Clara Moreira propõe diálogo entre corpo, gesto e desenho em nova exposição no Recife
"fúria da fita vermelha", na Galeria Amparo 60, quebra hiato de quatro anos sem individual no Recife: 'O desenho é como um rastro coreográfico'

Após quatro anos sem realizar uma individual no Recife, a artista visual Clara Moreira apresenta a exposição "fúria da fita vermelha" na Galeria Amparo 60, na Zona Sul da cidade. A mostra fica em cartaz até 25 de julho de 2025.
Com curadoria de Ariana Nuala, a mostra reúne nove obras inéditas, resultado de anos de pesquisa de Clara sobre o desenho como extensão do movimento corporal, onde cada traço preserva a memória do gesto que o originou. A pesquisa da artista é centrada no desenho feito à mão.
Desenhos detalhados
Clara e Ariana vinham discutindo de forma aprofundada a produção da artista, cujos desenhos são ricos em detalhes e permitem dois níveis de observação:
- um mais próximo, onde se percebem elementos como a unha ou o canto do olho,
- outro mais distante, onde postura, movimento e corpo se destacam.
Clara explica que seu processo criativo envolve forte relação física com o papel: "Essa exposição surgiu muito a partir da relação das pessoas com o desenho. O desenho como matéria, algo que aparece claramente enquanto está sendo feito", diz Clara.


"Quando a mão risca o papel, sinto a presença da dança, de um corpo em movimento. O desenho é como um rastro coreográfico", completa.
A mostra convida a refletir sobre o desenho como forma de conhecimento. Como escreve Ariana no texto curatorial: “Desenhar é dançar com o limite. É escavar contornos da linguagem, recusando a neutralidade do traço para afirmar sua pulsação.”
Observação íntima
As obras estão dispostas em círculo, com diâmetro equivalente ao do ateliê de Clara, criando uma relação íntima entre público e trabalho.
A curvatura do papel rompe a expectativa de bidimensionalidade e estimula o visitante a circular pelas peças, numa espécie de coreografia entre aproximação e distância. "Queríamos que a exposição implicasse o corpo de quem observa", explica Clara.
Três outros desenhos ocupam diferentes posições no espaço expositivo, como fragmentos de um mesmo corpo expandido.
Experiência sensorial
A experiência se intensifica com a paisagem sonora criada por Matheus Alves, a partir dos sons captados durante o ato de desenhar no ateliê, intercalados com silêncios.
Nesse percurso, as cores passaram a ter mais presença, e o desejo de que os desenhos "olhassem" para o público e expressassem movimento foi ganhando força. Para Ariana, "o desenho não surge depois da ideia nem ilustra algo pré-concebido. Ele pensa, e o pensamento se constrói em suas linhas estruturantes."
Sobre a artista
Em 2024, realizou as individuais "alvorada da estrela terra vista dos campos de vênus" (Galeria Lume, SP) e "Pour qu’un corps vole" (Galerie Salon H, Paris), somando à trajetória que inclui o 8º Prêmio de Artes Tomie Ohtake (2022) e indicações ao Prêmio Pipa (2022 e 2024).
Suas obras integram acervos como os da Pinacoteca de São Paulo, Museu Paranaense (MUPA), Museu da Língua Portuguesa, além de coleções da Caixa Cultural e Banco do Nordeste.
SERVIÇO
fúria da fita vermelha - Clara Moreira, com curadoria Ariana Nuala
Onde: Galeria Amparo 60 - No 3º andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley
Filho, 187 - Boa Viagem)
Visitação: De 27 de junho a 25 de julho de 2025
Funcionamento: segunda a sexta, das 10h às 19h; Sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio