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Jáder Tachlitsky: Quando a história sangra: reflexões sobre o 7 de outubro

Que o 7 de outubro de 2025 seja uma data de reflexão e de compromisso: nunca mais deixar que o terror determine o destino de israelenses e palestinos.

Por JÁDER TACHLITSKY Publicado em 07/10/2025 às 0:00 | Atualizado em 07/10/2025 às 10:27

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Dois anos se passaram desde aquele amanhecer do 7 de outubro de 2023, data que ficará marcada como a mais sombria da história de Israel. Relembrar os fatos não é apenas um exercício de memória; é uma necessidade para compreender os rumos da guerra, suas consequências e, sobretudo, as possibilidades de paz.

Gaza: uma esperança frustrada

Em 2005, Israel retirou-se integralmente da Faixa de Gaza, levando consigo tropas e civis. A expectativa era de que esse território se transformasse em um laboratório de governança da Autoridade Palestina.

Que seria viável a criação de um estado palestino convivendo em paz com o estado judeu. Porém, no ano seguinte, as eleições deram vitória ao Hamas, grupo que nunca escondeu seu objetivo: a destruição do Estado de Israel.

Seguiu-se, em 2007, um golpe do Hamas, marcado por execuções e perseguições, consolidando o grupo como autoridade única em Gaza. Desde então, o território deixou de ser promessa de paz para se tornar plataforma de foguetes e atentados.

O Hamas e sua lógica de terror

Fundado em 1987, o Hamas é um grupo fundamentalista islâmico que aplica a sharia de forma brutal, subjuga a própria população e usa civis como escudos humanos. Homofobia, misoginia e violência política fazem parte de sua cartilha. Sua carta fundacional não deixa dúvidas. Prega a aniquilação de Israel e a morte de seus cidadãos.

A véspera da tragédia

Na véspera do ataque, em 6 de outubro de 2023, a aparência era de relativa calmaria. Palestinos cruzavam diariamente para trabalhar em Israel; hospitais israelenses recebiam pacientes vindos de Gaza; caminhões de alimentos e recursos entravam no território. Parecia haver uma rotina possível, ainda que frágil.

O 7 de outubro

A madrugada seguinte mudou tudo. Durante o feriado judaico de Simchat Torá, Israel foi surpreendido por uma ofensiva sem precedentes: ataques por terra, mar e ar. O massacre mirou deliberadamente civis: homens e mulheres, idosos, crianças e até bebês. Pessoas foram queimadas vivas, mulheres estupradas, famílias despedaçadas diante de seus próprios olhos.

O festival de música, que reunia jovens em clima de celebração, transformou-se em cenário de chacina. Tudo documentado, em clima de euforia, pelos próprios algozes.

Foram mais de 1.200 mortos, centenas de feridos e 250 sequestrados. Um banho de sangue que se tornou o maior massacre de judeus em um único dia desde o Holocausto. Pessoas de outras nacionalidades, israelenses de outras confissões, também foram vítimas da sanha assassina.

A guerra e sua distorção internacional

A resposta de Israel inaugurou uma guerra que já completa dois anos. O Hamas, protegido em túneis subterrâneos, transformou escolas, hospitais, mesquitas e residências em bases estratégicas, transformando sua própria população em escudos humanos. A morte de civis passou a ser usada como arma de propaganda.

A comunidade internacional, muitas vezes, repetiu como verdade números e versões fornecidas pelo grupo terrorista. Mortes de combatentes foram anunciadas como de civis; mortes naturais foram somadas às estatísticas da guerra. Essa manipulação não apenas distorceu a realidade, como também reavivou preconceitos antigos. O antissemitismo explodiu em discursos e ataques contra judeus e instituições judaicas ao redor do mundo.

Reflexões após dois anos

Israel é a única democracia da região e enfrenta um inimigo que não esconde sua intenção de aniquilação. Por trás do Hamas está o Irã, que tem financiado e organizado grupos terroristas e que persegue, há décadas, a capacidade nuclear, tornando-se um risco global.

Essa guerra poderia ter sido evitada. As populações israelense e palestina poderiam ter sido poupadas de tanto trauma, de tanta dor. Qualquer projeto real de paz passa por uma condição básica: o povo palestino precisa libertar-se da tutela do Hamas. É preciso despir-se da narrativa que culpa Israel por todos os males e construir propostas concretas de convivência.

Do lado israelense, a disposição para a paz já foi provada em acordos com Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão. Certamente um aceno para a paz estimularia a formação de uma maioria na sociedade israelense que respaldaria um avanço nesse caminho.

Um chamado à responsabilidade internacional

Os traumas são profundos e atravessam gerações. Mas a história não pode ser apenas uma sucessão de tragédias. Cabe à comunidade internacional trabalhar para que os canais de diálogo sejam reabertos. É preciso conter o extremismo, apoiar lideranças que busquem soluções políticas e garantir que a convivência entre dois povos e dois estados seja viável.

o dia 7 de outubro de 2023, vimos o que o ódio é capaz de produzir. Que o 7 de outubro de 2025 seja uma data de reflexão e de compromisso: nunca mais deixar que o terror determine o destino de israelenses e palestinos.

Jáder Tachlitsky , economista, professor de Cultura Judaica e História Judaica e coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco

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