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Nordeste desperdiça quase metade da água potável produzida diariamente

No Brasil, são perdidas mais de 6 mil piscinas olímpicas de água tratada por dia, decorrente de vazamentos, erros de medição ou consumo não autorizado

Por Agência Brasil Publicado em 26/11/2025 às 10:18

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O Brasil desperdiça todos os dias o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas de água tratada antes que ela chegue às torneiras, segundo o Estudo de Perdas de Água 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a GO Associados.

O levantamento, baseado em dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SINISA, base 2023), aponta que o país perdeu 5,8 bilhões de metros cúbicos de água tratada em um ano, volume suficiente para abastecer cerca de 50 milhões de pessoas.

As perdas totais correspondem a 40,31% da água produzida, índice superior à meta de 25% estabelecida pela Portaria 490/2021 do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Discrepâncias regionais

As regiões Norte e Nordeste lideram o desperdício de água tratada no país, com índices muito acima da média nacional. No Norte, a perda chega a 49,78%, enquanto no Nordeste o índice é de 46,25%, mostrando um cenário crítico especialmente em estados com menor capacidade de investimento e infraestrutura precária.

Entre os estados mais afetados estão Alagoas, onde 69,86% da água distribuída é desperdiçada, Roraima, com 62,51%, e Acre, com 62,25%. Nesses locais, mais da metade da água tratada não chega às torneiras, evidenciando a fragilidade do sistema de abastecimento e o impacto social do desperdício.

Em contraste, estados de outras regiões do país apresentam índices mais baixos. Goiás (25,68%), Distrito Federal (31,46%) e São Paulo (32,66%) registram as melhores marcas, próximas ou abaixo da meta estabelecida de 25%, mostrando maior eficiência na gestão da água.

Impacto social

Perda de água é considerada qualquer desperdício decorrente de vazamentos, erros de medição ou consumo não autorizado.

Apenas as perdas físicas — principalmente vazamentos — ultrapassam 3 bilhões de metros cúbicos por ano, volume suficiente para abastecer 17,2 milhões de pessoas em comunidades vulneráveis por quase dois anos.

O desperdício também acarreta custos adicionais ao sistema, incluindo gastos com produtos químicos, energia, manutenção e uso excessivo da infraestrutura, além da necessidade de captar água de mananciais já pressionados pelas mudanças climáticas.

Consequências ambientais

O estudo destaca que captar mais água do que o necessário aumenta a pressão sobre rios, reduz a disponibilidade hídrica e eleva os custos de mitigação ambiental.

Em um país afetado por secas prolongadas, calor extremo e mudanças no regime de chuvas, o cenário tende a piorar. Cerca de 34 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água tratada.

"Ainda vemos um progresso tímido nos índices de redução de perdas de água, enquanto milhões de brasileiros continuam sem acesso regular e de qualidade à água potável, fundamental para uma vida digna. Perdemos diariamente mais de 6,3 mil piscinas de água potável, um exemplo alarmante de ineficiência", afirma Luana Pretto, presidente-executiva do Trata Brasil.

"Eventos como secas intensas, alterações nas chuvas e calor extremo têm agravado a escassez hídrica, afetando nossos rios e desafiando a capacidade do país em garantir o fornecimento de água para todos. Investir na redução de perdas e na modernização da infraestrutura não é apenas necessário, mas urgente", complementa.

Estratégia de adaptação climática

Segundo o estudo, os piores indicadores estão em regiões com menor capacidade de investimento e maior vulnerabilidade institucional. Reduzir perdas é também uma estratégia de adaptação às mudanças climáticas, tema debatido na 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Se o país conseguisse reduzir o índice de perdas para os 25% previstos pela regulação, seriam economizados 1,9 bilhão de metros cúbicos de água — suficiente para abastecer 31 milhões de pessoas por um ano.

O ganho econômico estimado até 2033 é de R$ 17 bilhões, além de aumentar a resiliência dos municípios e ampliar a oferta de água frente às mudanças climáticas.

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