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Cirurgia bariátrica: como funciona, quem pode fazer e cuidados pré e pós-operatório

Procedimento cirúrgico, que é um dos principais tratamentos da obesidade, teve critérios para realização atualizados pelo Conselho Federal de Medicina

Por Paloma Xavier Publicado em 25/06/2025 às 6:00

A obesidade é uma das doenças mais crescentes no Brasil. Segundo o SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), do Ministério da Saúde, 34,66% da população está com algum nível de obesidade. Os números alarmantes apontam para a necessidade de não apenas rever hábitos alimentares, mas também sobre o tratamento da doença e enfermidades relacionadas.

No mês de maio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reavaliou os critérios de pacientes para a realização da cirurgia bariátrica, um dos tratamentos para a obesidade e doenças relacionadas. Entre as alterações está a permissão para que os pacientes obesos a partir de 14 anos possam ser submetidos ao procedimento - desde que apresentem obesidade grave (IMC acima de 40) associada a complicações de saúde e que o caso seja avaliado por uma equipe multidisciplinar.

“Além disso, o novo critério de obesidade para cirurgia é ter um IMC [índice de massa corporal] acima de 30, que antes era apenas acima de 35, associado a doenças provenientes da obesidade, como esteatose hepática, hipertensão, diabetes, dores crônicas nos joelhos e coluna e hipercolesterolemia, entre outras”, acrescenta Fábio Revoredo, cirurgião bariátrico e especialista em cirurgia do aparelho digestivo do Hospital Jayme da Fonte.

Como funciona a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica metabólica modifica o sistema digestivo e, de acordo com o especialista, tem se popularizado por ter obtido os melhores resultados de emagrecimento a longo prazo, além do controle das doenças associadas à obesidade. “Chegando até a remover medicamentos crônicos do dia-a-dia dos pacientes”, complementa o cirurgião.

Jailton Jr./JC Imagem
Fábio Revoredo, cirurgião bariátrico e especialista em cirurgia do aparelho digestivo do Hospital Jayme da Fonte, explica como funciona o procedimento - Jailton Jr./JC Imagem

Fábio explica que, anteriormente, a cirurgia era considerada apenas como um procedimento que reduziria o tamanho do estômago e consequentemente provocaria o emagrecimento. “Porém, o que se descobriu há 15 anos e hoje ganha mais popularidade é que o intestino - mais precisamente o Íleo - é também um órgão metabólico e endócrino, secretando moléculas que controlam e sinalizam os centros da fome e saciedade, além de aumentar a secreção de hormônios, como a insulina, essencial para a homeostase do corpo e melhora do diabetes”, afirma.

Além disso, o médico atribui outro fator à crescente popularidade do procedimento: a falha dos medicamentos emagrecedores. “Eles atingem uma taxa de ‘reganho’ de peso em 1 ano de até 80%. Essas pessoas terminam por optar pela cirurgia bariátrica e metabólica, cuja taxa de reganho fica em torno de 20%, como alternativa após tentativa frustrada com os medicamentos existentes hoje”, explica.

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) mostra que, entre 2020 e 2024, foram realizadas 291.731 cirurgias bariátricas no Brasil. Dessas cirurgias, 260.380 foram através dos planos de saúde, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS); e 31.351 procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No sistema particular, o número de cirurgias foi de cerca de 10 mil.

Quando a cirurgia bariátrica é indicada?

Fábio reforça que a cirurgia bariátrica é o principal tratamento da obesidade e controle das comorbidades, com grandes perdas de peso e, principalmente, a manutenção sustentada do peso perdido ao longo dos anos.

Com as alterações do CFM, os critérios para cirurgia são: ter um IMC acima de 30, associado a doenças provenientes da obesidade, como esteatose hepática, hipertensão, diabetes, dores crônicas nos joelhos e coluna e hipercolesterolemia, entre outros. “As comorbidades estão intimamente ligadas à inflamação causada pela obesidade. Até a infertilidade e a impotência podem estar associadas à obesidade. O ideal é sempre procurar um médico especialista em cirurgia bariátrica e emagrecimento para tratamento”, ressalta o especialista.

Pexels
A diabetes é uma das doenças associadas à obesidade - Pexels

Fábio também mensura como a doença reduz a longevidade: “Uma pessoa obesa vive 7 a 9 anos menos que uma pessoa não obesa devido às comorbidades”. De acordo com dados do SISVAN, o número de pessoas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 1.161.831 pessoas no ano passado ou 4.63%. O número de pessoas com obesidade grau II é de 2.176.071 pessoas - representando 8.67% da população - e com obesidade grau I soma 5.348.439, o equivalente a 21.31% da população.

Os principais tipos de cirurgias bariátricas realizadas atualmente são o Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR); a Gastrectomía Vertical (Sleeve Gástrico); o Bypass em uma anastomose (OAGB / mini-bypass); a Bipartição do Trânsito Intestinal (BTI); e a SADI-S (single anastomosis duodeno-ileal com sleeve).

Todas essas técnicas podem ser realizadas por videolaparoscopia, que dá as vias preferenciais atualmente. De acordo com Fábio, a abordagem é mais vantajosa pelos seguintes fatores:

  • Caso de suspeita de complicação, reintervenção mais fácil via laparoscópica;
  • Menor trauma cirúrgico, menor risco de sangramento e dor no pós-operatório;
  • Menor risco de hérnia incisional e infecção;
  • Recuperação mais rápida, alta mais precoce (~24h);
  • Visualização ampliada da cavidade.

Outros métodos podem ser escolhidos no tratamento da obesidade, como a gastroplastia endoscópica, o balão intragástrico ou o uso de medicações. Contudo, estes têm eficácia menor, aponta o cirurgião.

