No Recife, José Dirceu diz que "desafio principal é a reeleição de Lula em 2026"
Ex-ministro afirmou que "elite" escolheu Tarcísio e enfatizou que a esquerda deve priorizar a reeleição de Lula e a retomada do projeto nacional

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O ex-ministro José Dirceu (PT) defendeu, nesta segunda-feira (25), que a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026 deve ser prioridade para os setores "progressistas e democráticos" do País.
A declaração foi feita no ciclo de debates “Conjuntura desafiadora às forças progressistas e democráticas”, realizado na Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP/UPE), no Recife, e promovido pelo PCdoB e pela Fundação Maurício Grabois.
O evento reuniu lideranças nacionais e estaduais. Estiveram presentes o deputado federal Pedro Campos (PSB-PE), a vereadora recifense Cida Pedrosa (PCdoB) e a presidente estadual do PCdoB, Thiara Milhomem. A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdo B), participou remotamente. E a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MBDB), enviou mensagem em vídeo.
Disputa política e reeleição de Lula
Na avaliação de Dirceu, as forças progressistas enfrentaram um ciclo de repressão entre 2013 e 2019, enquanto a direita ocupou espaços de disputa político-cultural, inclusive na classe trabalhadora.
Para ele, é preciso recuperar terreno e consolidar o projeto iniciado em 2003. “A classe trabalhadora já votou no malufismo, no janismo, no ademarismo. Mas ela votou, principalmente, conosco (PT). Então há uma disputa político-cultural. E há quase que uma reconstrução dos nossos partidos e organizações, mas, ao mesmo tempo, há que garantir que o Lula se reeleja”, disse.
Dirceu foi enfático ao apontar a centralidade de 2026 para o futuro da esquerda no Brasil. Para o ex-ministro, a prioridade é a reeleição de Lula e avanço das esquerdas na Câmara e no Senado.
“O desafio principal é a reeleição do Lula em 26 e o avanço na Câmara e no Senado. Para ver se nós conseguimos avançar ainda mais na defesa da Constituição de 1988, na defesa do Estado de bem-estar social que ela tem e na criação de condições políticas e econômicas para nós mudarmos e retomarmos esse fio da história, e avançarmos num projeto de desenvolvimento nacional”, concluiu.
Dirceu aponta Tarcísio como nova liderança de direita
Em discurso de mais de 30 minutos, Dirceu fez uma análise da trajetória política e econômica brasileira desde a redemocratização. Para ele, a "elite nacional" foi responsável por desmontar um pacto que existia em torno de um projeto de desenvolvimento.
“O que a elite brasileira fez desde a redemocratização? Destruiu o pacto nacional ao privatizar, desconstituir os bancos públicos, vender as estatais e depois romper o pacto político”, disse.
Segundo Dirceu, esse processo começou com os governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, quando o que enquadrou como neoliberalismo passou a orientar a economia nacional, e seguiu, ainda segundo ele, com Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), em reformas e cortes que fragilizaram direitos sociais. O ex-ministro avaliou que hoje a "elite" busca um novo nome para liderar a direita.
“Eles sabem que o Bolsonaro não será candidato e, se for, será derrotado. Buscam uma alternativa. O que propõem é privatizar a Petrobrás e os bancos públicos, desvincular o salário mínimo, tirar o piso da saúde e da educação e privatizar a Previdência. Ou seja, romper o pacto social”, apontou, citando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como aposta da oposição.
Lembrou, ainda, do período em que foi preso: "Construir um projeto para o Brasil que retome esse fio da história. [...] Existe um problema político, que nós passamos 10 anos reprimidos. Eu passei esse período reprimido também, na prisão ou com tornozeleira. De 2013 a 2019, só tive um ano em liberdade. E eles (da direita) tiveram liberdade para ocupar os territórios, para ganhar a disputa político-cultural em amplos setores da classe trabalhadora".
Dirceu recuperou os direitos políticos após o Supremo Tribunal Federal (STF) anular processos em que foi condenado envolvendo casos a partir de 2009.
Brasil no cenário internacional
Dirceu também fez referência ao papel do Brasil no cenário mundial. Para ele, o País segue sendo alvo de pressões externas devido ao seu potencial econômico e geopolítico.
“O problema dos Estados Unidos é que o Brasil é um dos poucos países do mundo que pode fazer o que a China fez em 10 anos. Porque nós saímos de uma base muito superior”, argumentou.
Ele lembrou que, nas décadas de 1970 e 1980, países como China e Índia estudavam o modelo brasileiro de industrialização e instituições como o BNDE, o antigo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, que depois se tornou o atual BNDES.
“Estamos vendo a regressão que o Brasil sofreu nesses 30 anos", lamentou. "Discuto isso em termos do capitalismo, não estou falando que vamos fazer uma revolução socialista. Eu tenho usado muito a expressão 'revolução social'”, compelementou.
O pré-sal como oportunidade perdida
Ao citar a descoberta do pré-sal, o ex-ministro destacou que se abriu uma “janela histórica” para o Brasil realizar uma “revolução social”, nos moldes de países que se apropriaram da renda do petróleo para impulsionar infraestrutura, tecnologia e redução da pobreza.
"Países como a Noruega se apoderaram da renda do petróleo e transformaram essa riqueza em um bem nacional, para uso na revolução da infraestrutura e da tecnologia, e também para acabar com a pobreza. A Noruega era um país pobre, miserável, depois da segunda guerra mundial", disse.
De acordo com Dirceu, a Operação Lava-Jato foi quem travou o avanço oriundo da apropriação da renda do petróleo, "destruindo a engenharia nacional".
“Quando nos apropriamos da renda do petróleo, criamos a partilha e o fundo soberano. Quando passamos a ser exportador de serviço, com a construção de termoelétricas, hidroelétricas, ferrovias em outros países, veio a Lava Jato. Desconstituiu a Petrobrás, destruiu a engenharia nacional e a indústria de exportação de serviços do Brasil. E nós perdemos a renda do petróleo”, avaliou.
"E cometemos, na minha visão, é duro falar isso, um erro de distribuir para estados e municípios R$ 90 bilhões todos os anos, quando esse dinheiro devia ser usado centralmente, nacionalmente, para a revolução da infraestrutura e da tecnologia", complementou.