Estação meteorológica com materiais recicláveis e horta de agricultura orgânica. Veja projetos da Feira SBPC Jovem

A SBPC Jovem é composta por 4 programações: técnico-científica, mostra de professores, feira de ciências nacional e feira de ciências estadual

Por Mirella Araújo Publicado em 15/07/2025 às 14:56 | Atualizado em 15/07/2025 às 15:45

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Um espaço dedicado a aproximar crianças e adolescentes do universo científico por meio de experiências interativas e tecnológicas — essa é a proposta da SBPC Jovem, que integra a programação gratuita da 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) até o próximo sábado (19).

Com palestras, oficinas e mesas-redondas, a SBPC Jovem é composta por quatro programações principais: técnico-científica, mostra de professores, feira de ciências nacional e feira de ciências estadual. A estrutura também inclui o Circo da Ciência, que reúne instituições vinculadas à Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), além de uma arena gamer e uma arena de robótica.

Segundo a organização, uma das conquistas desta edição foi a seleção da SBPC Jovem em um edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) voltado para feiras de ciências. Isso possibilitou que a tenda da feira nacional apresentasse mais de 200 trabalhos científicos de estudantes de 19 estados brasileiros.

 

JAILTON JR./JC IMAGEM
Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - JAILTON JR./JC IMAGEM

Ciência e Tecnologia na prática

O debate sobre as mudanças climáticas e a busca por soluções sustentáveis têm marcado não apenas as discussões durante o evento, mas também os trabalhos desenvolvidos por estudantes e professores de diversas regiões do país.

Alunos do Plenus Colégio e Curso, de Petrolina (PE), e do Colégio Estadual de Tempo Integral Florentina Alves dos Santos (CODEFAS), de Juazeiro (BA), uniram esforços para construir uma estação meteorológica de baixo custo voltada para pequenos agricultores do Sertão.

Os grandes desafios da agricultura familiar estão diretamente relacionados às condições climáticas. Embora o saber tradicional seja transmitido de geração em geração e influencie as decisões produtivas, esse conhecimento torna-se insuficiente diante das mudanças bruscas no tempo.

Diante desse cenário, os estudantes do ensino fundamental e médio, sob a coordenação do professor de Matemática Marcos José Ribeiro, que leciona nas duas escolas, desenvolveram um protótipo funcional de estação meteorológica utilizando materiais recicláveis e componentes eletrônicos de baixo custo. O investimento total foi de apenas R$ 200.

O equipamento mede variáveis como temperatura, umidade, pressão atmosférica, velocidade do vento e índice de calor. O projeto surgiu durante uma aula de robótica, quando as alunas do 8º ano do Colégio Plenus, Manuela da Costa e Beatriz Cordeiro, ambas de 13 anos, construíram um pluviômetro e passaram a questionar se seria possível criar um dispositivo mais completo.

A ideia ganhou força com a entrada de Ray Douglas, aluno do 3º ano do Codefas, de 19 anos, que já atuava com robótica e usava plataformas como Arduino e BOND. Juntos, desenvolveram a estação meteorológica de baixo custo.

O protótipo foi testado na comunidade de fundo de pasto São Paulo do Zaca, em Casa Nova (BA). “Trabalho com pensamento científico porque acredito que ele é um dos pilares para transformar a educação. Quando unimos teoria e prática, os alunos conseguem enxergar sentido no que aprendem”, afirmou o professor Marcos Ribeiro.

Para Manuela, além da busca por materiais recicláveis, o acesso a diversas referências bibliográficas foi fundamental para transformar o projeto em realidade. “Fiquei muito feliz em poder ajudar os moradores, especialmente porque temos uma certa convivência com essa comunidade. Esse trabalho é muito importante”, afirmou.

Beatriz também destacou o retorno positivo dos moradores. “Foi gratificante não só por estarmos ajudando, mas também pelo envolvimento que tivemos com o projeto. Ver que ele funciona e tem utilidade torna tudo ainda mais especial”, completou.

Ray Douglas contou que, ao idealizar a estação meteorológica, teve como objetivo criar um equipamento simples e de fácil manuseio para os agricultores. Hoje, ele é uma inspiração na escola onde estuda, que recentemente inaugurou um laboratório maker e criou um clube de ciências para estimular a participação de mais alunos em projetos científicos. "Quero seguir na área de Matemática. Quem sabe, posso me tornar professor ou entrar para a Engenharia", afirmou, ao ser questionado sobre seus planos para o futuro.

