Artigo | Notícia

Luciano Albuquerque: O futuro do cuidar já chegou

A mudança não é futura — está em curso agora. E seus impactos já podem ser medidos em precisão, eficiência e na qualidade da experiência do paciente

Por Luciano Albuquerque Publicado em 05/12/2025 às 9:30 | Atualizado em 05/12/2025 às 16:20

Clique aqui e escute a matéria

A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma perspectiva distante para se tornar uma ferramenta presente no dia a dia dos cuidados de saúde. De hospitais a consultórios, passando por serviços de triagem e centros de diagnóstico, tecnologias baseadas em algoritmos já otimizam a capacidade dos profissionais, agilizam processos e tornam o cuidado mais seguro. A mudança não é futura — está em curso agora. E seus impactos já podem ser medidos em precisão, eficiência e, sobretudo, na qualidade da experiência do paciente.

Entre as aplicações mais consolidadas está o uso da IA na análise de imagens médicas. Softwares capazes de detectar nódulos pulmonares, identificar fraturas em radiografias ou reconhecer hemorragias cerebrais em tomografias atuam como um “segundo olhar” altamente treinado. Em mamografias, sistemas de detecção auxiliam no rastreamento precoce do câncer de mama, reduzindo a chance de lesões passarem despercebidas. Na oftalmologia, algoritmos já fazem triagem de retinopatia diabética em poucos segundos, ampliando o acesso ao diagnóstico em regiões com poucos especialistas.

Outra frente consolidada é o apoio à decisão clínica. Plataformas integradas a prontuários eletrônicos analisam sinais vitais, histórico médico e resultados laboratoriais para alertar equipes sobre riscos iminentes — como sepse, insuficiência respiratória ou descompensações cardíacas — mesmo antes que sejam evidentes ao olho humano. Modelos preditivos também ajudam a estimar risco de readmissão hospitalar, guiar ajuste de medicações e selecionar exames que realmente trarão benefício.

As ferramentas de processamento de linguagem natural, como modelos avançados de IA generativa, estão rapidamente se tornando parte da rotina. Elas auxiliam na redação de prontuários, na criação de relatórios, na tradução clínica e na síntese de informações mais extensas, como diretrizes terapêuticas. Em consultas, sistemas de conversão de voz em texto permitem que o profissional mantenha a atenção no paciente, enquanto a IA organiza a documentação em tempo real.

O uso de chatbots inteligentes também cresce na triagem inicial e no atendimento digital. Eles orientam pacientes sobre sintomas, priorizam a urgência, oferecem educação em saúde e reduzem o volume de atendimentos simples, liberando equipes para demandas mais complexas. Já no monitoramento remoto, dispositivos conectados a algoritmos avaliam padrões de glicemia, frequência cardíaca, sono e atividade física, orientando usuários e enviando alertas precoces a profissionais ou familiares.

A mensagem principal é que a IA não substitui o trabalho humano — ela o amplifica. Ao automatizar tarefas repetitivas, reduzir erros, antecipar riscos e melhorar o acesso à informação, essas ferramentas devolvem ao profissional aquilo que nunca deveria ter sido perdido: tempo para olhar nos olhos, ouvir histórias e oferecer cuidado genuinamente humano. Se o futuro da saúde é tecnológico, ele também é, paradoxalmente, mais humano — e já começou.

Luciano Albuquerque é médico endocrinologista, editor do Afya Endocrinopapers e mestre em Neurociências

Compartilhe

Tags