'Brasileiros sabem o que é ditadura, americanos não', diz Wagner Moura à Variety
Protagonista de 'O Agente Secreto' recusou papéis de traficantes para não reforçar estereótipos latinos; filme estreia no Recife nesta quarta (10)

Clique aqui e escute a matéria
"O Agente Secreto", novo longa de Kleber Mendonça Filho, chegará ao Recife nesta quarta-feira (10), após ganhar nova tração em sua trajetória internacional no último final de semana.
O filme foi exibido em uma sessão lotada no 50º Festival de Cinema de Toronto (TIFF), na programação "Special Presentations", uma das mais prestigiosas do festival.
Também no fim de semana, Wagner Moura ganhou destaque com uma entrevista exclusiva na revista norte-americana Variety. "Os brasileiros sabem o que é ditadura. Os americanos não", diz ele, sem rodeios.
"É por isso que fomos eficientes na defesa da democracia quando nossas instituições foram atacadas. Aqui nos EUA, as pessoas às vezes tomam a democracia como garantida. Isso me assusta".
Na capital pernambucana, as pré-estreias ocorrem no Teatro do Parque, às 19h, e no Cinema São Luiz, às 19h40.
Sintonia com o diretor
Na entrevista, Wagner descreveu Kleber Mendonça como "alma gêmea cinematográfica".
"Ele é profundamente político, mas também profundamente brasileiro. Ele consegue pegar influências de filmes americanos dos anos 1970 — as lentes, a estrutura — e fazer disso algo que pertence apenas ao Brasil. Isso é raro."
O ator, que ficou internacionalmente conhecido por "Narcos" (Netflix) e "Guerra Civil" (2024) também disse que foi "libertador fazer algo em português novamente".
"A última vez que atuei na minha língua foi há mais de uma década. Voltar para casa, para Recife, para trabalhar com o Kleber — foi como retornar às raízes do meu trabalho como ator."
Estereótipos
Moura comentou que recebeu muitos convites para interpretar traficantes após "Narcos". "Senti a responsabilidade, como ator latino, de não reforçar estereótipos. Quero os mesmos tipos de papéis que qualquer ator branco americano receberia. Essa é a verdadeira luta."
Ele se lembra de insistir constantemente para que seus personagens fossem brasileiros em vez de genericamente "latinos". "É estranho — as pessoas raramente pensam em brasileiros quando dizem latinos. Mas eu insisto. Por que não brasileiros?".
Toronto
Em Toronto, a exibição marcou a première canadense do longa, que contou com a presença do diretor, da produtora Emilie Lesclaux e do protagonista Wagner Moura representando o audiovisual brasileiro no evento.
A equipe participou também do evento "Road to the Golden Globes", que marca o início da temporada da 83ª edição do Globo de Ouro.



"Nós queremos levar 'O Agente Secreto' o mais longe que conseguirmos", declarou Ryan Werner, presidente de cinema global da Neon, responsável por distribuir o filme nos Estados Unidos.
O longa está entre os seis finalistas que concorrem a uma vaga para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026. A categoria é uma importante etapa da trajetória de um filme internacional na temporada de premiações.
Ambientado em 1977, o thriller político acompanha um agente de tecnologia em fuga ao Recife durante a semana de carnaval. Seu tão esperado reencontro com o filho é interrompido pela violência na cidade. O elenco ainda conta com Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leon, Carlos Francisco, Alice Carvalho e Hermila Guedes.
"O Agente Secreto" venceu o festival de Cannes nas categorias de Melhor Diretor para Kleber Mendonça e Melhor Ator para Wagner Moura.