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Os 25 anos da Fenearte

A cada mês de julho, a Fenearte pede passagem e se instala entre nós. Agregando nomes de diferentes gerações do Brasil e de outras Nações,

Por Gustavo Henrique de Brito Alves Freire Publicado em 17/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 17/07/2025 às 9:59

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Juan Miró, pintor e escultor espanhol, julgava ser "mais importante do que a obra de arte propriamente dita o que ela vai gerar". Disse mais o autor de "Carnaval do Arlequim" e "Campo Lavrado": "A arte pode morrer; um quadro desaparecer. O que conta é a semente".

Ambas as frases ajudam a explicar, no contexto de uma humanidade distante do sentido de fraternidade, a dimensão que o conhecimento cultural pode conferir ao indivíduo e o libertar do ódio e dos sentimentos inferiores, que adoecem a alma.

Frida Kahlo, também pintora (de inconfundíveis autorretratos), confessou, a seu turno, que pintava flores para que elas não morressem. A ambos os gênios se somam outros, como o nosso mestre poeta maranhense Ferreira Goulart, quando sentenciou: "A arte existe por que a vida não basta". Na força resultante dessa tríplice inspiração, a certeza de que um indivíduo sem cultura é pura embalagem sem recheio.

A cada mês de julho, por onze dias, a Fenearte pede passagem e se instala entre nós. Agregando nomes de diferentes gerações daqui, do resto do Brasil e de outras Nações, transforma em uma espécie de cidade-vila o pavilhão de exposições do Centro de Convenções, fincado entre Recife e Olinda. Só falta ter Prefeitura. A atual edição, a vigésima quinta, com o tema "A Feira das Feiras", soma 700 stands. É uma imensidão de informação para absorver e um banquete para os cincos sentidos, a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato.

Chega a ser missão impossível visitar a Feira e de lá sair ileso.

O surgimento da Fenearte tem nome: o então Governador Jarbas Vasconcelos, colecionador com acervo que desconheço o museu que possua. Jarbas encontrou em Geralda Farias, então Presidente da Cruzada de Ação Social, o dínamo para tornar o sonho, realidade. Para felicidade geral, as administrações estaduais que se sucederam tiveram a grandeza de fomentar a continuidade do evento.

Na atualidade, a Fenearte se consolidou como a maior realização do gênero em toda a América Latina voltada unicamente à arte popular nas suas mais plúrimas facetas. Potencializa a valorização da economia criativa e é um importante gesto do Poder Público no seu dever de dotar o povo de um sentido real de pertencimento que vai além de ser o titular do voto.

Publicação da Unesco mostra que os produtos artesanais não se limitam ao conceito de souvenir. Não. Artesanato uma criança produz. Arte, não necessariamente. Arte é um degrau acima, é emoção, não é só tradição. Produtos artesanais são construídos totalmente à mão, com o emprego de ferramentas ou até mecanicamente, desde que a contribuição manual do artesão seja o epicentro do produto acabado. E não, a arte não está condenada a sumir do mapa. A Fenearte prova isso. Recorde ano a ano de público. Compreendida para além dos números, desnuda o que se tornou: a confluência em alinhamento cósmico impecável do que há de mais representativo nos múltiplos quadrantes pelos quais se manifesta a criatividade artística.

Desde a década de 80 do século passado os artesãos pediam algo como a Fenearte. Esse movimento culminou, em Pernambuco, no ano de 1987, segundo Governo Miguel Arraes, com a ida de 43 nomes locais para a 10ª Febrarte (Feira Brasileira do Artesanato), em São Paulo, no Parque do Ibirapuera. A maior das delegações presente era a pernambucana. O looping temporal dessa jornada panorâmica projeta então o olhar para o ano 2000, para o governo

Jarbas Vasconcelos e para o desafio de fazer com que o próprio artesão negociasse seus trabalhos sem intermediários ou atravessadores. A Fenearte propiciou essa emancipação.

Em livro lançado há alguns anos pela jornalista Sílvia Bessa, deixei o seguinte testemunho: "A Fenearte alargou o meu olhar". O mesmo sentimento reafirmo aqui e agora. A Fenearte contribuiu para o cidadão que me tornei. Como nada brota por combustão espontânea nessa aventura que é viver, a Fenearte são também seus bastidores. É a gente que se doa, e nem sempre é percebida, para que o público possa desfrutar do que vê. A eles, um abraço sem nominatas pelas ricas sementes que plantaram. E todas as loas aos nossos artesãos. Eles merecem. Parabéns pelas bodas de prata, Fenearte.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

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