 

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Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - JAILTON JR./JC IMAGEM

Feira de Ciências dá espaço para experiências de outros territórios

Outra experiência apresentada na Feira de Ciências da SBPC Jovem foi a Horta da Eulálio, um projeto que levou a agricultura orgânica para dentro da Escola Municipal Eulálio de Andrade, em Paty do Alferes (RJ).

A iniciativa de educação ambiental teve, inicialmente, o apoio da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Com o envolvimento crescente dos alunos, a horta foi transformada em um laboratório permanente, integrando teoria e prática no cotidiano escolar.

O objetivo do projeto é demonstrar que, por meio da agricultura orgânica, é possível alcançar uma produção eficiente, contribuindo para a merenda escolar e promovendo o compartilhamento com a comunidade local, reconhecida por sua tradição em produtos livres de agrotóxicos.

“Nós sentimos que tínhamos a obrigação de incentivar a educação ambiental em nossa região, que ainda utiliza muitos agrotóxicos. Isso prejudica o meio ambiente e também a nossa saúde”, afirmou Guilherme Carvalho, de 15 anos, aluno do 1º ano do Colégio Estadual Ribeiro de Avellar, que participou do projeto no ano passado.

Para Kauan Cunha, de 16 anos, também aluno do 1º ano, o conhecimento passado entre gerações teve papel essencial no fortalecimento da iniciativa. “Unimos a prática que os alunos já tinham com o conhecimento teórico da escola. Assim, conseguimos formar uma base cooperativa para construir o nosso projeto”, destacou.

A professora de Biologia Fernanda Ribeiro ressaltou o envolvimento da comunidade escolar: “O mais interessante é que conseguimos reunir alunos e ex-alunos. Participaram estudantes do 6º ao 9º ano, além de jovens que já haviam concluído o ensino fundamental e voltaram para ajudar na construção da estufa e dos canteiros”, contou.

 
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Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - JAILTON JR./JC IMAGEM

 

 

Fiocruz leva jogos educativos à SBPC Jovem e lança nova edição da OBSMA

Com pesquisadores presentes na 77ª Reunião Anual da SBPC e um espaço de mais de 120 metros quadrados, a Fiocruz marcou presença na SBPC Jovem com uma programação interativa que inclui jogos educativos, exposições, projetos institucionais, rodas de conversa e oficinas. Durante o evento, foi lançada oficialmente a nova edição da 13ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA), iniciativa que une educação, ciência e equidade.

Criado em 2001, o projeto incentiva estudantes do ensino fundamental, médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursos técnicos a desenvolverem trabalhos sobre saúde, meio ambiente e cidadania. Desde sua criação, a olimpíada já envolveu mais de 510 mil estudantes, 28,5 mil professores e 3,6 mil escolas em 3,2 mil municípios brasileiros.

Nas edições mais recentes, foram inscritos cerca de 10 mil projetos, dos quais 356 foram premiados. A Obsma é um projeto voltado aos alunos de escolas públicas e privadas de todo Brasil. Segundo a Fiocruz,a iniciativa tem como objetivo fortalecer nos estudantes o desejo de aprender, conhecer, pesquisar e investigar e estimular a realização de trabalhos que contribuam para a melhoria das condições ambientais e de saúde no país.

“O professor que trabalha com temas relacionados à saúde e ao meio ambiente já pode se inscrever para participar tanto da edição deste ano quanto da do próximo ano. A OBSMA é uma olimpíada bienal. Existem três modalidades de participação: produção audiovisual, produção de texto e projeto de ciência. Nossa olimpíada é diferente porque é o professor quem inscreve o trabalho, e não há limite de estudantes ou docentes por projeto. Isso permite a participação de trabalhos multidisciplinares”, explicou Leonan Azevedo, bolsista da coordenação nacional da Fiocruz. 

 

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A Fiocruz está com um estande na SBPC Jovem, que integra a programação da 77º Reunião Anual da SBPC, realizada na UFRPE - JAILTON JR./JC IMAGEM

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