Enem 2025: Como o exame usa a Matemática para avaliar o pensamento crítico dos estudantes
Muitos estudantes consideram a Matemática como uma das maiores oportunidades de elevar a média geral, já que são 45 questões dedicadas à disciplina

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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 será aplicado nos dias 9 e 16 de novembro, em todo o país.
No segundo domingo de provas, os candidatos terão cinco horas para resolver 90 questões, distribuídas entre as áreas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Química e Física) e Matemática e suas Tecnologias.
No entanto, muitos estudantes consideram a Matemática como uma das maiores oportunidades de elevar a média geral, já que são 45 questões dedicadas exclusivamente à disciplina.
Para o professor do Colégio Saber Viver (CSV) Antônio Américo, o maior mito em torno da prova é o de que ela é muito difícil. “Na verdade, grande parte da prova é formada por conceitos básicos de Matemática e envolve raciocínios não muito elaborados. As questões realmente difíceis são imensa minoria”, afirmou.
Entre as competências exigidas em Matemática estão a construção de significados para os números, o reconhecimento de padrões, o uso da geometria, a análise de grandezas e a resolução de problemas em diversos contextos, utilizando raciocínio lógico e diferentes representações matemáticas.
Segundo Américo, a Competência 3 (Construir estratégias de resolução de problemas e aplicá-las em diferentes contextos) pode ser a mais desafiadora para os estudantes.
“Muitas outras competências focam no conhecimento específico (ex: calcular volume, média, probabilidade). A C3 vai além da memorização de fórmulas ou procedimentos. Ela exige que o estudante identifique qual ferramenta matemática usar, planeje uma sequência de passos lógicos e adapte seu conhecimento a cenários que muitas vezes são novos e não triviais”, explicou o professor.
A influência da TRI
O método de correção utilizado pelo Inep, conhecido como Teoria de Resposta ao Item (TRI), faz com que a pontuação não dependa apenas da quantidade de acertos, mas da consistência das respostas.
Isso significa que erros em questões fáceis podem reduzir consideravelmente o desempenho, mesmo com acertos em perguntas mais difíceis. Por isso, compreender a lógica da TRI e ter uma estratégia clara é fundamental para conquistar uma boa nota.
“A TRI costuma gerar dúvidas porque não avalia apenas a quantidade de acertos, mas a regularidade do desempenho. Em outras palavras, a nota é maior quando o estudante mostra domínio progressivo dos conteúdos, acertando tanto as questões fáceis quanto as mais complexas. Por isso, é essencial garantir regularidade nas respostas”, explica Maíra Miranda Portela, coordenadora de Avaliação Educacional do Bernoulli.
Como a Matemática do Enem reflete situações reais do cotidiano
É comum que alunos questionem por que precisam aprender certos conceitos, acreditando que não os aplicarão ao longo da vida. Quem nunca se perguntou para que serve a "fórmula de Bhaskara"?
Ocorre que, no Enem, a Matemática é amplamente conhecida por seu forte viés de contextualização — o que significa que ela busca, de forma intencional, refletir situações reais do cotidiano.
“Essa abordagem visa avaliar não apenas o conhecimento teórico do estudante, mas também sua capacidade de aplicar esse conhecimento para compreender e intervir no mundo ao seu redor. Contextos diversificados são abordados, por exemplo, nas áreas de Economia e Finanças, Saúde e Bem-estar, Meio Ambiente, Tecnologia e Informação, Engenharia, Consumo e Comércio. As questões que envolvem conceitos puros de Matemática, sem aplicação cotidiana, são extremamente raras”, destacou o professor Américo Almeida.
Ainda de acordo com o professor do Colégio Saber Viver, o cálculo no ENEM geralmente não exige operações extremamente complexas ou o domínio de técnicas avançadas que demandam uma calculadora. As operações aritméticas básicas (soma, subtração, multiplicação, divisão, porcentagem, frações) e manipulações algébricas elementares são suficientes para a grande maioria das questões.
"A "dificuldade" do cálculo reside mais no volume de pequenas operações a serem realizadas sem calculadora e na atenção aos detalhes para não cometer erros simples, do que na complexidade inerente à operação em si", destacou.
Américo também chama atenção para a interpretação, como um grande gargalo na resolução das questões. Ele diz que se a interpretação falha, o cálculo não pode ser iniciado corretamente.
"É fundamental que o professor incentive a leitura ativa de enunciados longos e contextualizados. Isso inclui ensinar a sublinhar palavras-chave, identificar o que é dado e o que é pedido, e reconhecer as relações implícitas. A aula de matemática se torna, em parte, uma aula de interpretação de texto com viés matemático", destacou.
Mudanças no perfil da prova ao longo dos anos
Nos últimos anos, o perfil das questões de Matemática no Enem tem apresentado mudanças sutis, mas significativas. A prova continua priorizando a contextualização e a aplicação de habilidades, mas exige mais do que a simples leitura ou interpretação direta.
Os enunciados, geralmente longos, pedem uma leitura atenta, filtragem de informações relevantes e capacidade crítica para interpretar dados, comparar tendências e até questionar conclusões apresentadas em gráficos e tabelas. O professor Américo também destacou a importância de habilidades práticas e a interdisciplinaridade.
“A prova ainda cobra cálculos básicos, estimativas e ordem de grandeza, mas o estudante também precisa lidar com conteúdos que dialogam com outras áreas, como Geografia, Biologia e Sociologia. Em muitos casos, a Matemática aparece como uma ferramenta para compreender problemas do mundo real. Por isso, mais do que decorar, é fundamental saber interpretar, planejar e resolver com autonomia", pontuou.
Um levantamento realizado pelo Bernoulli Educação, com base nas últimas edições do exame (2014-2024), mostra a distribuição dos principais conteúdos de Matemática no Enem:
- Matemática Financeira e Estatística: 21%
- Equações, Inequações e Polinômios: 19%
- Funções: 13%
- Aritmética e Conjuntos: 12%
- Probabilidade, Análise Combinatória e Sequências: 12%
- Geometria Espacial: 10%
- Geometria Plana: 9%
- Geometria Analítica: 2%
- Trigonometria: 1%
- Matrizes: 1%
Mas a instituição explicou que essas estimativas podem ajudar o estudante a direcionar os estudos e priorizar os conteúdos que aparecem com maior frequência. No entanto, é importante destacar que o Enem pode variar na forma como cobra os assuntos a cada edição.
Por isso, segundo o Bernoulli, o levantamento serve como um guia estratégico — e não como uma regra rígida a ser seguida.