Eduardo Carvalho: ambição constrói, ganância destrói
A ambição é o desejo de superação, a energia que leva o estudante de baixa renda a enfrentar longas horas de estudo para um vestibular concorrido
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Desde os primórdios da humanidade, o desejo de ir além, conquistar mais e transformar a realidade esteve presente em cada geração. Esse impulso vital pode se manifestar de formas distintas: como ambição ou como ganância. Embora os termos sejam frequentemente confundidos, representam caminhos diferentes para indivíduos e nações. Compreender essa diferença é essencial para qualquer sociedade que aspire a um progresso sustentável e ético, pois o que está em jogo não é apenas a realização individual, mas o destino coletivo.
A ambição é o desejo de superação, a energia que leva o estudante de baixa renda a enfrentar longas horas de estudo para um vestibular concorrido. É a chama que inspira o cientista em pesquisas inovadoras e impulsiona empreendedores a criar empresas que não apenas geram lucro, mas também empregos, soluções e impacto social.
A ganância, em contraste, é a sombra da ambição. Representa a busca pelo acúmulo a qualquer custo, a ânsia de dominar e possuir sem medir consequências. O ganancioso manipula, explora e corrompe. Ignora limites éticos e enxerga os outros como instrumentos descartáveis. Se a ambição abre caminhos coletivos, a ganância fecha portas e destrói vínculos sociais e profissionais.
Essa distinção não é apenas conceitual: molda realidades. Um profissional ambicioso cresce em uma organização sem deixar de contribuir para o bem coletivo. Já o ganancioso sobe às custas dos outros, manipula, sabota, transforma pessoas em degraus. Seus ganhos podem ser imediatos, mas deixam um rastro de ressentimento e desconfiança. Nações que cultivam a ambição ética constroem ecossistemas férteis de inovação e prosperidade; sociedades dominadas pela ganância mergulham em ciclos de corrupção, desigualdade e descrença.
Nos Estados Unidos, a ideia do American Dream exemplifica a valorização cultural da ambição: a crença de que esforço e perseverança geram conquistas. Essa visão impulsionou gerações a liderar, empreender e inovar, resultando em universidades de excelência, empresas globais e avanços tecnológicos. Mas quando a ambição é corrompida pela ganância, surgem tragédias: a crise financeira de 2008 revelou a busca desenfreada por lucros no sistema bancário e imobiliário, arruinando milhões de famílias.
O Brasil também é fértil em exemplos de ambição. Estudantes que, em condições adversas, conquistam medalhas em olimpíadas científicas; jovens empreendedores que criam startups globais; comunidades que se mobilizam para melhorar a vida coletiva. Mas a história nacional está igualmente marcada pela ganância: escândalos de corrupção que drenaram recursos vitais para educação, saúde, ciência e infraestrutura; empresas que ruíram por escolhas fraudulentas de dirigentes; uma cultura de privilégios que corroeu a confiança nas instituições e inibiu o desenvolvimento.
O que distingue a ambição da ganância não é o desejo de crescer, mas o modo de realizá-lo. O ambicioso reconhece limites, valoriza o mérito e entende que suas conquistas só têm sentido quando não prejudicam outros. O ganancioso, ao contrário, mente, corrompe, oprime e destrói se for preciso. A ambição gera respeito e legado; a ganância gera desconfiança e ruína. A ambição é força civilizatória; a ganância é força corrosiva. Se a ambição constrói pontes, a ganância ergue muros.
Para que uma nação floresça, é imprescindível cultivar cidadãos ambiciosos, no sentido ético do termo. Isso requer um sistema educacional que valorize esforço, colaboração, perseverança, respeito e responsabilidade; políticas que premiem inovação, mérito e honestidade; e instituições capazes de coibir práticas gananciosas. Quando capturadas por grupos que buscam privilégios e perpetuação no poder, as instituições se deterioram. Já a ambição de estadistas comprometidos com reformas inclusivas fortalece a democracia e projeta esperança.
Essa distinção também se reflete nas relações internacionais. Ambição é quando um país expande sua influência pela diplomacia, pela inovação tecnológica e por parcerias ganha-ganha. Ganância é quando invade outro para explorar recursos ou impor hegemonia.
Vale lembrar que a ambição não se limita ao campo econômico. Pode estar no compromisso com a arte, a ciência, a justiça social ou o meio ambiente. Um país ambicioso não busca apenas crescimento de PIB, mas também avanços em educação, saúde, bem-estar e felicidade. Já a ganância é cega e egoísta: mede sucesso pelo acúmulo material ou pelo domínio sobre outros, sem considerar as consequências de longo prazo.
Sociedades que valorizam a ambição ética criam ciclos virtuosos: jovens inspiram-se em modelos de sucesso justo, profissionais dão o melhor de si, e as instituições se fortalecem. Já onde predomina a ganância, instala-se o ciclo vicioso: jovens perdem a fé no mérito, profissionais tornam-se cínicos e instituições se corroem.
Um país de cidadãos ambiciosos prospera de forma sustentável, justa e inovadora. Um país dominado por gananciosos torna-se refém de corrupção, desigualdade e desesperança. O grande desafio do Brasil, e de qualquer nação, é cultivar a ambição ética, aquela que sonha grande, respeita limites e multiplica oportunidades, combatendo com firmeza a ganância que mina instituições e destrói a confiança social.
Eduardo Carvalho, Autor do livro “Educação Cidadã Global”, CIO da EmpowerC