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Horror queer pelas ruas do Recife: as obras de Lucas Santana na Bienal PE

Autore não-binário tem se destacado pelas suas obras de horror queer, onde une narrativas de minorias, questões sociais e fantasia

Por Samantha Oliveira Publicado em 30/09/2025 às 18:33

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Quem são os alvos em uma obra de horror? A quem pertencem os gritos e os sustos nos livros e filmes? Foi a partir desse questionamento ao consumir obras do gênero norteamericanas que Lucas Santana quis ser o nome que subverteria essa narrativa tão consolidada.

Acontece que Lucas é um dos nomes expoentes do suspense e horror na literatura brasileira, integrando a lista de mais vendidos do gênero na Amazon, ao lado de autores internacionais e de Raphael Montes - outro escritor consolidado no setor.

A diferença é que, nas obras de Santana, as narrativas são centradas em minorias, e refletem um terror pautado na realidade latinoamericana, como elu explica, em entrevista ao Social1: "Escrevo horror queer: uso um horror que já existe na nossa vivência como pessoas LGBT para extrapolar isso para um elemento fantástico, como uma forma justamente de desnaturalizar essa violência que somos tão acostumados a ver todos os dias nas notícias".

O terror latinoamericano

Reprodução/Instagram
Lucas Santana na Bienal do Livro do Rio de Janeiro - Reprodução/Instagram

As raízes para a escrita de Lucas Santana não surgiram nos fantasmas, contos de assombração de Edgar Allan Poe ou perserguições de um ghostface. Foi a partir da escritora argentina Mariana Henriquez que elu percebeu outra face do terror, que é vivida e presenciada todos os dias por grupos minoritários.

"Ela [Henriquez] escreve terror latinoamericano, usando todas essas assombrações que a gente tem nesse continente: extermínios, colonização, muitas ditaduras, imperialismos. E assim, vi que dava para usar o terror para falar sobre questões sociais da gente, sobre LGBTfobia, racismo, violência contra a mulher", expõe.

Para Lucas, escrever é dar voz a essas pessoas e também devolvê-las o verdadeiro protagonismo das histórias - tudo isso sob um véu de fantasia em um cenário como a cidade do Recife.

Recife como personagem

De João Pessoa, mas vivendo na capital pernambucana, Lucas Santana descreve Recife como um personagem à parte de suas obras. Em Sangue Raro, a história se passa em locais conhecidos dos pernambucanos, do Carnaval da cidade ao Morro da Conceição.

"Encaro isso como uma manifestação da resistência popular. Porque, nas minhas histórias, falo muito sobre a luta contra a opressão, então esse elemento de cultura popular entra aí. Amo usar a cidade como um cenário e como um personagem também", comenta.

Além disso, em sua nova obra, Bruxa de Areia, a trama se passa em Brasília Teimosa, abordando temas conhecidos também na vida real: especulação mobiliária, luta por territórios e questões ambientais. A obra, que possui ilustrações de Lorena Falcão, foi feita a partir da Lei Audir Blanc pela Prefeitura do Recife, ganhará uma sessão de autógrafos na Bienal de Pernambuco.

Bienal do Livro de Pernambuco

Esta é a primeira vez de Lucas Santana como convidade na Bienal do Livro de Pernambuco. O evento tem início nesta sexta-feira (3) e segue até o dia 10 de outubro, com diversos autores confirmados na programação. "Jamais ia imaginar que isso poderia acontecer, porque escrevo história de nicho, bem fora do senso comum, que é o horror e ainda mais LGBT", celebra. "Para mim isso é fantástico, e é muito massa ver autores daqui também".

Na Bienal, Lucas participa no domingo (5) da sessão de autógrafos de 'Bruxa de Areia', no Estande Lavanda Literária. Já na quarta (8), acontece a mesa “Raízes do terror latino-americano; como nossos medos ainda precisam ser explorados na literatura” ao lado de Victor Valeffort, Brenda Evelyn e Apolo Andrade, com mediação de Lucas Barros, no Círculo das Ideias.

A quinta (9) e a sexta (10) também terão a presença do autore no Círculo das Ideias para a mesa “Literatura LGBT+ para além do romance” e na mesa “A nova cara do suspense nacional”, respectivamente. 

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