Estresse e ansiedade aumentam risco de infarto e AVC, alertam especialistas
Estudos mostram que estresse, ansiedade e depressão elevam riscos cardiovasculares; uso prolongado de antidepressivos também exige atenção

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As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), 400 mil brasileiros morrem todos os anos em decorrência dessas enfermidades — o que equivale a uma vida perdida a cada 90 segundos.
Embora fatores como tabagismo, sedentarismo, obesidade, hipertensão e diabetes sejam conhecidos, especialistas destacam que a saúde mental também desempenha papel crucial no funcionamento do coração.
Estresse e transtornos mentais como fator de risco
O corpo humano não foi feito para sustentar períodos longos de estresse. Em situações de tensão, ocorre a chamada reação de “luta ou fuga”, com aceleração dos batimentos, aumento da pressão arterial e da respiração.
Mantido por muito tempo, esse estado favorece quadros como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) explica que o estresse libera em excesso hormônios como cortisol e adrenalina, que desregulam o sistema cardiovascular.
Já estudos clínicos demonstram que pacientes com transtornos psiquiátricos apresentam até três vezes mais risco de morte quando também sofrem de doenças cardíacas, especialmente da doença arterial coronariana.
A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) reforça: pessoas com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) têm 30% mais chances de desenvolver problemas no coração do que indivíduos sem a condição.
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Brasil é campeão mundial em transtornos de ansiedade
O impacto é ainda mais relevante no país. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o Brasil lidera o ranking mundial de transtornos ansiosos: 9,3% da população (cerca de 18,6 milhões de pessoas) convivem com a condição.
Em contrapartida, cresce a busca por ajuda profissional. Dados do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostram que as consultas com psiquiatras aumentaram 44,5% em cinco anos, passando de 3,4 milhões em 2017 para 4,9 milhões em 2022.
A tendência é observada principalmente entre os jovens, refletindo maior conscientização sobre a importância de cuidar da mente.
Atenção aos sinais e diagnóstico correto
O desafio, segundo especialistas, é diferenciar sintomas. Palpitações, falta de ar, dor no peito e tontura podem estar ligados tanto a crises de ansiedade quanto a um infarto. Por isso, a avaliação médica é essencial para iniciar o tratamento adequado e reduzir riscos.
O acompanhamento deve ser multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psiquiatras e cardiologistas. Essa abordagem integrada aumenta as chances de diagnóstico precoce e melhora a qualidade de vida.
Antidepressivos e risco cardíaco
Uma pesquisa apresentada no último congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) trouxe novas evidências sobre a relação entre medicamentos antidepressivos e riscos cardíacos.
O levantamento, realizado na Dinamarca com pessoas de 18 a 90 anos, cruzou certidões de óbito e laudos de autópsia. O resultado apontou que o uso de antidepressivos está associado a um risco maior de morte súbita cardíaca (MSC) — condição em que o coração para de funcionar de forma abrupta.
- Usuários por 1 a 5 anos apresentaram 56% mais risco de MSC;
- Aqueles em uso por 6 anos ou mais tiveram risco 2,2 vezes maior;
- Entre indivíduos de 30 a 39 anos, o risco chegou a ser até cinco vezes maior nos que usavam a medicação há mais de seis anos.
Para a pesquisadora Jasmin Mujkanovic, coautora do estudo, o tempo prolongado de exposição pode indicar quadros mais graves de depressão, mas fatores de estilo de vida também contribuem, como a procura tardia por atendimento médico e hábitos que afetam a saúde cardiovascular. Ela ressalta, contudo, que são necessárias mais pesquisas antes de qualquer conclusão definitiva.
Corpo e mente andam juntos
O consenso entre especialistas é que não há separação entre saúde física e mental. Manter hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, sono adequado, atividade física regular e acompanhamento psicológico, reduz tanto os riscos de transtornos emocionais quanto de doenças cardíacas.