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"A medicina que foi o desvio, eu sempre quis escrever", diz Natalia Timerman, autora confirmada na Bienal do Livro

Autora de ‘Desterros, as histórias de hospital-prisão’ e ‘Copo vazio’ participa de painel da XV Bienal do Livro de Pernambuco nesta quinta-feira (9)

Por Paloma Xavier Publicado em 08/10/2025 às 16:18

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"Não é que eu me desviei da Medicina para a Literatura. A Medicina que foi o desvio, eu sempre quis escrever": é como a escritora Natalia Timerman resume a relação das suas profissões. Atualmente, Natalia atua como psiquiatra, mas também vê um sonho de infância se tornar realidade: ser escritora.

Ao Blog Social1, Natalia conta sobre o seu desejo de escrever, como concilia suas profissões, além de comentar o convite da Bienal do Livro de Pernambuco e o lançamento da sua próxima obra.

Desejo de escrever

Natalia afirma que seu desejo de ser escritora é de longa data: “Eu sou médica, tenho formação de psiquiatra, mas sempre quis ser escritora. Desde a infância eu escrevia diários, cadernos. Com 20 e poucos anos, fiz várias tentativas de romance, contos. Tentava escrever um monte de coisas, mas não confiava muito no que eu escrevia.”

Mas foi justamente pela psiquiatria que se deu o meu primeiro grande exercício de escrita de Natalia, resultando em seu livro “Desterros, as histórias de hospital-prisão”. Fruto do mestrado em Psicologia, a obra publicada em 2017 é baseada na experiência de Natalia no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo.

“A banca [avaliadora do mestrado] falou que era um texto literário. Eu não sei se eles estavam me elogiando ou criticando, mas eu recebi como um elogio”, lembra a escritora.

Natalia conta que a continuidade da carreira literária foi impulsionada pela sensação de realização que a escrita lhe proporcionou. “É uma sensação indescritível que eu não sinto fazendo mais nada. Quando eu fico muito tempo sem escrever, parece que tem alguma coisa fora do eixo na minha vida”, pontua.

Batalha contra o tempo

A manutenção do desejo de escrever de Natalia acontece em meio a uma carreira dupla - psiquiatra e escritora -, além da maternidade, e conflita com o seu tempo. “Gosto muito da psiquiatria e da psicoterapia. E o único momento em que essas atividades e a escrita entram em embate é pelo meu tempo, já que ambas pedem muito do meu tempo. Eu também tenho filhos, então o maior desafio é conseguir conciliar tudo isso. E isso é algo característico da nossa vida contemporânea tão acelerada”, detalha.

Ela conta que as suas histórias nascem de uma inquietação, de uma angústia ou de algo que ela quer entender melhor e que frequentemente precisa escrever no tempo que era para ser de descanso. “Nem sempre eu tenho esse tempo para escrever. Então, o que eu acabo escrevendo é o que é o que perdura muito, o que pede muito para ser escrito”, resume.

Influências na escrita

Natalia diz que lê muito e que, dependendo do livro que está escrevendo, foca mais nas leituras relacionadas ao tema. "Eu quero saber onde estou chegando. Claro que existem influências que a gente nem percebe. Por exemplo, quando eu escrevi 'As pequenas chances', eu não sabia que estava sendo influenciada por um livro que li anos atrás - 'A chave de Casa', de Tatiana Salem Levy -, mas eu geralmente busco algo que tem a ver com o que quero escrever", acrescenta.

A autora conta que a escrita também é o seu melhor jeito de entender as coisas. Ela afirma que essa função interpretativa e hermenêutica (metodologia da interpretação de textos) é uma característica que une a Literatura à sua prática na clínica psiquiátrica. “Tanto a clínica quanto a Literatura são hermenêuticas, interpretativas”, ressalta.

Divulgação
Natalia Timerman revela que escreve seus livros simultaneamente - Divulgação

Essa necessidade de entender algo impulsiona a escolha e o desenvolvimento dos temas para seus livros. A inspiração não se restringe apenas a elementos externos, mas também e principalmente a estados internos de incerteza ou sofrimento.

Natalia também conta que escreve simultaneamente suas histórias. “Não é que eu escrevi um, depois fui para o outro e depois para o outro. Eu escrevo um e enquanto está em processo, eu já estou escrevendo outro. Eu volto para esse primeiro e publico, depois volto para o outro. É um processo meio misturado”, explica.

Livros

Além de "Desterros: Histórias de um hospital-prisão", Natalia publicou "Rachaduras", "Copo vazio", "As pequenas chances" e "Os óculos do Lucas" - este em parceria com Bel Tatit. A autora conta que também está trabalhando em uma nova obra.

No seu primeiro livro, "Desterros: Histórias de um hospital-prisão", Natalia transforma sua experiência como psiquiatra em hospital-prisão de São Paulo em uma narrativa que mergulha nos limites entre saúde mental, encarceramento e humanidade.

"Rachaduras" é um livro de contos que explora as fissuras emocionais e sociais da vida contemporânea através de 22 histórias divididas em três partes: "Felizes para sempre", "Príncipes e princesas" e "Outros planos".

A narrativa de "Copo vazio" acompanha Mirela, uma mulher inteligente e bem-sucedida, que acaba submergida em afetos perturbadores quando se apaixona por Pedro. A paixão vira a vida da protagonista de cabeça para baixo e a faz tomar decisões nunca cogitadas antes.

O romance autobiográfico "As pequenas chances" aborda o processo de luto de uma filha pela morte do pai. A trama parte do encontro com o médico de cuidados paliativos que atendeu seu pai, e a conversa desperta na protagonista toda a experiência da perda, ainda recente e repleta de cicatrizes.

E o livro infantil "Os Óculos do Lucas", escrito conjuntamente com Bel Tatit, acompanha a jornada de Lucas, que ganhou lentes que transformam tudo o que ele vê.

Novo livro

Natalia revela que sua nova produção - ainda em processo de escrita - é um excelente exemplo dessa busca por entendimento. O livro parte da experiência de sua mãe, que tem Alzheimer, e busca responder à pergunta: "Quem é essa pessoa?".

“Acho que essa estabilidade de verbo que é o Alzheimer, não dá para saber se eu estou falando no presente ou no passado. Essa é ou era a minha mãe? O livro surge dessas perguntas”, acrescenta. A previsão da publicação é para o próximo ano.

Bienal do Livro de Pernambuco

Natalia participará nesta quinta-feira (9) do painel "História de desterro", mediada por Schneider Carpeggiani no espaço Círculo das Ideias, da XV Bienal do Livro de Pernambuco.

A autora conta que ficou feliz com o convite e tem um carinho grande por Pernambuco, especialmente por Recife e Olinda. “Uma das minhas melhores amigas é de Recife e tem uma família muito carnavalesca. Já passei muitos carnavais em Pernambuco e gosto muito”, comenta.

“Então, voltar a Pernambuco com a literatura é muito simbólico para mim. Estar num lugar que eu já amo e levar algo que eu também amo. Espero que seja um encontro muito bonito”, finaliza.

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