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Anti-inflamatório, tadalafila e relaxante muscular em academias: o coquetel perigoso do treino sem orientação

Médicos alertam que remédios que prometem alívio ou performance viram armadilhas silenciosas para quem busca resultados rápidos nos treinos

Por Cinthya Leite Publicado em 10/04/2025 às 11:09

A busca por mais rendimento e menos dor tem levado muitos praticantes de exercício físico a recorrer a medicamentos por conta própria — uma prática que pode trazer graves consequências para a saúde. Especialistas do Hospital Santa Catarina – Paulista alertam para os riscos do uso indiscriminado de anti-inflamatórios, relaxantes musculares e até da tadalafila (substância indicada para disfunção erétil, mas cada vez mais usada como pré-treino), principalmente por jovens.

O cardiologista Nilton José Carneiro enfatiza que o uso frequente de anti-inflamatórios, especialmente sem orientação médica, pode afetar o sistema cardiovascular de forma significativa.

"Esses medicamentos interferem diretamente nos vasos sanguíneos e na função renal. Eles podem descontrolar a pressão arterial e aumentar o risco de complicações como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca", afirma Nilton. Esse risco é ainda maior em pessoas com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes e tabagismo.

A combinação entre o uso de anti-inflamatórios e exercícios intensos, de acordo com o cardiologista, pode ser perigosa.

"Durante a prática esportiva, o sistema cardiovascular já está exigido: há aumento da frequência cardíaca e da pressão. Somar isso ao uso desses fármacos pode potencializar efeitos adversos", alerta Nilton.

Ele lembra que dores crônicas devem ser tratadas de forma adequada, com acompanhamento de especialistas como fisiatras, ortopedistas e anestesiologistas. "Existem várias abordagens seguras para aliviar a dor sem recorrer ao uso indiscriminado de remédios."

Tadalafila em academias: a ilusão e o perigo do rendimento instantâneo

Outro medicamento que virou "moda" nos bastidores das academias é a tadalafila, conhecida por ser indicada no tratamento da disfunção erétil.

De acordo com o urologista Alexandre Sallum, o uso da tadalafila como pré-treino se baseia em uma crença sem fundamento.

"A ideia de que a tadalafila melhora o desempenho físico por causar vasodilatação é apenas especulativa. Não existe nenhuma evidência científica de que esse uso traga benefícios, e ele pode ser perigoso", esclarece.

Entre os efeitos colaterais do uso indiscriminado da tadalafila, estão taquicardia, falta de ar, dor de cabeça intensa e alterações na pressão arterial.

"Em casos mais graves, pode haver infarto ou AVC. O uso sem prescrição é um risco real, principalmente para quem já faz uso de outros medicamentos, como os anti-hipertensivos", afirma Sallum.

O médico também alerta para um problema crescente: a dependência psicológica entre jovens. "Muitos acreditam que só conseguem ter bom desempenho sexual com o uso do remédio, o que causa um ciclo de insegurança e uso contínuo sem necessidade clínica."

A fórmula errada do rendimento em academias

Já o ortopedista Fábio Datti chama a atenção para outro hábito comum entre praticantes de musculação: o uso de relaxantes musculares após o treino.

"Esses medicamentos podem mascarar dores que fazem parte do processo natural de adaptação e crescimento muscular, como as microlesões induzidas por treinos de resistência. O uso indiscriminado interfere até na recuperação, o que prejudica a síntese de proteínas e o reparo dos tecidos musculares", explica.

E Fábio Datti lembra que os relaxantes musculares atuam no sistema nervoso central e podem causar efeitos como sonolência, tontura e dificuldade de concentração.

Já os anti-inflamatórios, além de afetarem a função digestiva e renal, são hoje desaconselhados em tratamentos de lesões musculares agudas.

"Eles atrapalham o processo inflamatório natural necessário para a regeneração dos músculos. O ideal é recorrer a estratégias como gelo, repouso, alongamentos, hidroterapia ou exercícios leves de baixo impacto."

Automedicação pode custar caro à saúde

O uso consciente de medicamentos deve ser sempre guiado por orientação médica. A automedicação pode comprometer não só o rendimento, mas a saúde a longo prazo.

"O exercício físico é um grande aliado da saúde, mas precisa ser feito com responsabilidade. Medicamentos não são pré-treino e, quando usados sem necessidade, viram um risco desnecessário", sublinha o cardiologista Nilton José Carneiro.

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