Brasil tenta abrir um diálogo com governo Trump que travou ainda durante a eleição e que não tentou retomar até a taxação de 50%
Dificuldade do governo Lula é saber quem abordar para ajudar numa conversa inicial que possa levar a uma negociação mínima sobre as exportações.

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Pouca gente lembra que em 1º de novembro o presidente Lula da Silva (PT) afirmou que uma vitória da candidata Kamala Harris nas eleições dos Estados Unidos (EUA) representaria um caminho mais "seguro para fortalecer a democracia". No dia 6 de novembro de 2024, Donald Trump foi reeleito para um segundo mandato tomando posse no dia 20 de janeiro último
De novembro até a semana passada, quando o presidente americano enviou uma carta fixando uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados para o seu país, não se teve notícia de qualquer aproximação de Lula com o colega americano.
Cinquenta palavras
Salvo os cumprimentos num texto burocrático de 50 palavras de exatos 300 caracteres, onde o brasileiro centrou sua mensagem afirmando que “O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade”. Lula e Trump nunca se falaram ao telefone.
Também não se tem notícias do sucesso da embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Ribeiro Viotti, numa maior aproximação com o corpo diplomático americano. Embora o Brasil tenha nos Estados Unidos seu maior staff com consulados-gerais em Washington, D.C., São Francisco, Nova York, Miami, Los Angeles, Houston, Hartford (Connecticut ), Chicago, Boston e Atlanta. Na posse de Trump, Lula mandou que Ribeiro Viotti a representasse.
Muito distante
Esse distanciamento do Itamaraty está custando caro agora que os Estados Unidos anunciam a maior taxa de importação A despeito de uma corrente de comércio que ano passado totalizou US$80,9 bilhões, com um aumento de 8,2% em relação ao ano anterior.
Pelo simples fato de que, nem Ribeiro Viotti ter se aproximado do governo Trump e nem os 10 consultores terem - nesse período - trabalhado na quebra de resistência da nova equipe e estabelecido contatos. Especialmente junto aos organismos de comércio que são a principal ação de um país quando enviam seus diplomatas para cidades além da capital.
Conversar com quem
E isso explica o sentimento geral de quem saiu da reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, nesta terça-feira(14). O Brasil pode conversar com quem?
A própria consequência prática das reuniões de Alkmim com as lideranças empresariais provou esse distanciamento. A carta enviada por via diplomática para que a embaixada do Brasil em Washington vai entregá-la a autoridades do governo Trump foi endereçada ao secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, e o representante comercial (USTR) dos EUA, embaixador Jamieson Greer com quem o governo brasileiro nunca se reuniu.
Carta anterior
Detalhe: Há dois meses, o mesmo Geraldo Alckmin enviou uma carta com uma proposta de negociação sobre as tarifas até então anunciadas, de 10% sobre o Brasil, cujos termos foram mantidos confidenciais sem respostas.
O problema é que, entre a primeira manifestação de Lula e a carta de Donald Trump, Lula não deixou de fechar caminhos para uma reaproximação até abrir na reunião dos Brics a proposta de levar o bloco a operar uma moeda alternativa ao dólar cujo padrão foi estabelecido em 1945 após a vitória aliada nas II Guerra Mundial.. E de atuar contra as bigtechs que efetivamente são o fato novo nas relações entre o setor empresarial americano e o presidente americano.
Anistia fora
Abstraída a questão da chantagem de Trump sobre uma anistia a Bolsonaro que sequer pode ser aventada dada a legislação brasileira, o problema do Brasil na questão da taxação é com quem conversar de modo a chegar aos formadores de opinião do governo americano?
Embora estejam sendo vazados informes de que alguns setores se anteciparam e teriam contratados escritórios de lobbies, a questão central é: eles falam mesmo com os atores do governo americano?
E se falam, têm como, efetivamente, fazer chegar ao governo a visão do Brasil? O risco é contratar gente que venda o que não pode entregar porque os setores em que o Brasil atuam não são estratégicos para o governo americano.
Ação diplomática
Normalmente, os representantes diplomáticos que atuam nos diversos países concentram suas horas de trabalho em viagens e conversas com empresas e associações para produzir relatórios e informes estratégicos para seus países de modo a ajudar seus empresários.
Mas a questão nessa crise é como atuar num cenário onde o distanciamento se deu por iniciativa do presidente que revelou a questão comercial? Tanto que ele sequer pode ser um agente dessa negociação já que Trump incluiu um componente político.
Quem terá ouvido
No fundo, o grande problema de Geraldo Alckmin e Mauro Vieira não é conversar ou chegar a fazer uma pressão sobre Howard Lutnick e Jamieson Greer já que o nível de contato sequer permite dizer que existe uma negociação, mas fazer isso respaldado por empresários brasileiros e americanos que têm interesses comuns.
Além disso, se é verdade que Trump aproveitou a questão da possível condenação de Bolsonaro para forçar ações do executivo sobre as bigtechs abre-se a pergunta ainda mais perturbadora: Quem aqui no Brasil ou quem nos estados unidos conversa com as Sete Magníficas (Magnificent Seven): Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (Google), Nvidia, Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) e Tesla?
Sem margem
Tudo isso forma um caldo movediço para os interlocutores brasileiros atuarem. Assim como não ajuda a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas em se apresentar como interlocutor quando essa nível de tratativa será de governo central a governo central. Os representantes dos Estado Unidos aqui no Brasil não falam com Howard Lutnick e Jamieson Greer porque foram indicados por Joe Baden.
