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Ataques cardíacos, desmaios e quedas: os perigos surpreendentes do fazer cocô

Esforço excessivo no banheiro pode desencadear problemas sérios como desmaios, quedas e até ataques cardíacos, alertam especialistas.

Por Bianca Tavares Publicado em 11/07/2025 às 11:09

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O banheiro, aquele espaço aparentemente comum e discreto, pode esconder riscos sérios para a saúde — e até ser palco de mortes inesperadas ao longo da história.

O que faz do menor cômodo da casa um lugar potencialmente perigoso?

A manobra de Valsalva e seus efeitos no coração

A resposta está no chamado “manobra de Valsalva” — o ato de expirar com força contra as vias aéreas fechadas, como acontece quando se faz força para evacuar. Essa ação aumenta a pressão no tórax e reduz o retorno do sangue ao coração.

Para a maioria das pessoas, isso não representa perigo. Mas para quem tem problemas cardíacos, esse esforço pode desencadear o que é chamado de “síncope defecatória” — um desmaio causado pelo esforço intestinal —, arritmias cardíacas e até morte súbita.

A professora Michelle Spear, da Universidade de Bristol, explica que "o nervo vago desempenha um papel fundamental nesse processo. Ele ajuda a controlar o ritmo cardíaco e, quando estimulado em excesso pelo esforço intenso ou pela pressão no reto, pode causar bradicardia — uma desaceleração perigosa do coração —, queda da pressão arterial e perda de consciência". Para pessoas com condições cardíacas, o momento de evacuar pode ser mais arriscado do que imaginamos.

Casos históricos que alertam para os riscos

Dois casos famosos ilustram esses perigos:

Elvis Presley, aos 42 anos, foi encontrado morto no banheiro de sua casa. "Embora muitos especulem sobre overdose, o laudo aponta uma combinação complexa de fatores, incluindo constipação crônica, uso prolongado de opioides e uma condição chamada megacólon, que podem ter levado a uma arritmia fatal durante a manobra de Valsalva", aponta Spear.

Já o rei George II, da Grã-Bretanha, morreu em 1760 após uma visita ao banheiro. Uma autópsia revelou que ele sofreu a ruptura de um aneurisma da aorta torácica, uma grave condição agravada pelo esforço intestinal e pela doença cardíaca já existente.

Perigos históricos de quedas e afogamentos

Além dos riscos cardiovasculares, a história traz um alerta sobre quedas e afogamentos em fossas e latrinas precárias, comuns antes da instalação dos sistemas modernos de esgoto. Pessoas, especialmente crianças e idosos, podiam cair e morrer afogadas em fossas sépticas.

"Esses acidentes trágicos impulsionaram reformas sanitárias no século XIX, que culminaram no saneamento básico moderno que conhecemos hoje", conta a especialista.

Novos riscos modernos: o celular no banheiro e a postura incorreta

Nos tempos atuais, novos perigos surgem com hábitos como levar o celular para o banheiro, aumentando o tempo sentado. Isso pode causar aumento da pressão nas veias do reto, elevando o risco de hemorróidas e fissuras anais. Além disso, os aparelhos podem carregar bactérias nocivas, como E. coli, mesmo após a lavagem das mãos.

Outro ponto importante é a postura na hora de evacuar. O vaso sanitário ocidental, ao contrário do agachamento usado em várias culturas, coloca o reto em um ângulo menos favorável, dificultando a evacuação e estimulando o esforço. "Por isso, algumas pessoas usam banquinhos para simular a posição de cócoras e facilitar o processo", aconselha Michelle Spear.

Sendo assim, o banheiro não é apenas um espaço íntimo e rotineiro — é onde a anatomia humana, hábitos e riscos de saúde se cruzam, às vezes com consequências sérias. Então, da próxima vez que for ao banheiro, "pense duas vezes antes de se acomodar com o celular, sente-se de forma inteligente e evite fazer esforço desnecessário", recomenda a especialista.

Afinal, mesmo no menor cômodo da casa, o corpo pode estar lidando com desafios maiores do que imaginamos.

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