'Crianças estão vendo os 60 corpos': líder comunitário relata cenário de caos e terror no Complexo do Alemão
Raull Santiago, morador há 36 anos, descreve casas alvejadas, feridos e pânico durante a operação mais letal da história do Rio, que deixou 64 mortos
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Em meio à megaoperação policial que deixou um rastro de 64 mortos nos complexos do Alemão e da Penha nesta terça-feira (28), o líder comunitário Raull Santiago fez um relato contundente sobre o cenário de caos e terror vivido pelos moradores. Morador do Alemão há 36 anos e conhecido pelo coletivo Papo Reto, Santiago descreveu uma situação sem precedentes.
"Quem está na ponta está vendo os 60 corpos, as crianças estão vendo os 60 corpos", disse ele, sobre o impacto brutal da operação mais letal da história do Rio de Janeiro.
Santiago relatou estar recebendo inúmeros pedidos de socorro desesperados. "O nível de pedido de socorro eu ainda não consegui absorver. Da vasta quantidade de casos diferentes, que vai desde 'meu vizinho tomou um tiro dentro de casa' até 'a minha criança está tendo um ataque epilético, e eu não sei o que fazer porque o tiroteio é aqui, na porta'", contou.
Vídeo: Megaoperação contra o Comando Vermeho no Rio de Janeiro deixa ao menos 64 mortos
"Nunca vi nada semelhante"
O líder comunitário, que já levou a realidade das favelas cariocas para um painel na ONU, afirmou nunca ter presenciado uma situação tão grave. "Talvez para quem esteja fora da favela seja difícil entender um pouco da seriedade, da gravidade", disse, descrevendo moradores feridos, casas destruídas e alvejadas, e crianças sofrendo ataques de nervos e tremores.
"A gente está tentando entender isso tudo. E, também, sobreviver, porque somos moradores", desabafou Santiago, que durante seu relato ouvia trocas de tiros e via blindados ("caveirões") circulando pelas ruas.
Contexto da Operação
A operação mobilizou 2,5 mil policiais contra o Comando Vermelho e resultou na morte de 60 suspeitos e 4 policiais. A facção reagiu usando drones para lançar bombas, intensificando o confronto. A ação paralisou a região, afetando escolas, o transporte e colocando a cidade em estado de alerta. Mais de 110 mil pessoas vivem nas áreas diretamente impactadas pela operação.
(Com informações do Estadão Conteúdo)