Tarifas de Trump seguem em vigor; vídeo no X espalha informação desatualizada
Trecho de reportagem publicada em maio circula na rede social como se fosse notícia atual; tarifas foram bloqueadas, mas retornaram logo em seguida

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As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não estão bloqueadas pela justiça norte-americana, ao contrário do que afirma vídeo viral na plataforma X.
A publicação noticia um fato desatualizado ao utilizar um trecho do programa jornalístico Bom Dia Brasil, da Rede Globo, exibido em 29 de maio de 2025.
Na época, o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos bloqueou o tarifaço de Trump, alegando que o presidente extrapolou sua autoridade ao invocar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) para impor tarifas no comércio com quase todos os países do mundo.
No documento, o tribunal concluiu que as ordens tarifárias globais e de retaliação excedem qualquer autoridade concedida ao presidente pela IEEPA para regular a importação por meio de tarifas.
Entretanto, no dia seguinte, a Justiça americana atendeu a um pedido do governo dos Estados Unidos e determinou que as tarifas continuassem valendo enquanto o recurso da Casa Branca contra a suspensão era analisado.
Em 31 de julho, foram ouvidos pela Justiça americana empresários e autoridades estaduais que contestaram o tarifaço.
A decisão pode durar semanas e chegar até a Suprema Corte. Enquanto isso, as tarifas seguem aplicadas.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova?
A publicação foi feita por um perfil verificado na plataforma X, que possui 24,3 mil seguidores.
Na biografia, o perfil se define como “feminista, eclética, ateia, humanista, antifascista, socialista” e traz a frase: “quem não luta por aquilo que acredita é porque não acredita em nada”.
A foto de capa exibe a sigla BRICS, com cada letra acompanhada pela bandeira de um dos países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Em uma das postagens, o perfil relata já ter enfrentado restrições na própria plataforma, ao compartilhar a captura de tela de um aviso do X: “para evitar bloqueios futuros ou suspensão da conta, confira as regras do X”.
Na legenda, escreveu “de novo gente, tá difícil”, sugerindo que esse não teria sido o primeiro episódio de bloqueio.
O perfil tem histórico de publicações alinhadas à esquerda, frequentemente em tom noticioso, com críticas a líderes da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump.
O Comprova não conseguiu entrar em contato com o perfil, pois ele não está configurado para receber mensagens.
Por que as pessoas podem ter acreditado?
A publicação faz uso de autoridade ao inserir um trecho real do Bom Dia Brasil, com imagens e vozes reconhecíveis das jornalistas Ana Luíza Guimarães e Raquel Krähenbühl.
Isso dá uma aparência de legitimidade à informação, mesmo que ela esteja desatualizada.
Em seguida, há o apelo visual e textual com a imagem de Donald Trump acompanhada de uma legenda impactante (“Justiça americana cancela tarifa que o presidente Trump tinha colocado no mundo todo”), apresentada de forma simplificada, o que favorece o entendimento superficial e rápido.
A tática de atualização enganosa também é evidente: a informação foi verdadeira em maio, mas é reapresentada sem contexto temporal, o que pode levar o público a acreditar que o fato é recente.
Essas estratégias tornam o conteúdo convincente para quem não verifica a data da reportagem nem checa fontes oficiais.
Fontes que consultamos
Reportagens sobre as tarifas e documentos oficiais da Justiça dos Estados Unidos.
Por que o Comprova investigou essa publicação?
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.
Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
O Comprova já verificou conteúdos semelhantes envolvendo tarifas e sanções impostas pelos Estados Unidos.
Recentemente, publicou na seção Comprova Explica detalhes das sanções e da Lei Magnitsky e mostrou que o Pix não pode ser taxado pelo governo norte-americano.
- Notas da comunidade: O post não conta com notas da comunidade até o momento da publicação desta verificação.
A checagem foi publicada em 08 de julho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.
A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio, e o conteúdo também passou por verificação de Folha de S. Paulo, Correio de Carajás e Terra.