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Ônibus elétrico: Mesmo polêmica, estudo aponta que o Brasil tem muita capacidade para eletrificação do transporte público

O estudo revela um potencial grande na descarbonização do transporte público com previsão de mais de 14 mil ônibus eletrificados até 2030

Por Roberta Soares Publicado em 05/08/2025 às 11:36 | Atualizado em 05/08/2025 às 15:47

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Um novo e abrangente estudo, realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil) em parceria com a Scipopulis e com o apoio do Ministério das Cidades, aponta que o Brasil possui um potencial expressivo para a eletrificação de sua frota de ônibus, com a capacidade de substituir mais de 14 mil veículos a diesel por modelos elétricos até 2030.

E o que é melhor: esta transição pode ocorrer sem a necessidade de grandes alterações operacionais nos atuais sistemas de transporte público, destacando a viabilidade e a grande capacidade de descarbonização do setor no País. A infraestrutura para a recarga desses sistemas elétricos - um dos grandes gargalos da expansão da eletrificação - foi citada no estudo com a recomendação de melhorias necessárias para o avanço do projeto.

A pesquisa, intitulada "Acelerando a Transição: Estratégia para Eletrificar a Frota Brasileira de Ônibus até 2030", analisou 18 sistemas de transporte público nas maiores regiões metropolitanas do Brasil. Foi identificado que cerca de 14 mil veículos já em operação possuem um perfil compatível com os modelos elétricos disponíveis no mercado nacional. A eletrificação é vista como um passo possível sem o aumento da frota, mudanças estruturais nas linhas ou alterações significativas nas operações.

ESTUDO MOSTRA QUE SERIA UM SALTO GIGANTE PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA E A SAÚDE PÚBLICA

Mesmo com os problemas enfrentados com a pouca infraestrutura de recarga dos veículos elétricos no Brasil, como todos já sabem, o estudo confirma que a substituição dos veículos poluentes por uma frota eletrificada é um passo crucial para o Brasil cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris e melhorar significativamente a qualidade do ar nas cidades.

DIVULGAÇÃO
Ônibus elétrico: transporte público da Região Metropolitana do Recife ficou de fora do programa de renovação da frota do Novo PAC - DIVULGAÇÃO

O estudo projeta uma redução de 24,6% nas emissões de gases de efeito estufa nas regiões analisadas. Esse impacto direto na qualidade do ar é fundamental para a saúde pública, uma vez que a poluição está ligada a adoecimentos e mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares. A pesquisa também estima uma economia anual de R$ 54 a R$ 62 milhões em gastos com saúde nas regiões analisadas.

Além dos benefícios ambientais e de saúde, os ônibus elétricos oferecem uma melhora na qualidade dos deslocamentos, sendo mais silenciosos e confortáveis para os usuários. A análise indica que 41% da população brasileira seria diretamente impactada pela oferta de ônibus novos, deixando para trás veículos ruidosos e desconfortáveis. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte foram identificadas como as que possuem o maior potencial de eletrificação em termos absolutos.

NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE SÃO AS REGIÕES ONDE A ELETRIFICAÇÃO ESTÁ AINDA MAIS DISTANTE

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A pesquisa, intitulada "Acelerando a Transição: Estratégia para Eletrificar a Frota Brasileira de Ônibus até 2030", analisou 18 sistemas de transporte público nas maiores regiões metropolitanas do Brasil - Divulgação

A pesquisa do ITDP foi dividida em três etapas. A primeira foi a apresentação dos fabricantes, tipologias e modelos de ônibus elétricos disponíveis no mercado brasileiro com o objetivo de construir uma estratégia financeira/econômica de eletrificação.

Em seguida, o estudo analisou dados operacionais de 18 sistemas de transporte público para avaliar a operação de cada veículo a fim de determinar seu consumo energético e seu potencial de substituição por ônibus elétricos. Os sistemas de transporte público do Norte e Nordeste ficaram de fora - incluindo a Região Metropolitana do Recife - por não terem dados oficiais suficientes para análise. A exceção foi Salvador (BA).

Como esperado, a predominância de cidades e RMs habilitadas se concentrou no Sudeste e Sul do País. Destaque também para Brasília (DF), a única do Centro-Oeste brasileiro.

