Matrículas no Ensino Médio Integral mais que triplicam entre 2016 e 2024; Pernambuco lidera, mas desafios persistem
O número de escolas que oferecem Ensino Médio Integral cresceu de 1,6 mil em 2016 para mais de 7 mil em 2024, segundo estudo do Todos pela Educação

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O número de matrículas no Ensino Médio Integral (EMI) mais que triplicou nas redes estaduais entre 2016 e 2024, passando de 400 mil para 1,3 milhão de estudantes, segundo levantamento do Todos Pela Educação, divulgados nesta segunda-feira (8).
Com base nos dados do Ministério da Educação (MEC), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed), o estudo mostra que o crescimento também se reflete no número de escolas que oferecem o modelo: de 1,6 mil, em 2016, para mais de 7 mil em 2024.
O avanço, no entanto, ocorre de forma desigual entre os estados. Enquanto a média nacional é de 22% das matrículas do Ensino Médio na modalidade integral, Pernambuco lidera com 71% de cobertura, seguido por Piauí (58%), Ceará (53%) e Paraíba (51%). No extremo oposto, oito unidades da federação têm menos de 10% de suas matrículas em tempo integral, entre elas Distrito Federal (2%) e Santa Catarina (3%).
Embora o estudo não aprofunde especificamente os motivos que levaram algumas regiões a se destacarem mais do que outras em relação ao número de matrículas, os dados indicam que há, por parte dos governos, uma prioridade em investir no Ensino Médio Integral, promovendo uma expansão consistente das redes de ensino.
Considerações do estudo
O estudo considera como matrículas Ensino Médio Integral aquelas de estudantes do Ensino Médio que permanecem em atividades presenciais por 35 horas ou mais por semana, seja exclusivamente em turmas de escolarização, seja por meio da soma de escolarização presencial com atividades complementares, atendimento educacional especializado (AEE) ou turmas exclusivas de itinerário formativo, desde que em escolas com oferta do Ensino Médio Integral.
Define-se como escola com oferta de Ensino Médio Integral aquela que possui, no mínimo, uma turma presencial de Ensino Médio com carga horária semanal igual ou superior a 35 horas. O cálculo, feito a partir da base de turmas do Censo Escolar, considera apenas escolas em atividade, com oferta de ensino regular e presencial, e com escolarização de alunos.
A ampliação da jornada foi reforçada recentemente pela publicação da Resolução CNE/CEB nº 7/2025, que define as Diretrizes Operacionais Nacionais para a Educação Integral em Tempo Integral na Educação Básica. O documento reconhece o modelo como política pública estruturante, voltada para a inclusão educacional, a equidade e a melhoria da aprendizagem.
"É um modelo que tenta endereçar parte dos desafios que nós temos hoje no ensino médio, do estudante ter uma escola que faça sentido para ele, e que veja o seu sentido de vida trabalhado. O que ele quer para sua trajetória, seja no ensino superior ou no ensino técnico. Então, esse modelo pedagógico prevê que ele possa, inclusive, escolher algumas trilhas com projeto de vida, desenvolvendo seu protagonismo para exercer plenamente a cidadania", afirma Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, em entrevista à coluna Enem e Educação.
Ainda segundo Manoela Miranda, é importante considerar o contexto e as particularidades dos jovens em cada território, levando em conta suas demandas. Ela destaca que, se o jovem realmente busca esse modelo e eventualmente precisa trabalhar, é fundamental realizar uma leitura e diagnóstico do contexto. Mas, segundo apontam as evidências, o Ensino Médio Integral tem apresentado resultados muito positivos.
Etapa ainda enfrenta dificuldades
Apesar dos avanços, principalmente diante dos números de Pernambuco, especialistas alertam que, no dia a dia das escolas, essa etapa do ensino ainda enfrenta dificuldades significativas, sobretudo no que se refere à aprendizagem e à permanência dos estudantes.
Para o professor da rede estadual de Pernambuco, Reginaldo Salvino, é fundamental considerar a realidade socioeconômica dos jovens, especialmente nas regiões mais vulneráveis.
Ele aponta que a expansão da Escola de Tempo Integral não foi acompanhada por investimentos proporcionais em infraestrutura. Segundo o professor, ainda há muitas unidades sem laboratórios, quadras poliesportivas ou espaços adequados para o desenvolvimento de projetos, o que acaba sobrecarregando os estudantes com uma rotina centrada apenas em aulas.
Salvino também destaca que a relação entre o trabalho pedagógico e o contexto das comunidades segue como um dos principais desafios, e defende que o modelo precisa se voltar com mais atenção ao perfil das juventudes das periferias. “Muitos adolescentes não veem na educação formal uma saída para a sobrevivência financeira e começam a trabalhar cedo”, destacou.
Segundo o professor, o modelo atual deveria oferecer conexões mais diretas com a vida profissional. “Quando temos grupos heterogêneos, é necessário criar atrativos que façam ponte com o futuro desses jovens. Modelos engessados, com aulas muito intensas, acabam afastando parte dos estudantes”, acrescentou.
A pesquisadora Cibele Rodrigues, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), reforça a necessidade de repensar o currículo para tornar o tempo integral mais atrativo e eficaz.
“O tempo integral não deve significar apenas mais aulas. As pesquisas mostram que a aprendizagem melhora quando há mais diversidade de atividades — arte, música, teatro, esportes — que ampliam a cognição e o engajamento dos estudantes. É preciso criar momentos de respiro para reduzir o cansaço e potencializar a capacidade cognitiva”, explica.
Cibele Rodrigues também destacou que infraestrutura adequada é fundamental para esse processo. “Precisamos de quadras, auditórios, laboratórios. Nosso modelo de educação ainda é muito centrado em ampliar carga horária de português e matemática, por exemplo, mas o que engaja os alunos é justamente a diversidade cultural e intelectual. O Ensino Médio Integral é o futuro da educação brasileira, mas precisa ser mais plural para que os jovens queiram aprender”, concluiu.