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Com frevo, memória e cinema, Recife tem noite histórica em pré-estreia de 'O Agente Secreto'

Cineteatro do Parque e o Cinema São Luiz receberam as primeiras exibições do premiado longa no Brasil, antes da abertura do Festival de Brasília

Por Emannuel Bento Publicado em 10/09/2025 às 23:21 | Atualizado em 10/09/2025 às 23:30

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O frevo da Orquestra Popular do Recife e do grupo Guerreiros do Passo, que contagiou o tapete vermelho de Cannes e do Louvre, na França, durante as exibições internacionais de "O Agente Secreto", voltou para a sua legítima casa na pré-estreia do filme no Recife, na noite desta quarta-feira (10).

O Cineteatro do Parque e o Cinema São Luiz receberam as primeiras exibições do premiado longa no Brasil, antes da sessão de abertura do Festival de Brasília, no sábado (14). Além do diretor Kleber Mendonça Filho, marcaram presença atores como Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido e grande elenco.

Ambientado no Recife de 1977, o longa tem cenas filmadas no próprio Cinema São Luiz, o que tornou essa sessão ainda mais especial.

"Visão poética do Recife"

"Toda vez que lanço um filme, me chama muita atenção a pergunta do Brasil: por que, de novo, o Recife? A resposta é muito simples. Eu amo o Recife. Eu cresci no Recife e é muito natural gravar aqui. O filme traz uma visão poética dessa cidade. Nada é real, mas tudo é muito honesto", disse Kleber, em discurso, antes da exibição no São Luiz.

Wagner Moura, que é baiano, não poupou elogios à capital pernambucana, chamando-a de "vanguarda do cinema brasileiro há muitos anos". "Recife é uma cidade importantíssima na minha vida por várias razões. O manguebeat me influenciou a vida toda. Aconteceram coisas importantes na minha carreira, com destaque para a peça 'A Máquina', de João Falcão, aqui no Armazém 14”, disse o ator.

"Fazia 12 anos que eu não atuava em português, então nem consigo descrever o quão importante foi estar no Nordeste, sobretudo no Recife, fazendo esse filme com Kleber. Esse filme me deu muitas amizades que jamais vou esquecer e que estarão para sempre comigo."

"Filme é sobre verdade"

No tapete vermelho, antes da sessão, Wagner Moura foi questionado sobre o contexto político em que o filme é lançado, justamente no momento em que ocorre o julgamento por uma tentativa de golpe de Estado. "É um filme sobre a verdade", frisou.

"Às vezes as pessoas querem acreditar naquilo que é mais confortável, mas ser adulto me trouxe a noção de lidar com a verdade."

Na mesma linha, Maria Fernanda Cândido disse que o longa “chega num momento em que estamos entendendo o valor da memória e da história”.

"Talvez, ele deixe uma mensagem sobre o que nós fazemos com a nossa memória. O que o indivíduo faz com a sua memória, com a sua história, e o que o País faz com sua memória. A reconstrução do que aconteceu no passado, numa época tenebrosa, é tentada no contemporâneo, para que aquilo não se perca. O filme também fala de um Nordeste em relação ao Brasil e de um Brasil em relação ao mundo."

Kleber Mendonça ressaltou que sentiu vontade de “construir a atmosfera histórica da época”, mas sem cair na mesmice dos filmes sobre ditadura. "Sempre há cenas de guerrilheiros pegando dinheiro para uma causa nos filmes da América Latina sobre ditadura. Eu quis reconstruir essa atmosfera fazendo um filme de ficção, mas a partir de uma cidade cheia de história, que nos ajuda a contar a história do Brasil."

Oscar

O Agente Secreto está na shortlist dos seis filmes escolhidos pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar.

"Estamos em campanha desde maio, quando exibimos em Cannes. Ele foi muito bem recebido e comprado pela Neon, uma distribuidora muito forte. Estamos viajando o tempo todo, agora estreando nos EUA e começando a dar as cartas nessa campanha. No final de setembro, estamos indo ao Festival de Nova York", finalizou o diretor.

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