Aos 9 anos, pernambucana se destaca em mundial de xadrez
No Brasil, o ensino de xadrez nas escolas tem crescido, inclusive com iniciativas de inclusão do jogo no currículo escolar como atividade extra

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"Ajuda na concentração e no raciocínio lógico." Esse é o conselho da estudante Mariana Alencar Lustosa de Alcântara, de 9 anos, para as crianças que queiram aprender a jogar xadrez. A paixão pelo jogo começou em casa, quando ela passou a ganhar do pai no jogo de damas e percebeu que precisava de um desafio maior.
Em 2024, Mariana conquistou a melhor posição entre todos os participantes da América Latina no Campeonato Mundial de Cadetes da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), na categoria sub-08, disputado em Montesilvano, na Itália. Ranqueada como 24ª do mundo — a melhor colocação já alcançada por um atleta brasileiro —, ela somou 5,5 pontos de 11 possíveis e terminou em 38º lugar.
"É muito bom competir, conhecer novos lugares e disputar com atletas de outros estados e outras nacionalidades. Me sinto feliz e orgulhosa, pois jogar xadrez é muito legal e espero servir de inspiração para as outras pessoas", disse à coluna Enem e Educação.
A jovem enxadrista, que é treinada no Colégio CBV pelo professor Christian Almeida, mantém uma rotina de cerca de duas horas diárias de estudo, divididas entre aulas teóricas e práticas. Apesar do empenho, ela revela outros sonhos: "Mas quero também ser médica", contou. Quando perguntada sobre inspiração, não hesitou: "A húngara Judit Polgar, a mais jovem a conquistar o título de Grande Mestre Internacional, considerada a mais forte jogadora de xadrez da história."
Família se dedica integralmente
A rotina intensa de Mariana também mobiliza toda a família. O pai, Pedro Alcântara, explica que os treinos são diários e os torneios geralmente acontecem nos fins de semana. "Algumas competições são em outros estados e tentamos conciliar com nossas férias. Temos o apoio das avós, que também já acompanharam ela em alguns torneios quando não podemos ir."
Segundo ele, o momento mais marcante até agora foi a participação da filha no Mundial, na Itália. "Ela jogou em alto nível com várias nações do mundo", lembra.
Hoje, a vida da família gira em torno do calendário esportivo da menina. "Nossa rotina é totalmente dedicada a Mariana. Em nosso tempo livre, levamos ela para disputar os campeonatos. Não tem como negar que é cansativo, mas muito gratificante", admite.
Pedro também destacou uma dificuldade comum entre atletas da modalidade: a falta de patrocínio. Segundo ele, participar de campeonatos não é barato, principalmente quando acontecem em outros estados. Ainda assim, afirma que os esforços valem a pena diante da dedicação da filha.
Treino requer disciplina
O professor Christian Almeida, responsável pelo treinamento da jovem enxadrista, ressalta a disciplina e o envolvimento da aluna.
“O treinamento da Mariana é bem estruturado e focado no desenvolvimento gradual de suas habilidades. Trabalhamos com uma combinação de exercícios táticos, análises de partidas e também com o aprimoramento de suas aberturas e finais. O que se destaca no treinamento dela é a disciplina e a dedicação", explicou.
Segundo ele, Mariana se envolve profundamente no processo de aprendizado, sempre questionando as razões por trás de cada jogada e buscando entender diferentes estratégias.
Christian conta que percebeu o talento da menina logo no início, mas não imaginava que sua evolução seria tão rápida. Embora o ritmo de progresso no xadrez seja imprevisível, ficou impressionado ao vê-la conquistar uma titulação tão jovem.
O professor reforça que os benefícios do xadrez ultrapassam o desempenho competitivo. Para ele, o esporte contribui para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças.
“Melhora a memória, a concentração e o raciocínio lógico. Ensina a importância do planejamento e da tomada de decisões, já que cada jogada tem um impacto direto no resultado da partida. Além disso, ajuda a desenvolver paciência, resiliência e a capacidade de lidar com vitórias e derrotas de forma equilibrada", disse.
Dicas para as crianças praticarem xadrez:
No Brasil, o ensino de xadrez nas escolas tem crescido, inclusive com iniciativas de inclusão do jogo no currículo escolar como atividade extracurricular. Países como os Estados Unidos, a Rússia e alguns da Europa possuem programas de xadrez escolar bem estabelecidos, com competições nacionais e internacionais entre os estudantes.
Segundo o professor Christian Almeida, as dicas para as crianças praticarem xadrez são:
- Aprender as regras fundamentais do jogo, a movimentação das peças e os objetivos principais.
- O processo de melhoria no xadrez vem com a prática constante. A dica é dedicar um tempo para jogar e estudar o jogo.
- Procurar por clubes de xadrez na escola ou na comunidade. Aulas com instrutores experientes aceleram o aprendizado e proporcionam oportunidades de jogar com outros alunos.
- Existem muitos recursos online e livros dedicados ao aprendizado do xadrez que podem aprimorar as habilidades.