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Ágnes Souza usa magia da poesia para retratar cotidiano; escritora lança livro na Bienal

Com "Não estou recebendo visitas", que será lançado na XV Bienal do Livro de Pernambuco, a escritora inicia uma nova etapa na carreira

Por Paloma Xavier Publicado em 26/09/2025 às 14:56 | Atualizado em 26/09/2025 às 16:26

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Até o ordinário do dia a dia pode se transformar em arte nas mãos certas. E quando se trata de poesia, a escritora Ágnes Souza sabe fazer isso com maestria. Agora, a pernambucana transforma um processo de luto e detalhes do cotidiano em poemas no seu novo livro "Não estou recebendo visitas", que será lançado na XV Bienal do Livro de Pernambuco.

O lançamento acontece no dia 5 de outubro (primeiro domingo do evento) às 14h no painel Círculo das Ideias, com mediação de Gianni Gianni. A Bienal do Livro de Pernambuco acontece de 3 a 12 de outubro, no Centro de Convenções, em Olinda.

Como tudo começou

Ágnes conta que tem afinidade com a escrita desde a infância: "Sempre fui muito tímida - ainda sou hoje em dia. Na infância eu lia muito e tinha uma mente muito mirabolante, então eu escrevia sempre para os trabalhos da escola e redações. Escrever nunca foi um problema, eu só não mostrava a ninguém. Escrevia e guardava para mim."

A poeta relata que na adolescência mostrou suas produções a poucos amigos, que a incentivaram a publicar. No entanto, na época, não era tão simples publicar livros como atualmente. "Não tinha a facilidade de publicação, não era acessível. Não existiam tantas editoras independentes como agora", pontua.

Publicações

Foi somente no período da faculdade de Letras que Ágnes reuniu seu material para tentar publicar. Submeteu a editais de publicação, mas não obteve sucesso. Em 2016, enviou seu material para uma chamada da Editora Moinhos e teve o conteúdo aprovado: nasceu então o livro "Recordes" e, consequentemente, sua carreira como escritora.

Ágnes descreve os poemas desta obra como "mais embrionários" e curtos. Naquela época, mesmo com um livro publicado, ela revela que não se sentia plenamente poeta ou escritora. Era uma fase em que ela ainda estava buscando sua identidade literária.

Com a publicação de "Pouso", em 2020, Ágnes afirma ter encontrado seu estilo e sua identidade como poeta. Lançada durante a pandemia também pela Editora Moinhos - o que implicou um lançamento virtual por meio de lives -, a obra lhe proporcionou maior visibilidade e um alcance mais amplo.

Os poemas de "Pouso" refletem o cotidiano do Recife, especialmente do bairro da Boa Vista, onde ela morava na época. Suas experiências andando de bicicleta, a circulação de pessoas e a vida noturna foram fontes de inspiração.

Não estou recebendo visitas

Seu terceiro livro, "Não estou recebendo visitas", marca uma nova etapa, com lançamento agendado para a Bienal do Livro de Pernambuco. Escrito ao longo de cinco anos, o livro atravessa períodos marcantes como a pandemia e a perda de seu pai. A obra é dividida em quatro partes e aborda, entre outros temas, o processo de luto e o "recalcular a rota" após uma grande perda, misturando passado, presente e futuro.

Jailton Jr./JC Imagem
Em 'Não estou recebendo visitas', Ágnes explora um processo de luto e a vida cotidiana além da perda - Jailton Jr./JC Imagem

“Passei 5 anos escrevendo esse livro, então foi um processo que envolveu muitos acontecimentos. Teve a pandemia, teve a perda do meu pai, teve muitas mudanças na minha vida pessoal e profissional, além do meu entendimento enquanto estar no mundo também”, conta a autora.

"Não estou recebendo visitas" será lançado no dia 5 de outubro (primeiro domingo do evento) às 14h no painel Círculo das Ideias, com mediação de Gianni Gianni.

