Ivanildo Sampaio: O imprevisto de cada dia
No atual momento, o alvo mais próximo do poder de Donald Trump é Nicolás Maduro, que diz se preparar para uma guerra

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De repente, não mais que de repente, Donald Trump deixou de ser o novo "flagelo da humanidade"; o ditador que chegou para reativar o velho "imperialismo norte-americano"; o responsável pela morte de barqueiros que navegavam pelas águas do Caribe e que foram bombardeados por ordem dele, que os acusou, sem provas, de transportarem drogas da Venezuela para os Estados Unidos - onde sua gestão não consegue conter o uso e o mercado dessas mesmas drogas.
De repente, não se falou mais da humilhação que ele e Marco Rubio, o Secretário mais radical do primeiro escalão do Governo, impuseram ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, no espaço mais nobre da Casa Branca, com direito a transmissão ao vivo para o resto do mundo.
Lula
De repente, cá no nosso chão, pouco se falou no enigmático telefonema trocado entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, que, como de costume, não perde a oportunidade de falar besteira quando tem um microfone na mão e uma plateia ao redor.
A última, aliás, foi fazer uma crítica coletiva ao Poder Legislativo, na frente do presidente deste Poder, o deputado Hugo Mota, que pode parecer tímido, mas bobo ele não é. E Lula, com minoria na Câmara dos Deputados, mais do que nunca depende muito da boa vontade desses deputados que publicamente ele criticou.
Trégua
Mas, o assunto aqui não é o presidente Lula; é outro presidente, Donald Trump, o homem que conseguiu uma trégua na violência imposta por Israel na faixa de Gaza, onde mais de 65 mil pessoas já morreram, por conta dos bombardeios que nunca pouparam nem procuraram poupar a população civil, incluindo-se aí idosos, crianças, mulheres e nem mesmo escolas e hospitais, todos alvos da vingança de Benjamin Natanyahu.
Queira-se ou não, foi a intervenção de Donald Trump que forçou um acordo de cessar-fogo que, embora temporário, seria o caminho para um tratado de paz duradouro, garantindo, mais tarde, a criação de um país palestino, contra o qual Israel se opõe. E espera-se, igualmente, que o terrorismo do Hamas, Também assassinando friamente crianças, mulheres e idosos, não volte nunca mais a acontecer.
Maduro
Passado esse breve intervalo de "Donald Trump paz e amor", o presidente norte-americano recomeça sua campanha contra Nicolás Maduro, o ditador da Venezuela que colocou seu pais no fundo do poço e para o qual não há qualquer argumento de defesa.
Maduro apossou-se do poder de forma ilegal, cooptou as Forças Armadas com o dinheiro vindo do petróleo subornou os poderes constituídos, fraudou eleições para continuar no poder, provocou a fuga de milhões de colombianos que hoje perambulam pelas ruas de outros países do continente, inclusive no Brasil. E ainda é acusado - inclusive por Trump - de estar ligado ao cartel do Tráfico que exporta cocaína para o resto do mundo.
Segundo a Imprensa norte-americana, Donald Trump autorizou (ou vai autorizar) a CIA a atuar fora do país - o que legalmente não poderia - tendo principalmente a Colômbia de Nicolas Maduro como alvo. Pura bobagem: podendo ou não, a CIA sempre "xeretou" a vida interna de todos os países da América do Sul, inclusive o Brasil, desde os tempos da ditadura militar.
Nada pode ser dito em favor de Nicolás Maduro, assim como Donald Trump não tem o direito de interferir na vida interna de qualquer país, como se fosse ele o ditador do mundo. A interferência dos Estados Unidos em Cuba, por exemplo, iniciada nos tempos da "guerra fria", condenou o país à pobreza, ao isolamento, ao atraso cultural e tecnológico que, se fossem encerrada hoje - ainda assim o país levaria anos para recuperar o tempo perdido. E sobre isso ninguém me contou, eu vi.
Cuba
Estive em Havana para participar de um Seminário que reuniu mais de 30 Jornalistas de língua latina, inclusive do México, promovido por uma joint-venture de um indústria do fumo que tinha o Governo de Fidel Castro como parceiro.
Encontrei, em Havana, jovens brasileiros que foram estudar medicina na principal Faculdade cubana - e a decepção morava na expressão de cada um: os professores, apesar da boa vontade, eram desatualizados; não havia material para pesquisa, nem instrumentos, nem acesso à literatura estrangeira sobre os avanços em quase todas as áreas - enfim...
Uma estudante brasileira, filha de família alagoana, timidamente me perguntou em que hotel eu estava hospedado. Era um hotel de cadeia internacional, inaugurado há pouco tempo, quando Cuba, timidamente, começou a abrir as portas para o turismo.
Quase constrangida, essa jovem me perguntou se eu podia guardar para ela os pequenos sabonetes e potinhos de shampoo que o hotel colocava no apartamento de cada hóspede. Claro que eu disse sim. Ela explicou que tinha dinheiro, que levara dólares do Brasil e não gastara - e não comprava produtos de higiene pessoal simplesmente porque não tinha onde comprar.
Rubio
Vi jovens cubanos com curso superior completo tocando violão no famoso "El Bodeguita del Medio", em troca da gorjeta de um dólar de cada turista, simplesmente porque não havia emprego no país. Foi nisso o que deu a interferência norte--americana na vida dos cubanos. De onde saíram os pais do Secretário Marco Rubio, bem antes da tomada do poder pelos irmãos Fidel e Raul Castro.
Pergunta-se: por que o secretário Marco Rubio, tão forte junto ao presidente Trump e tão radical, não busca, de alguma maneira, ajudar o país onde nasceram seus pais? Acabando com os embargos, por exemplo? Ou fortalecendo a indústria do turismo?
No atual momento, o alvo mais próximo do poder de Donald Trump é Nicolás Maduro, que diz se preparar para uma guerra. Confiado em quem, meu Deus? Em Vladimir Putin, muito mais preocupado com o seu quintal e numa guerra contra a Ucrânia, que se arrasta há mais de três anos? Bom, depois do cessar fogo em Gaza e os primeiros passos em busca de uma paz completa, com a criação de um país palestino que possa conviver pacificamente com Israel, aí sim, Donald Trump poderá, mais adiante, ser um candidato com reais chances de receber o Nobel da Paz.
Entender
Mas, antes disso, precisa medir o tamanho de suas interferências mundo a fora, inclusive na Venezuela, se isso se concretizar. Precisa também deixar de lado o instinto punitivo contra aqueles que o contrariam, entender que nem todo imigrante é bandido e nem todo estudante que protesta é comunista.
E compreender, principalmente, que não pode e nem deve interferir na vida interna de nações democráticas, como o Brasil, onde existem eleições livres e democráticas; os Poderes da República funcionam como reza a Carta Magna do País; e o livre arbítrio do povo escolhe seus representantes pelo voto, elegendo até mesmo alguns que deixam o país e se estabelecem no exterior, para trabalhar e mentir contra esse mesmo país.
Com mais de 80 ano ao final do seu mandato, e duas vezes ocupando a Presidência, a vida política de Donald Trump chegará ao fim. E se vivo for, a busca pelo Nobel da Paz é a única eleição que ele pode disputar. Ganhar ou não ganhar faz parte dos imprevistos de cada dia.
Ivanildo Sampaio, jornalista
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