Editorial | Notícia

Norte-americanos reagem

Em dia de manifestações contra o que se considera ensaio de autoritarismo, população foi às ruas em várias cidades nos Estados Unidos

Por JC Publicado em 19/10/2025 às 0:00

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Cresce a insatisfação popular entre os norte-americanos. Milhares de pessoas foram às ruas, nos Estados Unidos, no sábado, protestar contra ações do presidente Donald Trump em menos de um ano de mandato, em seu segundo período na Casa Branca. Com a presença de políticos influentes, como Hillary Clinton e Bernie Sanders, as manifestações chamadas de “No kings” (sem reis) criticaram o pendor autocrata de Trump, sobretudo em relação aos imigrantes, aos servidores públicos e às universidades. As medidas cerceadoras do governo federal
Para a professora universitária Dana Fisher, em depoimento ao portal UOL, o propósito das manifestações é “criar um senso de identidade coletiva entre todas as pessoas que se sentem perseguidas ou ansiosas devido ao governo Trump e suas políticas”. Além disso, a quantidade de gente insatisfeita nas ruas pode estimular políticos da oposição a cobrar gestos democráticos do presidente. E a soma das pressões, quem sabe, reduza o ímpeto autoritário de quem às vezes parece pensar que governa sem limites – uma tentação quase sempre não resistida por populistas no poder.
Uma das poucas declarações de Trump a respeito do dia recheado de manifestações contra ele, sinaliza o tipo de reflexão que os protestos desejam gerar no presidente. “Estão se referindo a mim como um rei – eu não sou um rei”. Ótimo que o mais poderoso dirigente público na Terra elabore sentenças óbvias para esclarecer os outros e a si mesmo. Portar-se como um rei, na versão pejorativa desta definição, seria governar sozinho e sem a necessidade de prestar contas de seus atos a ninguém. Não é o caso numa democracia. Todo presidente eleito democraticamente tem o dever de se portar pela vontade da maioria, sim, mas dentro das leis que regem o país, e assumindo a responsabilidade de governar para todos, sem exceção, nem perseguição.
Como o presidente dos norte-americanos exerce influência sobre a realidade global, com decisões por vezes controversas pondo a globalização em xeque, o dia de protestos não se restringiu aos EUA, sendo verificado em cidades da Europa, como Madri e Barcelona, na Espanha, e em Londres, na Inglaterra. Se a participação de cidadãos em outros países tem pouca chance de alterar a percepção da realidade em Trump e seus aliados, ao menos dá uma dimensão da importância, para o mundo, de um líder que não se ache um monarca assinando ordens na Casa Branca.
Em tréplica à reação popular, expoentes do partido Republicano adotaram o reforço padrão na retórica dualista e polarizadora, ao dizer que as manifestações anti-Trump são “contra a América” e “de ódio à América”. Para os manifestantes, no entanto, o amor cívico dos que prometem uma “América grande de novo” parece se basear em práticas de ódio, intolerância, exclusão e violência de Estado. Ou o presidente dá um passo atrás na trilha autoritária, ou o clima de tensão e divisionismo entre os norte-americanos tende a aumentar, rapidamente.

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