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Pernambuco desperdiça água suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas, aponta estudo

Recife figura entre as capitais com pior desempenho, com perda diária de quase 83 piscinas olímpicas de água tratada antes que ela chegue às torneiras

Por Laís Nascimento Publicado em 26/11/2025 às 15:55 | Atualizado em 26/11/2025 às 15:59

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Mais de 2 milhões de pernambucanos poderiam ser abastecidos com água tratada caso o estado reduzisse os atuais índices de perdas no sistema de distribuição. Só em 2023, o estado perdeu diariamente 441 piscinas olímpicas de água, o equivalente a 1,4 milhão caixas d’água.

Os números são do Estudo de Perdas de Água 2025: Desafios na Eficiência do Saneamento Básico no Brasil, divulgado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a GO Associados, com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Sinisa 2023).

Segundo o levantamento, 41% da água tratada em Pernambuco se perde ao longo da distribuição. O índice acompanha o cenário nacional: no Brasil, as perdas em 2023 foram de cerca de 40%, cerca de 25 pontos percentuais acima da média dos países desenvolvidos, que foi de 15%.

De acordo com o Instituto, o problema pode ocorrer por vários motivos, como vazamentos, erros de medição e consumos não autorizados.

A Portaria 490/2021, do Ministério do Desenvolvimento Regional, estabelece que no Brasil, municípios com desempenho considerado “excelente” devem registrar no máximo 25% de perdas.

Nenhum dos municípios mais populosos de Pernambuco - Recife, Jaboatão, Petrolina, Caruaru, Olinda e Paulista - atingiu a meta.

“Esses desperdícios trazem impactos negativos ao meio ambiente, à receita e aos custos de produção das empresas, o que deixa mais caro o sistema como um todo, prejudicando, em última instância, todos os usuários”, destaca o texto.

O que diz a Compesa

Em nota, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) informou que o combate às perdas de água é uma prioridade da empresa e que tem intensificado ações para modernizar a operação e aumentar a eficiência do abastecimento.

A Compesa esclareceu, ainda, que houve um reforço com novos modelos de contratos que “incorporam tecnologias avançadas, como georadar e pesquisa ativa (varredura de rede), fundamentais para identificar e reparar vazamentos não visíveis”.

O novo contrato de manutenção, com investimento de R$ 369 milhões ao longo de cinco anos, aponta que o tempo médio para conclusão de reparos, desde a identificação da ocorrência até a recomposição do pavimento, é de quatro dias. Além dele, a empresa destacou outros dois contratos que implantaram e substituíram 88 km de redes na RMR e no município de Goiana ao longo de 2024 e 2025.

“Outra frente essencial é o Contrato de Performance focado exclusivamente no combate às perdas de água, que soma mais de R$ 50 milhões em investimentos”, pontua a Companhia. Entre janeiro de 2024 e novembro de 2025, foram atendidas 177.558 ocorrências de vazamentos em todo o Estado.

Em setembro, o Governo de Pernambuco publicou o edital de concessão parcial da Compesa, com previsão de atrair R$ 19 bilhões em investimentos em saneamento. A abertura das propostas está prevista para acontecer no dia 11 de dezembro e o leilão em 18 de dezembro, na B3, em São Paulo.

Recife tem um dos piores índices de perda de água do Brasil

Foto: Agência Brasil/EBC
Recife perde diariamente quase 83 piscinas olímpicas de água tratada antes que ela chegue às torneiras - Foto: Agência Brasil/EBC

O Recife figura entre as capitais com pior desempenho. A cidade perde diariamente quase 83 piscinas olímpicas de água tratada antes que ela chegue às torneiras. O número é equivalente a cerca de 276 mil caixas d’água, quantidade que atenderia quase 430 mil pessoas.

A capital também registra um dos piores índices de perdas por ligação, com 878 litros por dia desperdiçados. As perdas por ligação são referentes à água tratada perdida por cada ligação de água ativa na rede de distribuição.

Para a presidente executiva do Trata Brasil, Luana Pretto, os números mostram que o país ainda avança lentamente, enquanto milhões de brasileiros continuam sem acesso regular e de qualidade à água potável, fundamental para uma “vida digna”.

“Investir na redução de perdas de água e na modernização da infraestrutura hídrica não é apenas necessário, mas urgente, tanto para mitigar os efeitos das mudanças climáticas quanto para assegurar o uso sustentável de nossos recursos naturais”, analisa Luana.

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