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Polarização em Pernambuco "não é ideológica" como a nacional, apontam especialistas na Rádio Jornal

Em debate, cientistas políticos diferenciaram embate local da disputa nacional, que veem como "radicalizada" e movida por pautas de costume

Por Pedro Beija Publicado em 06/11/2025 às 19:28

Enquanto o Brasil assiste a um acirramento radicalizado e contínuo entre esquerda e direita, a disputa política em Pernambuco, embora polarizada entre dois nomes fortes, segue uma lógica diferente, com a eventual disputa entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife João Campos (PSB), em 2026. 

No debate da Super Manhã desta sexta-feira (6), na Rádio Jornal, especialistas avaliaram que o embate local não reflete o confronto ideológico nacional, sendo pautado por outras dinâmicas, como a atração de prefeitos e os efeitos das gestões.

O debate reuniu o cientista político e ex-vereador André Regis; o cientista político, advogado e especialista em direito eleitoral Felipe Ferreira Lima; e o sociólogo e pesquisador Maurício Garcia.

O ponto central da análise foi trazido pelo cientista político André Regis, que destacou a ausência de um confronto ideológico clássico na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas.

"Aqui em Pernambuco [...] não há uma polarização entre os dois principais candidatos do ponto de vista ideológico. Isso é uma coisa interessante, você não tem um candidato de direita e um de esquerda", afirmou Regis.

Essa dinâmica estadual contrasta com o cenário nacional, que, segundo o sociólogo Maurício Garcia, se "radicalizou", deixando para trás a disputa "civilizada" de décadas passadas. André Regis complementou que a polarização brasileira atual é potencializada pelas redes sociais e movida por "pautas identitárias" e de costume, o que gera o acirramento que tem "tirado a razão" do debate, como pontuou o apresentador Tony Araújo.

Pesquisas pré-2026 e "retrato do momento" eleitoral em Pernambuco

Sem a clivagem ideológica nacional, a disputa em Pernambuco se desenha no campo da gestão e da articulação. O sociólogo Maurício Garcia, que tem experiência em pesquisas eleitorais, analisou os números atuais como um "retrato do momento" que coloca "numericamente João Campos como um candidato favorito".

Contudo, Garcia ressalta que as mesmas pesquisas, incluindo as qualitativas, mostram "um crescimento, de uma estabilização maior, uma diminuição da diferença de Raquel para João". A conclusão do sociólogo é que a disputa está aberta. 

Maurício Garcia também enfatizou que é "muito pouco provável que um terceiro nome apareça" com viabilidade.

"Hoje João de fato é favorito, mas a potencialidade de Raquel diminuir essa diferença é grande. Então vai ter jogo, vai ter uma disputa acirrada no ano que vem, ao que tudo indica", analisou.

Já as redes sociais, embora muito usadas e cada vez mais sugeridas como estratégia eleitoral, também foram vistas com ponderação.

Maurício Garcia citou João Campos como um exemplo de quem "sabe trabalhar muito bem essa questão", mas André Regis contrapôs que as redes "não são o determinante" para uma vitória eleitoral. Para o cientista político e ex-vereador, a maioria dos parlamentares no Congresso ainda é eleita pelo "voto de transferência" tradicional, via prefeitos e vereadores, e "simplesmente não existe no mundo digital".

Disputa para o Senado em Pernambuco: "eleição satélite de Governador"

O cientista político Felipe Ferreira Lima definiu a corrida pelas duas vagas ao Senado como a "eleição satélite de Governador". Segundo ele, como o quadro para o governo está afunilado, "é natural que a disputa para encaixar as alianças seja para a eleição de Senador e também a vaga de vice".

André Regis também citou as "coincidências" nas eleições em Pernambuco, onde o governador eleito geralmente estava em consonância com a eleição para presidente da República, mas que também se aplicam para as consonâncias das eleições para governador e senador no Estado.

O ex-vereador e cientista político lembrou que foram "raros casos" onde as eleições para Governo e Senado não tiveram sintonia, citando os casos de Carlos Wilson em 1994 (Miguel Arraes foi o governador eleito) e Teresa Leitão em 2022 (Raquel Lyra foi a governadora eleita).

André lembrou das eleições de 1986, como exemplo "clássico" da sintonia entre as eleições para Governo e Senado em Pernambuco, quando Miguel Arraes foi eleito governador pelo PMDB e elegeu dois senadores, Mansueto de Lavor e Antônio Farias, desbancando o favorito Roberto Magalhães, à época governador do Estado. 

Pesquisas como "polo de atração de prefeitos"

Quando a ideologia não é o fator decisivo - como no caso pernambucano, a "política real" se torna protagonista, com seus arranjos e dinâmicas.

André Regis explicou que as pesquisas de intenção de voto funcionam como um "polo de atração de prefeitos" e que esses gestores buscarão se aliar a quem tiver maior perspectiva de vitória, com uma movimentação intensa no início do ano eleitoral.

"Então quando virar janeiro, fevereiro, vai haver ali muita movimentação. [...] Muita gente muda de lado ou se decide em decorrência da perspectiva de vitória", detalhou Regis.

Nesse contexto, Maurício Garcia fez um alerta grave sobre a credibilidade de alguns levantamentos, denunciando a existência de "pesquisa fabricada, inventada".


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