E, por último, o estudo estimou a redução de emissões e seu respectivo impacto econômico com a substituição da frota a diesel pela elétrica.

OPORTUNIDADE ESTRATÉGICA E POLÍTICAS DE APOIO

O estudo também aponta que, sem uma forte estratégia nacional, com força política, a descarbonização não avançará. “A eletrificação tem papel estratégico em políticas públicas federais, como o Programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano (Refrota), que faz parte do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). Diante dessa importância, a pesquisa fornece insumos cruciais para que o governo federal possa direcionar recursos de forma mais eficaz e sistemática, melhorando a qualidade de vida nas cidades”, afirma a diretora-executiva do ITDP Brasil, Clarisse Linke.

O relatório oferece também recomendações concretas para o avanço das políticas públicas de descarbonização do setor de transporte. Entre as sugestões, estão o fortalecimento da gestão de dados operacionais, o planejamento da infraestrutura de recarga e a realização de compras públicas coordenadas para dar escala à transição e estimular a indústria nacional.

“O Brasil, com esse potencial, tem a oportunidade de se tornar uma referência no tema, seguindo exemplos positivos na América Latina, como o Chile”, reforça Clarisse Linke.

RECOMENDAÇÕES PARA MELHOR APLICAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA

Por fim, o estudo do ITDP indica caminhos concretos para fortalecer as políticas públicas de descarbonização do setor de transporte coletivo de passageiros, com foco em ampliar a eficácia do investimento público e os benefícios socioambientais a médio e longo prazo.

Segundo o estudo, os desafios enfrentados ao longo da pesquisa e os dados gerados se transformaram em propostas de ação que não apenas buscam viabilizar projetos de eletromobilidade em todo o País, mas, de forma mais ampla, contribuir para uma gestão mais transparente e eficiente dos sistemas de transporte público coletivo.

Estudo Acelerando a Transicao Estrategia Para Eletrificar a Frota Brasileira de Onibus Ate 2030 by Roberta Soares

Para isso, os pesquisadores sugerem:

- Gestão e governança de dados: melhorar a regulação e a estrutura técnica dos municípios para garantir acesso e uso qualificado dos dados operacionais de transporte.

- Infraestrutura de recarga adequada: adotar estratégias de recarga compatíveis com os padrões reais de operação dos veículos, evitando sobrecustos ou investimentos subutilizados.

- Compras públicas coordenadas: promover coordenação entre União, estados e municípios para dar escala e previsibilidade à aquisição de veículos elétricos, otimizando custos e estimulando a indústria nacional.

TRANSPORTE PÚBLICO DA RMR FICOU DE FORA DO PROGRAMA DE RENOVAÇÃO DA FROTA DO NOVO PAC

O transporte público por ônibus da RMR ficou de fora dos R$ 10,6 bilhões destinados ao financiamento para aquisição, pelas empresas operadoras, prefeituras e gestões metropolitanas, de 5.311 novos ônibus menos poluentes. Os recursos fazem parte do estímulo à descarbonização do transporte público urbano do Brasil através do Novo PAC e foram distribuídos com sete estados e 61 municípios.

Apenas uma cidade de Pernambuco foi contemplada com recursos para a renovação da frota de ônibus: Jaboatão dos Guararapes, que se inscreveu e conseguiu R$ 140 milhões, mesmo gerindo um transporte operado por micro-ônibus, com baixa demanda e sem ter, sequer, bilhetagem eletrônica.

Em 2024, o governo federal anunciou o investimento para compra de 2.529 veículos elétricos e 2.782 ônibus Euro 6, além de 39 veículos sobre trilhos para renovar a frota e equipamentos do transporte urbano brasileiro (metrôs e trens). Os investimentos fazem parte do segundo eixo do Novo PAC Seleções - Cidades Sustentáveis e Resilientes. Integram a categoria "Renovação de Frota", a que apresenta o maior investimento.

Renovação de frota e investimentos do Novo PAC:

Ônibus elétricos - 2.529 - R$ 7,2 bilhões
Ônibus Euro 6 - 2.782 - R$ 2,7 bi
Trilhos - 39 - R$ 0,7 bilhões

 

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