Deepfakes no TikTok usam celebridades para simular apoio a Lula nas eleições de 2026
Cristiano Ronaldo, Messi e Bruna Marquezine tiveram conteúdos manipulados por IA; Comprova realizou três buscas reversas e achou vídeos originais

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Os jogadores de futebol Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, assim como a atriz Bruna Marquezine, não declararam apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições presidenciais de 2026, ao contrário do que publicaram páginas do TikTok.
As postagens em questão apresentam vídeos manipulados por inteligência artificial, a partir da técnica de deepfake – recurso que utiliza algoritmos para criar imagens e áudios falsos, mas com aparência realista, simulando pessoas fazendo algo que nunca ocorreu –, com o objetivo aparente de estimular o apoio político ao petista.
Outro indício de que os vídeos foram gerados artificialmente é que as falas atribuídas aos dois jogadores, publicadas pelo mesmo perfil, são idênticas na maior parte dos dois conteúdos.
Isso sugere que o criador utilizou comandos muito parecidos para produzir ambos.
O Comprova realizou três buscas reversas, procedimento que consiste em usar um quadro de vídeo para localizar na internet onde aquele conteúdo foi publicado inicialmente, e encontrou os vídeos originais.
O vídeo de Cristiano Ronaldo foi gravado em 2021, quando o português ainda defendia o Manchester United. Na gravação, o jogador agradece pela conquista do prêmio de “Maior Artilheiro de Todos os Tempos”, do Globe Soccer Awards, e lamenta não estar presente na cerimônia de entrega da premiação.
O vídeo original de Bruna Marquezine foi publicado em junho de 2020 no TikTok oficial da atriz.
Nele, Marquezine aparece dublando um meme dela mesma. Também não há nenhuma menção às eleições de 2026.
Durante o período eleitoral de 2022, no podcast “Quem Pode, Pod”, Marquezine chegou a declarar voto no petista ao dizer que não se importava em perder seguidores ou contratos por se posicionar politicamente, gesto que acompanhou fazendo o “L” com uma das mãos.
Entretanto, não há nenhum registro da atriz falando das eleições de 2026.
No caso de Messi, o vídeo mais recente encontrado foi publicado em um shorts do YouTube.
Na gravação, o argentino apenas se apresenta falando “olá, sou Lionel Messi”, em espanhol.
A reportagem buscou por matérias jornalísticas e consultou os perfis oficiais nas redes sociais das três celebridades, mas não achou nada que correspondesse ao que foi apresentado nos vídeos em questão.
Os três vídeos estão identificados como “marcado pelo criador como gerado por IA”.
Eles estão no ar apesar de violarem as regras da plataforma, segundo as quais são “totalmente proibidos” vídeos que utilizam IA para mostrar “uma figura pública quando usada para apoio político ou comercial”.
A plataforma define como figura pública “adultos (com 18 anos ou mais) com um papel público significativo, como um funcionário do governo, um político, um líder empresarial ou uma celebridade”.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
Os três vídeos verificados foram publicados por páginas declaradamente alinhadas ao presidente Lula, que utilizam fotos do presidente nos perfis e descrições com frases como “Apoio ao eterno presidente”, “lula 2026”, “siga para ajudar o lula” e “13 sempre”.
O objetivo aparente é reforçar o apoio político ao petista, usando figuras públicas para atrair engajamento e potencialmente influenciar eleitores.
Juntas, as publicações somam 285 mil visualizações, 40,6 mil curtidas, 4,3 mil comentários, 7,2 mil salvamentos e 3 mil compartilhamentos.
O vídeo com maior alcance foi o do jogador Cristiano Ronaldo, que sozinho registrou 161 mil visualizações, mais da metade do total, e 22 mil curtidas.
Os vídeos de Lionel Messi e Bruna Marquezine também tiveram números expressivos, ultrapassando 49 mil e 75 mil visualizações, respectivamente, ajudando a ampliar a circulação do conteúdo pró-Lula nas redes.
O Comprova entrou em contato com os perfis responsáveis pelas postagens, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Por que as pessoas podem ter acreditado
A tática mais evidente é o uso de deepfakes com celebridades.
Ao colocar declarações falsas na boca de figuras famosas, a publicação se apropria da fama que essas pessoas construíram ao longo de suas carreiras.
O público, que admira e acompanha essas celebridades, tende a transferir essa confiança para a mensagem que elas supostamente estão publicando.
Os roteiros das publicações foram elaborados para criar um vínculo emocional com o público.
Frases como “tenho um carinho enorme pelo país” e “o Brasil merece justiça, humanidade e esperança” exploram sentimentos de patriotismo e empatia.
Ao usar essa linguagem, a publicação cria uma identificação com o público, fazendo com que a mensagem pareça mais sincera e menos partidária.
A publicação não se limita a apresentar uma mensagem; ela ativamente busca engajamento.
A inclusão de chamadas explícitas para curtir e compartilhar é uma tática para impulsionar o alcance da publicação de forma orgânica.
Ao incentivar a interação, o conteúdo se espalha rapidamente pelas redes sociais, atingindo um público muito maior do que se fosse apenas visualizado.
Além disso, os gatilhos políticos diretos, como “Lula 2026” e “força da esquerda”, direcionam a mensagem para um público que é receptivo a essas ideias.
Isso não só reforça a mensagem para quem já concorda, mas também a coloca em um contexto de ação política, incentivando o público a se sentir parte de um movimento.
Fontes que consultamos
Busca reversa através do Google Lens, NotebookLM para transcrição dos vídeos, vídeos publicados em redes sociais, reportagem de veículos jornalísticos e site oficial do TikTok.
Por que o Comprova investigou essa publicação
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.
Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
O Comprova já mostrou que vídeos com IA simulam Janja gastando dinheiro público, manipulam áudio para inventar apoio de Luciano Hang a Lula em 2026 e criam falsas paralisações de caminhoneiros.
A checagem foi publicada em 14 de julho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.
A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio e UOL, e o conteúdo também passou por verificação de Folha de S. Paulo, Correio de Carajás e Estadão.