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Trump não ameaçou enviar tropas contra Alexandre de Moraes

Publicação no TikTok distorceu uso da Lei Magnitsky pelo presidente dos EUA, que não fez qualquer declaração sobre ação militar no Brasil

Por Thiago Seabra Publicado em 13/08/2025 às 13:31

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não ameaçou enviar tropas para prender Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), diferentemente do que afirma post viral no TikTok.

O autor da publicação cita a Lei Magnitsky e diz que o envio de militares seria porque o magistrado brasileiro estaria “violando gravemente a democracia e os direitos humanos”.

De fato, Trump usou a norma contra Moraes, mas em nenhum momento sugeriu publicamente que enviaria militares para o Brasil.

Como o Comprova já mostrou, a Lei Magnitsky está prevista na legislação norte-americana e é aplicada contra estrangeiros acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos.

Trump já relacionou a aplicação da Lei Magnitsky à condução de Moraes de processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores.

No relatório anual do Departamento de Estado, os Estados Unidos disseram que a situação geral dos direitos humanos enfraqueceu sob o governo Lula e acusaram o Judiciário de suprimir o discurso de apoiadores de Bolsonaro.

Da mesma forma, não é verídico que Lula colocou as Forças Armadas brasileiras de prontidão, como afirma o conteúdo investigado.

O presidente brasileiro disse que não deve ligar no momento para Trump porque “ele não fala em negociação”.

“Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Quando minha intuição disser que Trump quer negociar, não terei dúvida de ligar”, disse Lula.

A reportagem pesquisou o tema no Google e não obteve nenhum resultado que confirme as alegações, nem na imprensa nacional nem na internacional.

Também buscou por “Moraes” no site da Casa Branca, e não há nenhum registro de Trump falando sobre enviar militares para o Brasil.

O resultado da pesquisa traz dois links, de 30 de julho deste ano, abordando o mesmo assunto: um é a medida assinada pelo presidente americano impondo tarifas mais altas para o Brasil e o outro é um informativo sobre a medida.

Entre os comentários da publicação, há usuários que demonstram acreditar no conteúdo investigado, incluindo mensagens de apoio a Donald Trump, e declarações de que brasileiros “de bem” estariam ao seu lado.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova?

O perfil, que tinha 139,9 mil seguidores até 12 de julho, se diz uma página de notícias, mas publica diversos conteúdos falsos.

Alguns exemplos, além do post verificado nesta checagem, incluem a afirmação de que o impeachment de Alexandre de Moraes havia sido aprovado e a alegação de que Trump acusou a CIA de se envolver nas eleições brasileiras.

Não há, porém, qualquer registro oficial que confirme as duas alegações.

O vídeo acumulava, até o momento desta publicação, 109 mil curtidas, 14 mil comentários, quase 9 mil salvamentos e 19 mil compartilhamentos, além de 2,5 milhões de visualizações.

O Comprova tentou contatar o dono do perfil, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado?

O vídeo do post, criado com inteligência artificial misturando imagens de Trump e Moraes, começa usando um dos recursos mais frequentes no mundo da desinformação: a palavra “bomba”.

Ao utilizar linguagem alarmista, os desinformadores sabem que têm mais chance de que seus conteúdos sejam disseminados.

Isso porque o tom de urgência aumenta as chances de o espectador não refletir sobre o assunto, pensar se aquilo faz sentido e, assim, aumenta a possibilidade de as pessoas acreditarem no conteúdo.

Outra tática é o uso de autoridades. Quando o autor diz que Trump fez tais ameaças ao vivo, ele tenta dar credibilidade ao conteúdo.

É mais forte dizer que o presidente dos Estados Unidos fez tal declaração do que afirmar “segundo fontes” – embora esta expressão também seja usada por desinformadores.

Fontes que consultamos

Site da Casa Branca e Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação?

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.

Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema

Como informado acima, o Comprova já publicou texto sobre a Lei Magnitsky.

Especificamente sobre posts dizendo que Trump ameaçou enviar tropas para o Brasil, o UOL Confere e o Fato ou Fake, do G1, também desmentiram os conteúdos.

A checagem foi publicada em 12 de agosto de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.

A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio e Folha de S. Paulo, e o conteúdo também passou por verificação de Correio de Carajás, Estadão e Grupo SINOS.

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