Saúde e IA em foco: SJCC reúne especialistas para debater cuidado humano e tecnologia
Evento destacou impacto da inteligência artificial na saúde, com gestores e médicos debatendo desafios, usos e limites da tecnologia
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O Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), recebeu, nesta quarta-feira (3), o evento “IA: o futuro do cuidar é humano”, no Auditório Graça Araújo, na sede da empresa, em Santo Amaro, área central do Recife. O encontro reuniu gestores, médicos e pesquisadores para discutir o avanço da inteligência artificial (IA) na saúde pública e privada.
O encontro teve mediação da jornalista Cinthya Leite, titular da coluna Saúde e Bem-Estar, e contou com os patrocínios da Afya, Roval, Hospital Jayme da Fonte, Lafepe, Endogastro e HospitalMED, e o apoio do Governo do Estado de Pernambuco e da Prefeitura do Recife.
A jornalista destacou que o debate reforça a centralidade das pessoas em qualquer transformação tecnológica.
"O encontro mostrou, na prática, que nenhuma tecnologia faz sentido se não estiver a serviço das pessoas. A inteligência artificial já é uma realidade na saúde, mas são as soft skills, como comunicação, empatia, escuta e colaboração, que garantem que esse cuidado continue humano", salientou Cinthya.
"Foi muito especial ver gestores, profissionais e pesquisadores refletindo juntos sobre esse equilíbrio. Sigo acreditando que, quando unimos ciência, tecnologia e sensibilidade, entregamos à sociedade um cuidado mais eficiente, acessível e conectado às necessidades reais das pessoas", completou.
Como desdobramento do encontro, o SJCC publica neste domingo (7) o caderno especial “IA: o futuro do cuidar é humano”, com análises, entrevistas e conteúdos aprofundados sobre o tema.
Acompanharam o evento pesquisadores, profissionais das principais categorias da Saúde e representantes de entidades do setor. Entre eles, o médico, professor e pesquisador José Luiz de Lima Filho, diretor do Instituto Keizo Asami (iLika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); o médico George Trigueiro, presidente do Sindhospe; a diretora-executiva na Interne Soluções em Saúde, Paula Meira; o presidente da HospitalMed, Rodrigo da Fonte; a diretora-geral da Afya Faculdade de Ciências Médicas Jaboatão, Vanessa Piasson; e a médica Melissa de Carvalho, diretora médica na Rede D'Or.
Também estiveram presentes médicos de serviços de saúde de Pernambuco, como o cirurgião bariátrico Flávio Kreimer, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em Pernambuco; a psiquiatra Kátia Petribú, professora da Universidade de Pernambuco; e o pneumologista Murilo Guimarães, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia.
Gestão pública destaca uso estratégico da IA
A secretária de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, apresentou iniciativas municipais que já utilizam inteligência artificial para reorganizar fluxos assistenciais e ampliar o acesso da população aos serviços.
Ela citou, por exemplo, o uso de algoritmos na regulação municipal, que hoje apoiam a priorização de casos, a análise de dados de demanda e o monitoramento do tempo de espera.
“A IA permite identificar gargalos antes que eles se tornem problemas. Com isso, conseguimos antecipar ações, distribuir melhor os recursos e garantir que o usuário seja atendido no momento certo”, afirmou.
Luciana também destacou a digitalização de processos como agendamento, acompanhamento de exames e comunicação ativa com pacientes, que vêm reduzindo deslocamentos desnecessários e facilitando o cuidado contínuo.
“Quando a tecnologia ajuda a organizar a rede, o que melhora é a vida das pessoas e isso é o que importa para nós”, completou.
A secretária estadual de Saúde, Zilda Cavalcanti, reforçou que a IA tem desempenhado papel relevante na regulação estadual, especialmente na análise de grandes volumes de dados e na otimização de filas de exames e cirurgias eletivas.
Ela lembrou que parte dos avanços recentes, como a redução de filas em regiões do interior, ocorre graças à adoção de sistemas integrados que cruzam informações de demanda, oferta e capacidade instalada.
“A tecnologia só faz sentido se reduzir desigualdades. E, para isso, precisamos preparar nossas equipes, investir em qualificação e entender que gestão, cuidado e tecnologia caminham juntos”, disse.
Zilda também ressaltou que o Estado estuda novas aplicações para IA em vigilância epidemiológica, predição de surtos e apoio ao diagnóstico em áreas remotas.
"Pernambuco avança porque cada ação é pensada para dar retorno à população. A tecnologia é ferramenta, não fim."
Inteligência artificial na saúde — inovação que transforma o cuidado
Especialistas analisam aplicações práticas e limites
O endocrinologista Luciano Albuquerque, editor do Afya Endocrinopapers e preceptor da Residência em Endocrinologia do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresentou exemplos reais de uso da inteligência artificial no cuidado clínico, com destaque para ferramentas que têm contribuído para melhorar a precisão diagnóstica e a tomada de decisão.
Ele citou sistemas capazes de interpretar exames de imagem com alto grau de acurácia, algoritmos que auxiliam na predição de risco cardiometabólico e plataformas utilizadas na educação médica, que ajudam residentes a treinar o raciocínio clínico por meio de simulações inteligentes.
“A IA já está no consultório, nos aplicativos, nos exames, na pesquisa. O médico que não dialogar com essa tecnologia vai ficar para trás. Mas ela nunca substitui o julgamento clínico”, afirmou.
Luciano também chamou atenção para o uso crescente de modelos de linguagem na medicina, que podem resumir prontuários, cruzar dados e agilizar o atendimento em cenários de grande demanda.
“O desafio agora não é mais ‘se’ vamos usar, mas ‘como’ vamos usar. É preciso critério, validação científica e responsabilidade”, completou.
Já o médico clínico Marcus Villander, diretor científico da Sociedade Pernambucana de Clínica Médica e preceptor da Residência em Clínica Médica do Real Hospital Português (RHP), trouxe uma reflexão sobre os limites da tecnologia e a necessidade de preservar o vínculo entre profissional e paciente.
Ele destacou que, embora algoritmos executem tarefas repetitivas com eficiência, o cuidado depende de escuta, contexto e trajetória, atributos impossíveis de automatizar.
“A IA pode até organizar o caos, mas quem cuida é a relação. O que sustenta a medicina é a longitudinalidade, é acompanhar a mesma pessoa ao longo do tempo”, disse.
Marcus lembrou que ferramentas digitais podem liberar o médico de tarefas burocráticas, ampliando o tempo disponível para conversas, explicações e acolhimento — elementos essenciais no tratamento de doenças crônicas.
“Precisamos usar a IA para garantir que o olhar clínico continue sendo o centro. Tecnologia nenhuma entende a história de vida de um paciente”, reforçou.