Fenearte 2025: Livro que investiga as raízes do preconceito contra nordestinos tem lançamento com debate
"Só sei que foi assim: A trama do preconceito contra o povo do Nordeste", de Octávio Santiago, é resultado doutorado na Universidade do Minho

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Quando o Nordeste passou a ser retratado como sinônimo de atraso, miséria e ignorância? E por que essa imagem persiste no imaginário brasileiro? Essas são algumas das questões que movem "Só sei que foi assim: A trama do preconceito contra o povo do Nordeste", de Octávio Santiago, lançamento da Autêntica Editora.
Na próxima sexta (18), às 19h, o jornalista e escritor participa da Fenearte, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, com um debate e lançamento do livro. A mediação da conversa será do jornalista Márcio Bastos.
A obra, resultado de sua pesquisa de doutorado na Universidade do Minho, em Portugal, percorre o modo como, ao longo do último século, discursos políticos, culturais e midiáticos forjaram uma identidade subalterna para o povo nordestino.
Um guia em cinco atos
Santiago optou por uma leitura acessível, como um guia para compreender e desconstruir imagens cristalizadas no cotidiano.
A estrutura do livro remete à dramaturgia clássica, com cinco atos que abordam os pilares desse preconceito: mão de obra e desigualdades, racialização, monotematização (seca, fanatismo, violência), oposição e interesses, e estereótipos físicos e culturais.
O autor também articula eventos históricos, conceitos teóricos e exemplos concretos que atualizam o debate e o aproximam do leitor de hoje.
Diálogo com a literatura
Entre os pontos de destaque, Santiago resgata a figura de Macabéa, personagem de "A hora da estrela", de Clarice Lispector, como metáfora do apagamento da identidade nordestina, moldada de fora para dentro.
O autor propõe o conceito de "Complexo de Macabéa", em referência à postura submissa, invisível e culpada atribuída a essa população.
Impacto da televisão
A obra também se debruça sobre representações recentes que demonstram como esses estigmas ainda operam. O autor analisa, por exemplo, a recepção crítica à novela da TV Globo "No rancho fundo", cuja caracterização dos personagens reacendeu debates sobre caricaturas nordestinas no audiovisual.
E comenta o emblemático caso do "homem gabiru", personagem de uma matéria da Folha de S. Paulo, de 1991, que comparava nordestinos pobres a uma "nova espécie humana", desumanizando seus corpos e modos de vida.