Ônibus elétrico: uma única cidade brasileira concentra 82% da frota de ônibus elétrico do País. E não é o Recife

São Paulo, a maior capital do Brasil e uma das principais influenciadoras na criação de políticas públicas nacionais, reúne, sozinha, 82% da frota de ônibus elétricos em operação no País. Assim, mais uma vez, é a cidade paulistana que representa a esperança brasileira de ver a descarbonização do transporte público urbano avançar nacionalmente, benefício que - vale destacar - não é bom apenas para o planeta, mas, principalmente, para o conforto do passageiro e a qualificação do serviço.

Ao todo, a capital paulista soma 527 ônibus elétricos neste mês de abril de 2025. São Paulo chegou a esse número depois da entrega de mais 115 unidades no dia 3/4/25. Contabilizando os trólebus, a frota de transporte elétrico da capital paulistana é de 728.

A conta é feita pela Prefeitura de São Paulo, com base na plataforma E-Bus, que contabiliza mundialmente os veículos elétricos nas frotas de transporte público com o objetivo de somar e estimular a expansão de ônibus não poluentes no Brasil.

APESAR DE AVANÇO, ELETRIFICAÇÃO ESTÁ BEM ABAIXO DO PREVISTO

Apesar de ser a única entre os 5.565 municípios brasileiros, a cidade ainda está bem abaixo do avanço projetado, de 2,4 mil unidades até dezembro. E uma das razões é o impasse com a implantação da infraestrutura energética necessária para a recarga elétrica dos veículos que, segundo a Prefeitura de São Paulo, não tem sido cumprida pela ENEL, multinacional que responde pelo abastecimento de energia da capital.

A gestão municipal atribui principalmente à ENEL a responsabilidade pelo descumprimento das metas de eletrificação de 2,6 mil coletivos entre 2021 e 2024, porque a distribuidora não fez as ligações nas garagens e não adequou a tensão da rede de distribuição dos bairros. Também de acordo com a prefeitura, há mais de 80 ônibus novos parados porque as ligações não foram entregues.

E essa estagnação teria envelhecido a frota circulante, cuja idade máxima foi ampliada de dez anos para 13 anos porque, por lei, desde outubro de 2022 as empresas de ônibus da capital paulista não podem mais adquirir novos coletivos a diesel.

DIFICULDADES AMPLIARAM AS TECNOLOGIAS DA DESCARBONIZAÇÃO

Devido às dificuldades de infraestrutura para a recarga da frota elétrica, um novo plano de metas para os próximos três anos (2025 a 2028) foi criado. Nele, a prefeitura planeja a substituição de 2,2 mil ônibus atuais a diesel não só pela tecnologia elétrica, mas considerando outros modelos, como biometano (gás obtido de decomposição de resíduos) e GNV.

TRANSPORTE PÚBLICO DO GRANDE RECIFE DE FORA DA ELETRIFICAÇÃO DA FROTA

A eletrificação da frota do transporte público - assim como outras tecnologias de descarbonização - ainda é um sonho distante no transporte público por ônibus da Região Metropolitana do Recife. O STPP/RMR ficou de fora dos R$ 10,6 bilhões destinados ao financiamento para aquisição, pelas empresas operadoras, prefeituras e gestões metropolitanas, de 5.311 novos ônibus menos poluentes.

Os recursos fazem parte do estímulo à descarbonização do transporte público urbano do Brasil através do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e serão distribuídos com sete estados e 61 municípios. Apenas uma cidade de Pernambuco será contemplada com recursos para a renovação da frota de ônibus: Jaboatão dos Guararapes, que se inscreveu e conseguiu R$ 140 mihões, mesmo gerindo um transporte operado por micro-ônibus, com baixa demanda e sem ter, sequer, bilhetagem eletrônica.

Em maio de 2024, o governo federal anunciou o investimento para compra de 2.529 veículos elétricos e 2.782 ônibus Euro 6, além de 39 veículos sobre trilhos para renovar a frota e equipamentos do transporte urbano brasileiro (metrôs e trens). Os investimentos fazem parte do segundo eixo do Novo PAC Seleções - Cidades Sustentáveis e Resilientes. Integram a categoria "Renovação de Frota", a que apresenta o maior investimento.

ALGUNS TESTES, MAS ELETRIFICAÇÃO AINDA É UTOPIA

Em Pernambuco, a descarbonização é ainda mais utópica. No Grande Recife, operadores e passageiros ainda lutam por prioridade viária, mesmo que seja com faixas exclusivas no lugar de corredores centrais de ônibus.

O ônibus elétrico e a infraestrutura necessária para que ele possa operar bem e, assim, compensar os investimentos, é algo limitado a pequenos testes pela cidade que nunca saem disso. Depois de testar um ônibus a gás, em outubro de 2024 entrou em teste um veículo elétrico, que rodou em linhas turísticas e centrais por menos de um mês.

Mas sem qualquer previsão de operação regular de ônibus elétricos por enquanto no Grande Recife.