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Publicações tentam usar IA do X para espalhar boato antigo sobre morte de Lula

Estratégia reaproveita post antigo e sem provas para sugerir que presidente foi substituído; especialista explica tática de desinformadores

Por Thiago Seabra Publicado em 18/07/2025 às 13:34

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Posts virais voltam a usar uma publicação mentirosa de 2022 para sugerir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) morreu.

Como estratégia para desinformar, os autores das publicações falsas dão informações ao Grok, ferramenta de inteligência artificial do X, e perguntam se aquilo é verdade.

Uma das publicações cita uma suposta notícia que viralizou em 2022 sobre Lula ter morrido e pergunta qual é o posicionamento da IA do X.

O post questiona ainda “quem realmente comanda o Brasil hoje?” e menciona o perfil oficial de Elon Musk, chamado de “chefe” do Grok, para “assegurar que [o chatbot] fale a verdade”.

Os conteúdos de desinformação se baseiam em um tuíte de 5 de novembro de 2022 de uma página no então Twitter intitulada LarretaNews.

Perfil que noticiou morte de Lula finge ser jornal

Como verificado pelo Comprova, o perfil não é um veículo jornalístico, diferentemente do que foi difundido na época em que o post foi publicado.

O perfil publica conteúdos de desinformação com frequência – além da “morte” de Lula, escreveu que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, também teria morrido, e compartilhou um vídeo falso de um candidato a presidente na última eleição argentina.

Em sua descrição, o perfil informa que é “o canal de notícias de Horacio Larreta”, referindo-se ao empresário argentino e ex-prefeito de Buenos Aires que foi candidato à presidência do país em 2023.

O Comprova não conseguiu confirmar se o perfil tem ligação com o empresário, mas, além de publicar conteúdos mentirosos, a página usa um logotipo semelhante ao do jornal La Nacion, numa possível tentativa de confundir as pessoas.

Especialista aponta estratégia utilizada por desinformadores

De acordo com Alex Mahadevan, diretor do MediaWise, projeto de alfabetização midiática do Poynter Institute, perguntar ao Grok sugerindo algo mentiroso é uma estratégia dos desinformadores.

“Isso pode ser como neste exemplo, em que dizem que, se o Grok não responder, a afirmação ridícula deve ser verdadeira. Mas as pessoas também fazem perguntas tendenciosas que levam o Grok a responder com desinformação”, diz ele.

“E, se o Grok retorna fatos, elas ficam chateadas e afirmam que o Grok é ‘consciente’”.

Recentemente, o Comprova verificou uma publicação do deputado federal Osmar Terra que sugeria que o Grok teria “se desculpado” com ele, mas a mensagem não confirmava as informações divulgadas pelo deputado.

Ferramentas de IA não são capazes de avaliar a confiabilidade dos dados que lhe são fornecidos, como já mostrou o Comprova.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada por um perfil da rede social X que possui 70 mil seguidores.

Na descrição, o perfil diz: “Estamos prestes a presenciar a justiça de Deus sobre o Brasil, veremos coisas jamais vistas e ouviremos coisas que farão nossos ouvidos tinir”, seguida por emojis de mãos em oração.

A foto de capa apresenta as frases “Exército Brasileiro” e “Braço Forte – Mão Amiga”.

A publicação investigada tinha 139 mil visualizações, 2 mil curtidas e 600 compartilhamentos até 17 de julho.

O perfil costuma fazer publicações sobre política internacional, por vezes “noticiando” sem citar fontes.

As publicações reúnem críticas e falsas “notícias”, como as citadas, da morte de Lula e de Alexandre de Moraes, por exemplo.

O Comprova não conseguiu contatar o autor do post pois o perfil não permite o envio de mensagens privadas.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O perfil recorre a uma autoridade questionável ao mencionar o suposto jornal argentino “LarretaNews”.

Isso confere uma aparência de legitimidade a uma informação sem qualquer comprovação, o que caracteriza um apelo à autoridade falsa.

A publicação também apela ao senso comum ao afirmar que “muitos brasileiros acreditam” na teoria de impostores na presidência.

Essa generalização vaga tenta criar a impressão de que há um consenso popular a respeito do que é dito.

Outro ponto relevante é a referência a fontes ambíguas ou inexistentes.

Ao afirmar que a notícia da morte de Lula “não foi desmentida pelo ‘X'”, a publicação sugere que o silêncio implica verdade, o que é uma inversão do ônus da prova.

Em ambientes informacionais sérios, uma alegação extraordinária exige comprovação, e não a ausência de negação como prova.

Essas táticas, combinadas, constroem um discurso persuasivo que busca convencer o leitor por meio da dúvida, do medo e da manipulação emocional, sem oferecer qualquer base factual concreta.

É um exemplo de como a desinformação se estrutura para parecer crível e urgente, mesmo quando carece de qualquer fundamento real.

  • Fontes que consultamos: Verificações sobre o post que foi reutilizado na publicação atual e entrevista com Alex Mahadevan, do Poynter Institute.

Por que o Comprova investigou essa publicação?

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.

Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema

O Comprova já verificou algumas vezes posts sugerindo, erroneamente, que o petista estaria morto.

Ao contrário do que alega teoria conspiratória, Lula está vivo e não foi substituído por sósia e teorias da conspiração sobre sósia de Lula voltam a circular nas redes sociais são alguns dos exemplos.

  • Notas da comunidade: A publicação não recebeu notas da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.

A checagem foi publicada em 17 de julho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.

A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio e Folha de S. Paulo, e o conteúdo também passou por verificação de Correio de Carajás, Correio Braziliense, NSC Comunicação e Estadão.

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