Dois estreantes de Pernambuco vencem o 65º Prêmio Jabuti; conheça as obras
Livros de Elimário Cardozo e Luis Osetes foram inspirados em histórias ouvidas em suas áreas de atuação - medicina geriátrica e psicologia básica
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Dois escritores de Pernambuco, ambos com seus primeiros livros publicados, saíram vitoriosos no Prêmio Jabuti 2025, cuja cerimônia foi realizada pela Câmara Brasileira do Livro, no Rio de Janeiro, nesta semana.
O escritor e médico pernambucano Elimário Cardozo, natural de Correntes, no Agreste, venceu a categoria Contos com seu livro de estreia, "Dores em Salva" (Editora Patuá).
Já o jornalista e escritor Luis Osete, baiano radicado em Petrolina, no Sertão, foi consagrado na categoria Escritor Estreante – Poesia, com o livro "Maracujá interrompida" (Cepe Editora).
O curioso é que ambas as obras foram inspiradas em histórias ouvidas pelos autores em suas áreas de atuação — medicina geriátrica e psicologia básica, respectivamente — mostrando como a troca humana de experiências pode ser essencial no fazer literário.
Literatura influenciada por dores
"Dores em Salva" reúne doze contos em que a dor humana serve de ponto de partida para narrativas que exploram o corpo, a identidade e o acaso. O livro foi lançado na Flip de 2024, na Casa Guero, espaço dedicado a novas vozes da literatura contemporânea.
Entre as personagens, há uma mulher que come barro para enfrentar o medo da morte; uma narradora acometida pela demência; outra que sente cheiro de terra molhada no dia da morte do pai; e uma mulher devorada por vermes que só ela enxerga.
Entre as influências de Elimário estão nomes como Lygia Fagundes Telles, o recifense Marcelino Freire e Murilo Rubião.
Histórias fantásticas, dores reais
Geriatra e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Elimário ouviu, ao longo da carreira, histórias que beiravam o fantástico. Essa convivência cotidiana com a finitude dos pacientes acabou moldando sua literatura, marcada por sentimentos de fragilidade e transcendência.
A proximidade com a mortalidade também se fez presente em sua própria vida: em 2024, seu marca-passo parou três vezes. Foi durante os períodos de recuperação que ele encontrou na escrita uma forma de se reconectar com o mundo.
"Estou muito emocionado e grato por ver meu trabalho reconhecido. Aquilo que parecia tão distante, de repente se tornou real. Esse prêmio me dá ainda mais vontade de continuar escrevendo e levando novas histórias ao mundo", declarou o autor após a premiação.
Vozes que insistem em existir
Maracujá interrompida, de Luis Osete, nasceu das histórias que o autor escutou ainda estagiário de Psicologia na atenção básica de Petrolina.
"Posso dizer que levei quase dez anos escrevendo, porque aquelas vozes, ouvidas lá em 2013, seguiram me pedindo passagem, insistindo em existir dentro de mim", conta o escritor.
Durante a pandemia, convivendo novamente com os pais, atravessando o luto coletivo e diante de um pé de maracujá morto no quintal, essas histórias — sobretudo as de mulheres vítimas de violência doméstica — retornaram com força. "Vieram me ensinar sobre afeto, coragem e tantas coisas inomináveis, mas profundamente necessárias", diz Osete.
Prêmio Hermilo Borba Filho
O livro foi vencedor do Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura 2024, promovido pela Secretaria de Cultura de Pernambuco em parceria com a Cepe Editora.
"Ver a obra premiada me alegra, não por vaidade, mas por saber que é uma forma de fazer com que essas vozes, que hoje também são minhas, possam alcançar mais pessoas", afirma o autor.
"É uma honra representar o Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, que abre caminhos para autores das quatro macrorregiões de Pernambuco, dentro de um cenário literário de relevância nacional como o Prêmio Jabuti. Que outras iniciativas como o Hermilo Borba Filho sigam florescendo, para fazer ecoar ainda mais histórias, mais mundos e mais vozes."
Jabuti
Na cerimônia do Jabuti, o livro "O Ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim", de Ruy Castro, venceu a cobiçada categoria Livro do Ano, a principal do Prêmio Jabuti 2025.