Estudante da UFRPE faz descoberta inédita mundial sobre comportamento reprodutivo de pererecas macho em Pernambuco
Interação ocorreu em São Lourenço da Mata e reforça a necessidade de preservar a Mata Atlântica diante dos impactos humanos atuais

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Um caso inédito no mundo foi registrado em São Lourenço da Mata, em Pernambuco, dois machos de espécies diferentes de pererecas, Boana albomarginata e Boana raniceps, foram observados em tentativa de cópula.
O episódio surpreendeu os cientistas por trazer a primeira descrição desse comportamento entre essas espécies, além de revelar variações acústicas ainda não documentadas.
O registro
O registro, publicado em julho de 2025 na Open Access Library Journal, foi conduzido por João Cunegundes, estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRPE, junto a outros pesquisadores do Laboratório de Estudos Herpetológicos e Paleoherpetológicos (LEHP) da universidade.
Durante a interação, um dos machos emitiu um chamado de soltura, vocalização usada para interromper contatos indesejados, como a aproximação de predadores ou de outros indivíduos.
A análise revelou características acústicas distintas das já registradas no Cerrado, sugerindo que o isolamento geográfico pode estar influenciando a comunicação dessas populações.
“A gente ficou surpreso porque essas relações interespecíficas não são tão comuns. E a gente encontrou o animal vocalizando, fazendo canto de soltura por conta do amplexo, que é um abraço de acasalamento. Depois percebemos que eram dois machos, pela presença do saco vocal. É a primeira vez que isso é documentado no mundo entre dois machos dessas espécies”, explica João Cunegundes.
Repertório acústico
Segundo o artigo publicado, o episódio reforça como interações inesperadas entre machos podem oferecer pistas sobre a diversidade e evolução dos anfíbios.
Além disso, o estudo amplia a compreensão sobre o repertório acústico do animal e pode contribuir para a identificação e conservação do grupo.
O estudante comenta que o registro é importante para compreender as relações interespecíficas dessas espécies na Mata Atlântica.
Ele ressalta que tais interações podem estar relacionadas a processos de antropização, ou seja, à modificação e transformação do ambiente pela ação humana.
Nesse contexto, alerta que “precisamos preservar o meio ambiente para que a ecologia reprodutiva desses animais respeite sua fisiologia e a perpetuação da espécie continue”, afirma.
O trabalho reforça o papel de Pernambuco como um território-chave para a biodiversidade brasileira e mostra que ainda há muito a descobrir sobre o comportamento reprodutivo dos animais ao redor do mundo.