Fator Eduardo
E como tudo que está ruim pode piorar tem ainda a figura de Eduardo Bolsonaro que não tem qualquer interesse nessa questão de corrente de comércio. Porque para ele o que importa é livrar seu pai da prisão. E com a vantagem de estando lá, poder dificultar qualquer ação dos atores que representam o Brasil nessas conversas.
É importante colocar que a questão da chantagem de Trump sobre uma anistia a Bolsonaro é tão absurda que impede qualquer ação diplomática. Está fora de questão sequer conversar sobre ele.
Portanto, não é fácil e não existe expectativas senão esperar quem no dia 1º de agosto Donald Trump não surpreenda. A nosso favor, bem entendido.
Os custos do tarifaço de Trump
Levantamento da CNI com dados do IBGE; Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e UFMG traçou um panorama das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos e estimou o impacto das tarifas norte-americanas sobre a produção brasileira.
Pelo estudo, o PIB americano pode cair 0,37% a partir das barreiras tarifárias impostas a Brasil, China e 14 outros países, além das taxas impostas à importação de automóveis e aço de qualquer lugar. O tarifaço pode reduzir em 0,16% o PIB do Brasil e da China, além de provocar uma queda de 0,12% na economia global e uma retração de 2,1% no comércio mundial (US$483 bilhões).
Os impactos gerais na economia brasileira seriam de R$19,2 bilhões no PIB (0,16%), R$52 bilhões na exportação, comprometendo 110 mil empregos.
Os setores mais prejudicados com a tarifa sobre o Brasil / Exportação e produção seriam exportação de tratores e máquinas agrícolas, com redução de 4,18% na produção exportação de aeronaves, embarcações e outros equipamentos de transporte, com redução de 9,19% na produção e exportação de carnes de aves, com redução de 4,18% na produção.
A Seção 301 - 01
O governo dos Estados Unidos abriu uma investigação formal contra o Brasil alegando práticas comerciais desleais e vai abordar dois temas que são importantes para o Brasil e podem trazer mais problemas nas nossas relações comerciais.
A primeira foi levantada pela deputada Federal Silvia Waiãpi (PL-AP) sobre ameaça do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, de que os países do bloco poderiam aplicar até 100% de tarifa ao Brasil, além de Índia e China, como parte de “sanções secundárias” contra a Rússia.
Desde 2024 que navios russos e venezuelanos que transportam diesel e outros derivados de petróleo atracam no Porto de Santana, no Amapá (apenas segundo documentos de importação) que fez do Brasil importador de óleo e derivados russos. A importação fez com que a Petrobras praticamente não precisasse importar mais diesel deixando o mercado para as importadoras privadas.
A Seção 301 - 02
O outro caso tem a ver com o Pix como principal alvo. Segundo o USTR, o sistema brasileiro, por ser público e gratuito, criaria barreiras para empresas americanas como Visa e Mastercard. O governo brasileiro deve acionar instrumentos de defesa na OMC e negociar para evitar prejuízos às fintechs e ao comércio bilateral.
Mas o Pix pode ser investigado por oferecer pagamentos digitais gratuitos ou com tarifas muito reduzidas, colocando fintechs e bancos estrangeiros em desvantagem competitiva, afetando diretamente empresas americanas de pagamentos digitais.
Intervenção estatal
Ou ainda ser considerado uma intervenção estatal deliberada para excluir concorrentes externos ou impor requisitos que restrinjam entrada de players americanos, favorecendo o mercado interno.
Até agora Visa e Mastercard tentam manter os serviços especialmente de pagamentos com cartões de débito, mas não tem como competir com o PIX.
Redes e celulares
Uma nova pesquisa sobre consumo no varejo produzida pelo Terra Insights, canal do Terra & Vivo Ads que reúne as pesquisas realizadas pela plataforma, revela que o Brasil ocupa a 3ª posição mundial em tempo gasto nas redes sociais, com uma média de 3h34 por dia.
E que 3 em cada 4 pessoas usam redes sociais para comunicação As mulheres utilizam mais redes sociais que homens, mas ambos os sexos estão muito presentes nas redes.
Um terço dos usuários segue e comenta sobre marcas, mas o engajamento direto com as empresas ainda é um campo a ser explorado. A maioria dos usuários, cerca de 80%, costuma confirmar a veracidade de conteúdos acessados nas redes sociais.
Taxa do clima
A COP-30 deve repercutir um tema proposto na COP-28 sobre a cobrança de uma “taxa do clima” sobre os setores de transporte aéreo e marítimo discutida em encontros internacionais.
No Novo Pacto Financeiro Global isso pode alterar de forma significativa o custo das passagens aéreas em todo o mundo.
União Europeia
A proposta tem apoio de países como França, Quênia e membros da União Europeia, o objetivo da iniciativa é criar uma fonte estável de financiamento para ações de combate às mudanças climáticas, principalmente em nações em desenvolvimento.
Se for instituída, a taxa tende a ser repassada ao consumidor, seja com o aumento direto da tarifa, seja com a criação de uma cobrança adicional no bilhete, nos moldes da atual taxa de embarque.
Gestor de RJ
De acordo com dados do Serasa Experian, só no primeiro trimestre de 2025 foram registrados mais de 360 pedidos de recuperação judicial, um crescimento de 26% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com dados do Serasa Experian, só no primeiro trimestre de 2025 foram registrados mais de 360 pedidos de recuperação judicial, um crescimento de 26% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas operar uma recuperação judicial esbarra na escassez de profissionais qualificados. Segundo levantamento da TMA Brasil (Turnaround Management Association), menos de 10% dos advogados atuam de forma consistente com processos de recuperação judicial no país.
A lacuna de formação técnica tem limitado a capacidade do mercado de atender à crescente demanda por soluções estruturadas de reestruturação e renegociação de dívidas.