Crise no transporte público: Após anos de queda, transporte público registra sinais de recuperação da demanda de passageiros, mas cenário segue difícil
Dados fazem parte do Anuário NTU 2024-2025, lançado no Seminário Nacional de Transporte Público, em Brasília, que tem cobertura da Coluna Mobilidade

Clique aqui e escute a matéria
Depois de anos e anos acumulando queda de demanda e vivendo o ápice da crise com a pandemia de covid 19, pela primeira vez o setor de transporte público coletivo por ônibus no Brasil demonstra sinais de recuperação. Dados operacionais de 2024 apontam para um aumento na demanda de passageiros, apesar de o cenário do setor seguir difícil e desafiador.
O Anuário NTU 2024-2025, lançado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) no Seminário Nacional de Transporte Público 2025, revela que o número total de passageiros transportados aumentou 9,8%, enquanto a quantidade de passageiros equivalentes (pagantes) cresceu 4,7%.
Os dados também apontam que a quilometragem produzida – uma medida da oferta de serviços – cresceu 10,3% em 2024. E mais: o documento da NTU destaca também uma revolução silenciosa no financiamento do transporte, impulsionada pelo avanço dos subsídios públicos e da Tarifa Zero - integral ou parcial nos sistemas de ônibus do Brasil.
Nos últimos cinco anos, o número de municípios brasileiros que subsidiam o transporte coletivo mais que dobrou, passando de 120 para 241. Adicionalmente, 154 cidades já adotam a Tarifa Zero, sendo que em 127 delas o benefício é pleno e universal, ou seja, disponível todos os dias da semana para todos os usuários.
DADOS POSITIVOS TÊM RELAÇÃO DIRETA COM OS SUBSÍDIOS PÚBLICOS, APONTA A NTU
A NTU enfatiza que esses números comprovam o impacto positivo dos subsídios integrais na reconquista do passageiro. Contudo, a entidade alerta para a urgência da criação de uma política nacional, com diretrizes federais e fontes permanentes de financiamento, para que esse modelo se consolide de forma estruturada e garanta a qualidade do serviço.
Atualmente, os subsídios cobrem, em média, apenas 30% dos custos do sistema no Brasil, um índice significativamente menor que os 50% praticados, em média, em países europeus. A crescente diferença entre passageiros transportados e pagantes (em 2024, apenas 56,7% dos passageiros transportados foram pagantes, contra 72% em 2021) é um reflexo direto da adoção desse modelo de remuneração com aporte de subsídios.
-
Transporte público em crise: transporte coletivo ficou para trás em inovação e facilidades ao passageiro
-
Transporte público em crise: quem tá dentro quer sair. Uber e 99 Moto estão levando o passageiro cansado do transporte público ruim
-
Transporte público em crise: em Pernambuco e no País, ônibus e metrôs seguem em segundo plano
O AVANÇO DOS SUBSÍDIOS E DA TARIFA ZERO
O Anuário 2025-2025 aponta que a expansão dos subsídios e da Tarifa Zero está redefinindo o modelo de financiamento do transporte em muitas cidades brasileiras. A duplicação de municípios que subsidiam o serviço em apenas cinco anos, somada ao crescente número de cidades com Tarifa Zero, aponta para uma mudança substancial na forma de acesso ao transporte pela população.
Esse movimento tem sido crucial para a reconquista de usuários, evidenciando o potencial dos subsídios integrais. No entanto, a NTU reforça que, para a sustentabilidade e aprimoramento da qualidade do serviço, é fundamental que o Brasil estabeleça uma política nacional de transporte público com diretrizes claras e fontes de financiamento permanentes. A cobertura de apenas 30% dos custos do sistema por subsídios no Brasil, em contraste com a média de 50% na Europa, sublinha a necessidade de maior investimento e estrutura federal.
DESAFIOS DO SETOR AINDA SÃO GIGANTES, PRINCIPALMENTE NA INFRAESTRUTURA PARA O TRANSPORTE PÚBLICO
Apesar dos avanços na política tarifária e da recuperação operacional, o Anuário NTU 2024-2025 também revela um cenário de estagnação nos investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana. Dados compilados desde 2023 mostram uma desaceleração na implantação de faixas exclusivas, corredores e sistemas BRT.
Mesmo com o lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o número de empreendimentos ativos e operacionalizados permanece abaixo do ideal, comprometendo a qualidade do serviço e a atratividade do ônibus como meio de transporte. Para a NTU, a ausência de infraestrutura dedicada resulta em maior tempo de deslocamento, menos conforto para o passageiro, maior custo e menor eficiência operacional.
FROTA DE ÔNIBUS SEGUE VELHA E REFLETE FALTA DE FINANCIAMENTO




Outro ponto de atenção é a idade média da frota, que se manteve em 6 anos e 5 meses. A renovação da frota, embora evite o envelhecimento ainda maior dos veículos, é dificultada pela falta de oferta de crédito com condições adequadas para o setor, que impede a modernização e a transição tecnológica/energética.
Em um aspecto positivo, os principais itens de custos apresentaram estabilidade em 2024: o preço do diesel variou apenas 0,9%, e os salários dos motoristas não registraram aumento significativo, resultando em uma variação negativa de 1,0% no custo por quilômetro.
AINDA À ESPERA DO MARCO LEGAL DO TRANSPORTE PÚBLICO
Em contrapartida aos desafios, 2024 marcou avanços importantes no campo legislativo e fiscal. A aprovação no Senado Federal do Marco Legal do Transporte Público Coletivo, agora encaminhado à Câmara dos Deputados, promete redefinir as bases da regulação do setor, promovendo maior segurança jurídica, melhor governança e novos modelos de contrato.
Além disso, a regulamentação da Reforma Tributária garantiu a isenção do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) para o transporte coletivo urbano, metropolitano e semiurbano. Essa isenção representa um significativo alívio financeiro para os operadores e um passo importante na desoneração do serviço para os usuários.
-
Transporte público: Importância do transporte coletivo do Brasil para enfrentar a emergência climática é discutida em seminário nacional
-
Mobilidade urbana: Brasil precisa de R$ 500 bilhões para reverter crise e transformar transporte público no País
- Ônibus elétrico: Mesmo polêmica, estudo aponta que o Brasil tem muita capacidade para eletrificação do transporte público
“Os dados do Anuário reforçam a visão da NTU de que o transporte coletivo deve ser consolidado como uma política pública estruturante, integrada às agendas de mobilidade, climática, inclusão e desenvolvimento urbano. Não há mobilidade sustentável sem transporte coletivo forte, acessível e eficiente. Apesar dos avanços recentes, o setor ainda carece de uma estrutura federal permanente que reconheça o transporte público como prioridade nacional”, destaca Francisco Christovam, presidente executivo da NTU.
O Anuário NTU 2024-2025 foi apresentado oficialmente durante o 38º Seminário Nacional NTU – Rotas para um Transporte Público Mais Sustentável, realizado nos dias 12 e 13 de agosto de 2025, em Brasília. O evento é o principal fórum sobre transporte público coletivo e mobilidade urbana no Brasil, reunindo lideranças, especialistas, gestores públicos e representantes da sociedade civil para debater os rumos do setor. E está tendo a cobertura da Coluna Mobilidade.