Por que a tadalafila virou ‘pré-treino’? Saiba riscos do uso inadequado do medicamento para ereção
Medicamentos para disfunção erétil têm sido utilizados indiscriminadamente, inclusive como pré-treino em academias. Saiba quais são os riscos

Neste mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda da Metbala, uma goma à base do medicamento que vinha sendo divulgada por um influenciador com a promessa de melhorar a performance sexual. A tadalafila, base dessa goma, teve um aumento de vendas de 20 vezes em 10 anos, segundo um levantamento da Anvisa a pedido do g1, e tem sido utilizado não apenas para a disfunção erétil, mas também como pré-treino nas academias.
Tadalafila como pré-treino
No mercado desde os anos 2000, a tadalafila é um medicamento usado para tratar a disfunção erétil, mas tem se popularizado como “pré-treino” nas academias. “Devido à sua ação vasodilatadora, que dilata os vasos sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo. No entanto, não há evidências científicas que comprovem que a tadalafila melhore o desempenho físico ou aumente a massa muscular”, explica Rodolfo Brilhante de Farias, urologista do Hospital Jayme da Fonte.
De acordo com o especialista, a dilatação dos vasos sanguíneos e o aumento do fluxo sanguíneo podem proporcionar a sensação de mais energia e disposição durante o exercício. “Mas a tadalafila não foi desenvolvida para fins de performance esportiva, e não há estudos científicos que comprovem que ela melhora o ganho de massa muscular ou o desempenho físico. O uso como pré-treino não é recomendado pelas principais sociedades médicas e especialistas em saúde”, ressalta.
Quanto ao uso do medicamento pelas mulheres, o especialista afirma que não é normalmente recomendado devido à falta de estudos específicos e potenciais efeitos colaterais.
“A tadalafila não é aprovada pelas autoridades reguladoras para uso em mulheres com o objetivo de melhorar o desempenho sexual nem como pré-treino e seus efeitos não foram suficientemente estudados. Só poderia ser utilizada em mulheres para tratar a doença hipertensão pulmonar, assim como também em homens com essa mesma finalidade”, detalha.
O urologista afirma que outros medicamentos da classe, como a sildenafila e a vardenafila são utilizados no tratamento da disfunção erétil e possuem perfis de efeitos colaterais semelhantes.
Efeitos da tadalafila
Rodolfo também elenca os principais efeitos colaterais de medicamentos como a tadalafila:
- Dores de cabeça;
- Dor nas costas;
- Rubor facial;
- Tontura.
“A tadalafila pode interagir com outros medicamentos, como os utilizados para tratamento de pressão alta, e causar reações perigosas, e tem contraindicação absoluta para ser usado juntamente com medicamento que contenha nitrato (outro vasodilatador) na sua composição. O uso indiscriminado pode mascarar problemas de saúde subjacentes e agravar riscos para a saúde, como problemas cardíacos”, destaca.
Outras possíveis complicações mais graves elencadas pelo urologista são priapismo (ereção prolongada dolorosa e sem estímulo nem prazer sexual, considerada uma emergência urológica), perda de audição ou visão, queda de pressão arterial ou eventos cardiovasculares, como infarto do coração e acidente vascular cerebral (AVC).
O uso crônico e inadequado pode prejudicar a saúde cardiovascular e outros sistemas do corpo. De acordo com o especialista, outros riscos são: hipotensão (pressão baixa) e, em casos raros, taquicardia ou palpitações, especialmente em combinação com outros medicamentos como nitratos.
Rodolfo afirma também que ainda não há pesquisas e os relatórios clínicos disponíveis que o medicamento cause dependência física ou psicológica. “Porém, os usuários frequentes de tadalafila podem começar a se sentir ansiosos e até inseguros durante as relações sexuais quando não fazem uso da medicação, podendo causar um tipo de dependência emocional ou psicológica do medicamento”, acrescenta.
Interação com suplementos
Outro perigo do uso indiscriminado da tadalafila é a interação com suplementos e substâncias comuns em ambientes esportivos, aponta o especialista. “A principal preocupação é a combinação com nitratos, os quais são medicamentos usados para tratar angina (dor no peito) ou baixos níveis de oxigênio no sangue, que podem levar à queda drástica da pressão arterial e risco de eventos cardiovasculares.”
“A tadalafila pode interagir também com outros medicamentos, como alguns para pressão alta, anti-inflamatórios e alguns antibióticos. É importante informar o médico sobre todos os medicamentos e suplementos utilizados antes de iniciar o tratamento. Além disso, o uso indiscriminado e a superdosagem também podem causar efeitos colaterais e interações medicamentosas perigosas”, complementa.
Como prevenir e quando ir ao médico
Rodolfo afirma que os profissionais de saúde podem ajudar a prevenir o uso inadequado de medicamentos em academias, através de orientação. “Essa atuação se dá por meio de consulta médica, prevenção de automedicação, avaliação médica cuidadosa, atividades de educação em saúde em academias realizadas por educadores físicos e educação do paciente sobre riscos e benefícios. É importante reforçar que o mais importante é evitar a automedicação, a qual infelizmente tem sido cada vez mais frequente, alertando para todos os seus vários riscos e complicações”, detalha.
O especialista também explica que, no caso de efeitos colaterais ou complicações decorrentes do uso inadequado de tadalafila, a recomendação médica mais comum é a avaliação clínica e, dependendo do sintoma, tratamento sintomático.
“A maioria dos efeitos colaterais, como dores de cabeça, rubor facial, congestão nasal, indigestão ou dores musculares e nas costas, são de natureza temporária e podem ser aliviados com analgésicos ou antídotos específicos. Em casos mais graves, como priapismo, perda de audição ou visão, queda de pressão arterial ou eventos cardiovasculares, é necessário tratamento específico e, em alguns casos, hospitalização”, acrescenta.
Hospital Jayme da Fonte
O Hospital Jayme da Fonte conta com profissionais de diversas especialidades comprometidos em alertar sobre os riscos do uso inadequado de remédios e também sobre a importância de se evitar a automedicação. Além disso, a instituição realiza campanhas frequentes de educação continuada, prevenção e conscientização tanto dos pacientes como também dos profissionais.
A instituição fica localizada na Rua das Pernambucanas, 107, no bairro das Graças, zona central do Recife.
A Central de Marcações funciona de segunda a sexta das 7h às 19h; e aos sábados das 8h às 14h, pelo telefone (81) 3416-0075 / 3125-8850.