Governo foi otimista demais com Orçamento de 2026 e receitas podem não se concretizar, diz especialista
Em entrevista na Rádio Jornal, Marcus Pestana alerta que governo superestima PIB e inflação no Orçamento; reforma fiscal será inevitável em 2027

O diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Marcus Pestana, afirmou nesta sexta-feira (19), em entrevista à Rádio Jornal, que o governo foi “otimista demais” ao elaborar o Orçamento de 2026. Segundo ele, as projeções oficiais superestimam o crescimento econômico e subestimam a inflação, o que pode comprometer a execução das contas públicas.
“O orçamento de 26 está realmente muito infiltrado de excesso de otimismo. O PIB que a IFI projeta é de 1,7%, enquanto o governo trabalha com 2,4%. Na inflação, projetamos 4,5% e o governo colocou 3,6%. Só esses dois elementos já desbalanceiam os números”, explicou Pestana.
Cinco sintomas da crise
O economista comparou a situação fiscal do país a uma “crise surda”, caracterizada por deterioração lenta e progressiva, e apontou cinco sintomas. “Não é um infarto, é uma deterioração lenta da saúde fiscal do Brasil”, afirmou.
São eles:
- Rigidez orçamentária inédita;
- Déficits recorrentes desde 2014;
- Crescimento acelerado da dívida pública;
- Baixo nível de investimento;
- Perda de credibilidade fiscal.
De acordo com Pestana, a margem de manobra do próximo presidente será praticamente nula em 2027, já que quase 100% do orçamento estará comprometido com despesas obrigatórias, como Previdência, Bolsa Família, BPC, seguro-desemprego, precatórios e repasses aos demais poderes.
“O governo terá pouco espaço para investimentos em infraestrutura, educação e ciência e tecnologia, que são decisivos para transformar o país”, destacou.
Juros altos e as contas públicas
Ele ressaltou ainda que os juros altos são consequência do descontrole das contas públicas. “Como o governo gasta mais do que arrecada, precisa recorrer ao mercado para vender títulos. Quanto maior o risco, maior o preço do dinheiro. Se o governo quer fugir dos juros, tem que ajustar suas contas”, disse.
Para o diretor da IFI, uma profunda reforma fiscal será inevitável a partir de 2027, independentemente de quem ocupar a Presidência. “Seja qual for o presidente da República, inevitavelmente vai ter que fazer uma reforma nas finanças públicas”, concluiu.