Eduardo Carvalho: Estudo de caso para processo decisório
A arte de um facilitador de caso está em ser ético. fazer a pergunta certa no momento certo, fornecer feedback sobre as respostas
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Um estudo de caso simula uma situação real. A unidade de análise em um caso pode variar de um indivíduo ou organização a uma nação ou o mundo, e todos têm um propósito comum de representar a realidade com todos os detalhes. São elaborados para que boas decisões sejam tomadas. A Universidade de Harvard tem metodologia exemplar com mais de 60 mil casos elaborados e discutidos com estudantes e profissionais. Celebra um século dessa abordagem.
Alguns exemplos de casos: Starbucks (Fechar lojas ou manter a expansão agressiva), Uber na Índia (Como adaptar o modelo de negócios a um mercado cultural e regulatório distinto), Embraer ( Fundir com a Boeing ou manter independência), Kidzania ( Modelo de parque para cultivar o empreendedorismo em crianças), Bairro aprendiz ( Empoderar uma comunidade), Inovação tecnológica ( Impacto na educação básica no Canadá), Singapura (Referência global em educação básica), AltSchool ( Reimaginar a escola), Laboratório de educação ( Melhorar o aprendizado de leitura de crianças), Organização do terceiro setor ( Governança virtuosa ou viciosa), Progressive Education Network(Criando impacto social no Paquistão) , Design thinking ( Usado em processos de inovação da Apple), Global Citizenship Institute ( Criar comunidades de cidadãos globais ), P-TECH ( Reinventando o ensino médio), Tecnologias disruptivas(Impacto para a competividade de uma nação), Cidades sustentáveis ( Modelo para expansão global).
Um caso pode compreender modelo organizacional, inovação disruptiva, empreendedorismo, liderança transformadora, competitividade global, dilema ético, resolução de problema. Um problema, por exemplo, é uma situação em que há um resultado ou desempenho significativo, e não há uma explicação explícita para esse resultado ou desempenho.
Simplificando, é uma situação em que algo importante aconteceu, mas não sabemos por quê. Exige um diagnóstico com clareza das estruturas causais, que ajudam a organizar o pensamento e guiar a investigação das causas-raiz. Para isso, precisa-se dos métodos das disciplinas de negócios.
A análise começa com a definição do problema. Primeiro é necessário perceber que existe um problema e, em seguida, defini-lo. Um problema bem formulado não é um sintoma, nem uma pergunta genérica. Ele é específico, claro, com impacto prático e foco decisório, ligando o resultado ou desempenho às suas causas-raiz.
Usa-se linguagem direta, que aponte a situação, o impacto, e a decisão necessária, a exemplo de: [Personagem X] enfrenta [desafio Y] causado por [fatores Z], e precisa decidir [ação crítica] para [resultado esperado], diante de [restrições ou riscos).
Algumas das principais estruturas causais usadas em análise de casos são: Cadeia Causa-Efeito (Cause-and-Effect Chain); Modelo de Entradas, Processos e Saídas (Input-Process-Output), pergunta-chave: Onde, nesse fluxo, está o gargalo ou falha; 5 Porquês (5 Whys) , pergunta-chave: Por que isso aconteceu (repetido várias vezes até chegar à raiz); Análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças), pergunta-chave: Como fatores internos e externos estão influenciando o problema?
O processo é narrado retratando fatos, que podem ser obtidos de várias fontes: áudios, vídeos, mensagens, relatórios, informativos, indicadores. Informações que fundamentem conclusões. Precisa provocar dúvidas para questionamentos dos participantes; construção de hipóteses, causas e efeitos; elaborados em conjunto com um facilitador que pode ser um experiente executivo, consultor ou professor. É um aprendizado relevante para todos envolvidos.
A arte de um facilitador do método de caso está em ser ético. fazer a pergunta certa no momento certo, fornecer feedback sobre as respostas e manter uma discussão que revele os significados do caso, e atuar imparcialmente. O processo estimula os participantes a tomar decisões e avaliar as consequências.
Difere de uma palestra no conceito de "storytelling" em que os fatos tendem a ser organizados de forma que levem a uma única interpretação, a "verdade" do palestrante. Discussões de casos estão repletas de fatos e informações expostas pelo "storyteller", mas não são moldadas em uma única verdade. Todos os participantes estão curiosamente aprendendo.
É um exercício de pensamentos crítico, criativo e sistêmico. A abordagem pode ser enriquecida com a apresentação de conceitos e teorias que fundamentam a realidade exposta. É um modelo de aprendizagem, que motiva a colaboração construtiva por todos. Um verdadeiro laboratório análogo da realidade.
Algumas regras são estabelecidas para a elaboração do caso: Todo o processo é fundamentado em evidências-fatos e indicadores; deve compreender análise de causa e efeito, definições de conceitos e metodologias; recomendação de alternativas para decisão; análise das alternativas baseada em critérios que expressem um julgamento sobre eficácia de atos, resultados, prós e contras das alternativas propostas; antecipação de riscos, impactos, consequências.
Eduardo Carvalho, Harvard Advanced Leadership Fello