Processo de escrita e inspirações

Ágnes descreve seu processo de escrita como algo que não segue um passo a passo fixo ou um método predefinido. Ela diz que a inspiração para seus poemas vem de observações do cotidiano e que prefere anotar no papel as ideias para os poemas. "Não tem uma motivação maior ou um processo que me faça sentar e escrever. É muito orgânico, é do despertar do interesse mesmo", resume.

Durante o mestrado e doutorado, a poeta se interessou ainda mais pela escrita de autoria feminina, tornando, inclusive, a pauta como objeto de pesquisa do doutorado. “Eu via coisas que eram possíveis, que eu poderia ter escrito, que eu poderia combinar com algo que eu gostaria de escrever e continuo escrevendo”, conta.

A escritora revela quais autoras influenciam a sua escrita e também foram estudadas durante o doutorado: Marília Garcia, Adelaide Ivánova, Ana Martins Marques, Angélica Freitas e Tatiana Nascimento. "São escritoras que se qualquer pessoa me pedir indicação, eu vou indicar. Independente de idade, gênero ou raça. Eu indicaria porque é uma literatura que eu acredito muito, que me atravessa e me incentiva a escrever."

Pedro Pinho/Divulgação, Rodrigo Valente de Noronha/Divulgação e Reprodução/Instagram/@tatiananascivento
Adelaide Ivánova, Ana Maria Marques e Tatiana Nascimento são algumas das escritoras que inspiram Ágnes Souza - Pedro Pinho/Divulgação, Rodrigo Valente de Noronha/Divulgação e Reprodução/Instagram/@tatiananascivento

Ágnes também celebra a ampliação do debate sobre a literatura LGBTQIAPN+ e a existência de coletâneas voltadas para esse tipo de conteúdo. "Se a gente pensar, 10, 15 anos atrás, isso não tinha tanto espaço", compara.

A autora também menciona a escritora Natália Borges Polesso para ilustrar sua contribuição para a literatura LGBTQIAPN+: "Eu contribuo do jeito que eu posso. Natália diz que não tem como não escrever uma literatura de autoria lésbica, se é ela quem está escrevendo. A temática surge porque ela está falando das vivências dela. Eu parto desse princípio também. Eu falo das minhas vivências."

Escrita como principal ofício

Hoje, Ágnes classifica como trabalho principal “ser professora”, mas gostaria de ter a escrita como principal ofício. “Pelo meu contexto, eu ainda não poderia dizer que escritora é a minha profissão principal. Eu gosto de ministrar cursos, de conversar com as pessoas sobre isso, mas infelizmente isso ainda está longe de ser a minha renda principal. Eu gostaria muito que ser escritora fosse a minha principal atividade.”

Além disso, ela ressalta que a dificuldade de circulação é um problema persistente, especialmente para autores de fora do eixo Sul-Sudeste - e que suas primeiras obras, inclusive, foram feitas por uma editora do Sudeste. Ágnes também relata que muitos convites para eventos não oferecem retorno financeiro, o que dificulta a divulgação do trabalho e o reconhecimento da escrita como profissão.

“Mesmo com o lançamento do segundo livro, que teve um alcance maior, os comentários que eu recebia eram do tipo: ‘Ah, que bom que você escreve, gostei’. Não passava de um elogio. E quando tinha convite era para trabalhar de graça ou no eixo. Quando você não tem um incentivo financeiro e pessoas que reconhecem sua escrita como profissão, dificulta muito a circulação”, destaca.

A XV Bienal do Livro de Pernambuco será a terceira que ela participa na programação, desta vez com o lançamento do livro. “Eu vou para a Bienal desde pequena, mas de um tempo para cá tenho recebido convites para participar. Minha expectativa está bem alta porque as pessoas têm vindo falar comigo, que vão para o evento e que vão comprar meu livro. E assim que você lança o livro é muito importante que ele tenha uma uma adesão. Eu tô bem otimista”, finaliza a autora.

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