Para quem a cirurgia bariátrica não é indicada?

Fábio chama a atenção para as contraindicações do procedimento: “A presença de deficiência cognitiva é um fator relevante, mas não é uma contraindicação absoluta, devendo cada paciente ser avaliado pela equipe multidisciplinar.”

Alguns fatores também podem dificultar o procedimento, como:

  • Aspectos psicossociais, como a baixa adesão a mudanças de estilo de vida ou saúde mental instável;
  • Aspectos técnicos, como a anestesia em obesos extremos, o acesso venoso dificultado ou riscos à via aérea;
  • Comorbidades, como doença cardiovascular grave e diabetes avançado;
  • Condições clínicas, como má nutrição, disfunção hepática, cirurgias abdominais prévias;
  • IMC muito elevado (> 60 kg/m²);
  • Necessidade de um hospital com estrutura especializada.

Cuidados pré e pós-operatórios

Um ponto sensível na decisão para realizar o procedimento são os cuidados pré e pós-operatórios. O cirurgião elenca os cuidados antes da cirurgia:

  • Avaliação multidisciplinar (nutrição, psicologia, endocrinologia);
  • Ajuste de comorbidades (controle glicêmico, controle de apneia);
  • Perda de peso prévia (mesmo pequena) para reduzir risco cirúrgico;
  • Orientação sobre dieta líquida ou pastosa;
  • Exames pré-operatórios completos.

Fábio explica que o pós-operatório imediato é mais tranquilo do que muitas pessoas pensam: “Atualmente, a cirurgia é bem segura e padronizada e conseguimos dar alta ao paciente com menos de 24h de internamento. No mesmo dia da cirurgia é recomendado ao paciente levantar, andar e alimentar-se com uma dieta especializada. O trabalho e as atividades que não envolvam esforço podem ser retomados a partir de 5 ou 7 dias, sempre avaliando as necessidades especiais de cada paciente. Um paciente que trabalhe com esforço físico vigoroso, por exemplo, deve retornar ao trabalho apenas com 30 dias.”

O especialista também ressalta a importância do monitoramento clínico, laboratorial, psicológicos e nutricionais regulares. “A cirurgia é uma ótima ferramenta para o emagrecimento sustentável de longo prazo. No entanto, sozinha não trará os melhores resultados. A atuação integrada de nutricionista, psicólogo, endocrinologista, cirurgião e outros profissionais é essencial desde o pré até o pós-operatório, com funções fundamentais.”

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O cirurgião ressalta a importância da atuação de uma equipe integrada de nutricionista, psicólogo, endocrinologista, cirurgião e outros profissionais desde o pré até o pós-operatório - Freepik

Além da dieta, o médico recomenda a ingestão de multivitamínicos e a prática de atividade física, que deve ser iniciada ou retomada de forma gradual, de acordo com o caso de cada paciente.

Um dos maiores medos de Angélica Souza, hoje acompanhada pelo cirurgião Fábio Revoredo, era o pós-operatório. "Tenho várias amigas que passaram pelo processo bariátrico e minha principal recusa em passar por esse processo eram os efeitos pós: problemas psicológicos, reganho de peso e flacidez", explica.

Seu histórico com a obesidade teve início na infância e, em 2014, quando a diretora de comunicação de uma agência pesava 107 kg, houve o primeiro alerta sobre a necessidade da cirurgia.

Contudo, o médico que a acompanhava na época teve uma abordagem agressiva, tendo inclusive dito que o futuro da paciente era desenvolver diabetes e hipertensão. Angélica preferiu adotar dieta e atividades físicas, mas ainda assim sentia dificuldade em realizar exercícios simples devido ao excesso de peso.

Foi apenas em 2021, com muitas dores no joelho e nos pés e obesidade tipo 3, que ela aceitou se submeter à cirurgia bariátrica. Para fazer o procedimento, ela precisou perder 5% do seu peso para conseguir autorização.

O tão temido pós-cirúrgico exigiu a readaptação com a alimentação. Angélica teve dificuldades para ingerir alimentos pastosos, que geravam entalos e, posteriormente, a ajuda de fonoaudiólogos para reaprender a mastigar. Além disso, ainda hoje analisa a quantidade de açúcar nos alimentos a serem ingeridos - para evitar oscilação na pressão e na glicemia - e alimentos que possam causar entalamento.

A diretora também fala que não sentia sua autoestima comprometida quando estava obesa, mas que se viu mais disposta socialmente depois da cirurgia. “Mesmo pesando mais de 100 kg, eu sempre usei biquíni, cropped e me gostava como era. “Minha vida social mudou com relação a ter mais disposição para sair e fazer passeio com amigos – que antes me impediam devido ao cansaço constante do peso", detalha.

Hospital Jayme da Fonte

O Hospital Jayme da Fonte, no bairro das Graças, dispõe de um dos mais modernos centros cirúrgicos de Pernambuco com ampla capacidade de atendimento. São 12 salas confortáveis com espaço para vídeo cirurgias, sistema de anestesia que monitora com precisão a dosagem dos medicamentos, equipamentos para cirurgias neurológicas de grande porte, microscópio e mesas especiais para obesos mórbidos.

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Novas salas do HJF contam com equipamentos que garantem uma visualização precisa durante as cirurgias, além de conforto durante os procedimentos - DIVULGAÇÃO

As salas contam com um sistema que garante comodidade plena e segura ao paciente durante cirurgias prolongadas, eliminando riscos de lesão ou desconforto, independentemente do peso. As mesas cirúrgicas, por sua vez, oferecem melhor alcance e maior capacidade de ajuste (descida e elevação) para os médicos, superando as opções convencionais.

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