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Entenda a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil

Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros; presidente fala em caça às bruxas contra Bolsonaro e déficit nas relações comerciais

Por Thiago Seabra Publicado em 14/07/2025 às 16:31

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  • Conteúdo analisado: Tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alegando falta de reciprocidade nas relações comerciais entre os dois países. A carta aberta enviada ao representante brasileiro e publicada pelo republicano no Truth Social alega suposta caça às bruxas contra Bolsonaro e acusa o Supremo Tribunal Federal (STF) de censura contra big techs estadunidenses.
  • Comprova Explica: Na última quarta-feira (9/7), uma carta aberta publicada pelo presidente Donald Trump na rede social Truth Social anunciou taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. A medida anunciada pelo republicano pode entrar em vigor em 1º de agosto caso os países não entrem em acordo.

O texto publicado dá argumentos sobre as transações comerciais entre os países, além de apontar questões ideológicas.

Segundo o republicano, o Brasil pode ser taxado devido às decisões do STF sobre empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como o X e Trump Media, e a uma suposta falta de reciprocidade nas relações comerciais entre os dois países por conta de “tarifas, políticas e barreiras comerciais não-tarifárias do Brasil”.

Trump inicia o comunicado com acusações de que a Justiça brasileira estaria fazendo uma caça às bruxas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e insta o judiciário a impedir imediatamente a continuidade do processo judicial.

Ele alega ainda que o STF emitiu “ordens secretas e ilegais de censura” contra as big techs, com multas e expulsão do mercado brasileiro.

Além da carga tributária, o presidente afirma que pode abrir uma investigação contra o Brasil com base na seção 301 da Lei de Comércio norte-americana.

O trecho, intitulado “Alívio de Práticas Comerciais Desleais”, autoriza o representante comercial dos Estados Unidos no país — Jamieson Greer, no caso do Brasil — a investigar e impor medidas para “fazer valer os direitos dos Estados Unidos sob acordos comerciais e responder a certas práticas de comércio exterior”.

O dispositivo pode ser acionado “se os direitos dos Estados Unidos sob qualquer acordo comercial forem negados, ou se um ato, política ou prática de um governo estrangeiro violar, for inconsistente com ou negar benefícios aos Estados Unidos sob um acordo comercial; ou for “injustificável” e “sobrecarregar ou restringir” o comércio dos EUA”.

Atualmente, há duas investigações em curso, uma contra a China e outra contra a Nicarágua.

Trump também usou a lei para taxar produtos chineses em 2018, imposição que permanece em vigor.

Estratégia de Trump

Embora a carta endereçada ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cite especificamente políticos e instituições do Brasil, o texto tem pontos comuns com ameaças de tarifas a outros Estados.

Na última semana, Donald Trump enviou cartas com anúncio de tarifas a 22 países.

O primeiro a receber foi o Japão.

Com exceção das mensagens endereçadas ao Canadá e ao Brasil, os demais textos seguem a mesma estrutura e mudam somente o nome do país e a porcentagem da tarifa.

Em todas as mensagens, os Estados Unidos alegam que as relações não são recíprocas, ameaçam aumentar a tarifa em caso de retaliação e afirmam que não vão impôr as taxas caso os países aceitem fabricar seus produtos em solo estadunidense.

Esses trechos são copiados em todos os comunicados e mudam apenas as informações do destinatário.

Países notificados:

  • 50% – Brasil
  • 40% – Myanmar e Laos
  • 36% – Tailândia
  • 35% – Sérvia, Bangladesh e Canadá
  • 32% – Indonésia
  • 30% – Argélia, Líbia, Iraque, Bósnia-Herzegovina, África do Sul e Sri Lanka
  • 25% – Moldávia, Brunei, Tunísia, Cazaquistão, Malásia, Coreia do Sul, Japão e Filipinas

Segundo o mestre em Economia Internacional Alexandre Fermanian, Trump estaria fazendo uma jogada para ter margem de negociação com o Brasil.

“Os Estados Unidos podem sentir algum impacto, mas é insignificante se comparado ao nosso”. Atualmente, Estados Unidos e China são os mercados que mais importam produtos do agronegócio brasileiro.

Ele explica que, atualmente, a economia dos Estados Unidos tem forte participação do consumo doméstico.

Segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, 52% dos produtos manufaturados comprados no país são produzidos nacionalmente, enquanto outros 48% foram importados.

Para o especialista, a estratégia de negociação do republicano pode estar atrelada com a meta de aumentar a industrialização no país.

Embora o Brasil exporte muitos bens para o país norte-americano, o especialista destaca que os produtos são bens primários e do agro, o que inviabiliza a alternativa dada por Trump de que empresas brasileiras passem a produzir em solo estadunidense.

Quem deve ser impactado

A nova tarifa, caso seja implementada, deve atingir com mais força o setor exportador brasileiro.

Segundo Carlos Henrique, que dirige a área jurídica e de compliance da Frente Corretora, os produtos mais afetados serão “ferro, aço, café, suco de laranja, carne bovina e também aeronaves”.

Ele reforça que “a Embraer tem participação importante nas exportações para os EUA”.

Segundo ele, esses setores têm forte presença no mercado norte-americano e podem enfrentar perda de competitividade com a elevação das tarifas, o que exigiria redirecionamento das exportações para novos mercados.

Carlos destaca que os dois países seriam impactados, mas de formas diferentes.

“No Brasil, os prejuízos tendem a ser mais concentrados em setores específicos da economia, afetando diretamente os exportadores e pressionando negativamente o PIB, com projeções de uma possível redução de até 0,6 ponto percentual”, disse.

Esses impactos também seriam sentidos pela população na alta do dólar e na inflação.

“Nos Estados Unidos, o impacto tende a ser mais difuso, afetando consumidores e indústrias que dependem dos produtos brasileiros. Pode haver aumento de preços em itens básicos, como o café e o suco de laranja, além de impactos nas cadeias produtivas”, completou o especialista.

Fontes consultadas

Carta de Donald Trump direcionada a Lula, entrevistas com o especialista em economia internacional Alexandre Fermanian e Carlos Henrique, CCLO da Frente Corretora, além de reportagens veiculadas na mídia.

Por que o Comprova explicou este assunto

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Para se aprofundar mais

O Aos Fatos explicou porque Trump quer taxar produtos brasileiros e quais as consequências.

O Estadão mostrou que Trump não disse que Lula é “escândalo ambulante”.

A checagem foi publicada em 14 de julho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.

A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio e Correio Braziliense, e o conteúdo também passou por verificação de Estadão, UOL e Folha de S. Paulo.

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