando a pauta dos professores para benefício da própria imagem. "Vocês fizeram um acordo conosco que a gente aprovou. Isso é uma coisa que qualquer governo comemora. Era um momento para vocês estarem comemorando, e a gente comemorando o nosso São João com o nosso reajuste. Mas não estamos nessa situação", relatou Ivete na sessão.

Pericles Chagas/Sintepe
Servidores da Educação lotaram auditório Sérgio Guerra da Alepe para pedir aprovação de reajuste - Pericles Chagas/Sintepe

A presidente do Sintepe também relatou que a categoria procurou parlamentares do governo após as sessões esvaziadas da semana passada, e disse que um professor foi desrespeitado pelo deputado Claudiano Martins Filho (PP), que teria enviado uma "dedada" por meio de um aplicativo de mensagens.

"Se a gente não permite que nossos estudantes nos desrespeitem, a gente vai permitir que um deputado nos desrespeite? Ele vai para as redes sociais. A sociedade precisa presenciar o que ele fez", disse, afirmando ter prints que comprovam a conversa.

Dani Portela: 'não seremos bucha de canhão'

A deputada estadual Dani Portela (PSOL), que tem forte atuação em defesa da educação, apontou que o governo estaria usando a pauta como "bucha de canhão" na quebra de braço junto à Alepe.

"Na minha avaliação, o que está acontecendo é uma tentativa de usar a educação do estado de Pernambuco, os servidores e servidoras da educação como massa de manobra. Mas isso não vai acontecer. Os projetos que estão aqui é empréstimo, é Fernando de Noronha, é Adagro, pautas que não mobilizam como a educação. Eles sabem do potencial mobilizador da educação, mas esqueceram do potencial crítico", declarou a parlamentar.

Dani Portela também criticou a orientação do governo de esvaziar o plenário. "A gente está com dificuldade de quórum até para as comissões desta casa. No primeiro dia você observa quem foram as pessoas que faltaram. No segundo dia, quem foram as pessoas que faltaram? E pra nossa surpresa, vários desses colegas estavam na casa, só se retiraram da reunião. E a gente sabe que basta uma ligação para isso acontecer", disparou.

Na visão da parlamentar, o governo estaria usando a pauta dos professores para barganhar a aprovação dos projetos de interesse próprio. "Quis colocar no mesmo bolo, quis usar a educação para dizer: 'A gente só vota a educação se votar a o empréstimo', quis usar vocês como moeda de troca. Isso não pode ser admitido, nem de um lado, nem de outro. E essa Casa não está fazendo isso. Essa reunião de hoje tem o intuito de tirar essa cortina de fumaça de um jogo de narrativa que está construindo de nós contra eles", finalizou.

Presidente da Alepe diz que culpa é do governo

O presidente da Alepe, deputado Álvaro Porto (PSDB), afirmou que tratou a pauta dos professores como prioridade na Casa, apontando que as comissões aceleraram a tramitação e ele agilizou a colocação da pauta em votação no plenário.

"Foi uma tramitação em tempo recorde, o que mostra que a Assembleia fez o seu papel e é sensível à causa de vocês. Mas o que vem acontecendo é esse jogo que, para mim, não é um jogo político, é um jogo de quem quer jogar a população pernambucana, as classes, no caso vocês professores, contra aqui a assembleia", analisou Álvaro Porto.

Ele também criticou o posicionamento da base governista de criticar o atraso na apreciação do empréstimo de R$ 1,5 bilhão, enviado pelo governo de Pernambuco à Alepe em março e que vem causando toda a tensão que culminou no travamento da pauta da Casa.

"Esta Casa aprovou e liberou R$ 9,2 bilhões para o governo do estado e até hoje o que foi empregado desse dinheiro foram R$ 1,2 bilhões. Tem R$ 8 bilhões autorizados. Essa história de que não vai fazer isso ou aquilo porque a Assembleia não aprova esse empréstimo é balela, é conversa".

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