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Raimundo Carrero e a alma da literatura pernambucana: entre memórias, raízes e cultura

O autor retorna à Bienal de Pernambuco em 2025 celebrando meio século de trajetória e reforçando a tradição da cultura pernambucana

Por Alice Lins Publicado em 22/09/2025 às 21:15

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Pernambuco carrega uma tradição literária que atravessa séculos e permanece viva no imaginário coletivo. É terra de vozes que se impuseram pela força da palavra e que ainda hoje ecoam como referências de resistência cultural.

Essa velha guarda, formada por escritores que lapidaram a identidade entre o sertão e o litoral, transformou a experiência nordestina em literatura universal, mantendo acesa uma chama que ilumina gerações inteiras de leitores e autores.

É nesse cenário que Raimundo Carrero, um dos nomes mais emblemáticos dessa linhagem, reafirma presença. Autor de obras densas e provocadoras, mestre que atravessou redações e salas de aula, deixando discípulos por onde passou, Carrero participa da XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco em 2025.

O encontro celebra não apenas a literatura, mas também a permanência de quem ajudou a moldar a história dele no estado.

Entre memórias do regionalismo da década de 1930, o impacto do modernismo e o surgimento do movimento Armorial, Carrero reflete sobre a força da literatura pernambucana no presente.

"Nós temos alguns escritores que são muito fortes e que tão sendo bastante lidos e analisados, sobretudo pelos leitores, não só pela universidade, que já é muito importante, mas também pelos leitores comuns, principalmente o que se diz e costuma dizer no que eu não: que o brasileiro não lê. Eu acho que o Brasil não é erudito, é uma coisa diferente de ler. Lê-se muito, não há erudição, é diferente", diz.

Novidade para a Bienal, o autor apresenta "A Vida e A Traição", lançado em agosto, uma obra que promete dialogar profundamente com o público pernambucano. Carrero ressalta que o livro dialoga diretamente com questões humanas universais, como escolhas, traições e a complexidade das relações sociais, mas sempre com a marca do regionalismo pernambucano que permeia a forma escrita do autor. "Foi o meu maior orgulho literário", afirma.

Reprodução/Instagram
Raimundo Carrero, escritor pernambucano, em live de leitura - Reprodução/Instagram

Com 50 anos de trajetória, Raimundo Carrerro ressalta que um dos livros mais importantes da carreira é, sem dúvida, "A História de Bernarda Soledade". Publicado na década de 1970, o romance consolidou a voz do autor na literatura brasileira, refletindo a preocupação em resgatar as raízes culturais do país. A obra une a força do regionalismo a uma narrativa envolvente, capaz de dialogar tanto com leitores comuns quanto com estudiosos.

Para ele, esse livro não é apenas um marco literário, mas também um ponto de referência de sua identidade como escritor, representando a síntese de própria experiência, influências e dedicação à literatura que valoriza o Brasil nas múltiplas dimensões.

"Falo isso com meu coração, minha alma e meu sangue. 'A História de Bernarda Soledade' é um livro importantíssimo na minha carreira, certamente o mais importante. Com ele, participei do movimento armorial, que ainda hoje tem repercussões muito sérias na literatura e na cultura brasileira, porque envolve não apenas a literatura, mas também a pintura, a música e diversas outras manifestações artísticas", explica.

Mais que uma obra literária, "A História de Bernarda Soledade" é uma ponte entre memória e criação, um retrato sensível da alma brasileira. O livro carrega em si o espírito do movimento armorial, transformando tradições populares, do cordel à música de viola, em experiências literárias capazes de emocionar, inspirar e fazer o leitor sentir a cultura do país pulsando em cada página.

"O movimento armorial atuou de forma muito ampla. O objetivo era justamente esse: recolher a literatura e a cultura brasileiras em suas raízes, nas suas bases, como o folclore de cordel, a música de viola e a música regional, para, por meio desse movimento, criar uma expressão que permitisse ao leitor ou ao admirador de qualquer área compreender, valorizar e interpretar a vida brasileira. Isso é extremamente importante", ressalta Carrero.

Ao participar da XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, Carrero não celebra apenas a própria obra, mas a continuidade de uma tradição literária que resiste e se reinventa. Entre livros lançados, encontros com leitores e debates com novos autores, a presença dele reafirma que a literatura pernambucana permanece viva, pulsante e capaz de emocionar gerações, convidando todos a conhecer, valorizar e celebrar a riqueza cultural do estado.

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