Artigo | Notícia

João Alberto: A perda de um hotel icônico do Recife

Muitos artistas e bandas ficaram no hotel. A começar de Roberto Carlos, que exigiu mudanças na decoração do espaço, privilegiando o azul.

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 03/10/2025 às 0:00 | Atualizado em 03/10/2025 às 8:27

Clique aqui e escute a matéria

O Recife vai, aos poucos, perdendo seus hotéis. Recentemente, quatro fecharam para se transformar em flats. Um deles tem uma longa presença na história da nossa cidade, o antigo Recife Palace, que mudou várias vezes de nome até chegar a Grand Mercure, quando fechou. Agora, passa por obras para se transformar no "Infinity", flat que a Moura Dubeux começou a construir.

O hotel, que foi construído pela Construtora Lucas Simon, foi inaugurado em 1985, com uma festa que reuniu o Recife inteiro. Foi feita uma parceria, inclusive, para o uso do nome, com o Rio Palace, que era o principal hotel do Rio de Janeiro, no Posto 6. Durante muitos anos foi o principal do Recife. Não só hospedando os nomes mais importantes que chegavam à cidade, como palco de grandes eventos sociais.

A ambientação foi assinada por Janete Costa, com muitas peças do artesanato pernambucano, que ela escolheu com muito bom gosto. Cada ambiente tinha gravuras de monumentos históricos de Pernambuco e os lençóis dos quartos foram feitos por bordadeiras pernambucanas, assim como as toalhas e guardanapos do restaurante do hotel, o francês Savoir Faire. A arte nordestina também estava representada no hall, através de um painel de Ariano Suassuna. Tinha várias salas de eventos corporativos, sauna, salão de beleza e serviço de babysitter.

O principal espaço de eventos era a cobertura, com mil metros quadrados onde, durante muitos anos, aconteceu o mais badalado réveillon do Recife. E até tenho uma história interessante: num deles, quando saí, fiquei preso em um dos elevadores por quase meia hora. E olhem que eu estava junto com Ângela e Marcelo de Lucas Simon, os donos do hotel, que sempre têm um histórico de problemas com seus elevadores.

No térreo, tinha uma boate, que era pouco utilizada, apenas para festas com poucos convidados. No entanto, por seis anos, foi local, na sexta-feira de carnaval, da "Feijoada da Moda", promovida por empresários, e foi um sucesso total, com os convites disputadíssimos. Duas curiosidades: o lucro era doado a uma instituição filantrópica e o convite trazia a informação: é proibido levar esposa, noiva, namorada e amante fixa." Eram festas animadíssimas.

A exemplo do Rio Palace, o Recife Palace tentou muito ter uma estrutura na praia em frente para atender os seus hóspedes, mas nunca conseguiu autorização da Prefeitura.

Numa tarde, um hóspede conseguiu chegar ao teto do hotel e ameaçou se jogar. O Corpo de Bombeiros foi acionado, para aplausos da multidão que se concentrava na rua, e conseguiu demovê-lo da ideia de se matar.

Várias empresas aéreas hospedavam suas tripulações no hotel. Uma delas, europeia, permitia que suas aeromoças tomassem banho na piscina usando topless.

Também hospedou várias seleções de futebol, inclusive a seleção brasileira. Na Copa do Mundo de 2014, foi comentadíssima uma festa que os jogadores da Espanha realizaram na área da piscina, com alguns jovens, digamos, disponíveis. Muitos craques famosos estavam na farra. O Santos foi o derradeiro time a ficar no hotel, quando Neymar provocou frisson entre os torcedores que foram para a porta do hotel.

Muitos artistas e bandas ficaram no hotel. A começar de Roberto Carlos, que exigiu mudanças na decoração do espaço, privilegiando o azul. Elba Ramalho costumava passar muitas temporadas lá. Foram hóspedes do Recife Palace alguns nomes internacionais como Margot Fonteyn (que fez apresentação no Geraldão, com renda para as vítimas de enchente do Recife), Júlio Iglesias, Amy Winehouse, Paul McCartney, as bandas Aerosmith, e Guns N' Roses. Cyndi Lauper, Elton John, Ringo Starr e Charles Aznavour.

O presidente Lula sempre se hospedou no Atlante Plaza, mas, não sei por que razão, por duas vezes ficou no Recife Palace, quando o hotel já tinha outro nome. Claro que provocando transtornos para os moradores, pelo grande número de viaturas da segurança. O Recife Palace também recebeu os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello, José Sarney e Itamar Franco.

Depois, virou Lucsim Palace, mantendo o brilho. Que começou a acabar quando passou a "Golden Tulip", depois o atual "Grand Mercure", que tem reformas paradas faz tempo. No total, tem 221 apartamentos.

Uma força do Recife Palace é que todo mundo só se referia a ele, em vez das outras denominações que passou a ter.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

Compartilhe

Tags