O novo metabolismo feminino explica por que tantas mulheres ganham peso mesmo seguindo tudo à risca
Mudanças hormonais, microbiota fragilizada e inflamação silenciosa formam o cenário que impede o emagrecimento feminino, segundo especialistas
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Ela treina. Ajusta a alimentação. Dorme melhor. Reduz açúcar, bebe mais água, tenta manter rotina equilibrada.
Ainda assim, engorda ou permanece exatamente no mesmo peso por meses. Esse retrato, cada vez mais comum, tem sido motivo de frustração para muitas mulheres que acreditam estar falhando. A ciência aponta que o problema não está nelas, mas no próprio ambiente biológico em que o corpo feminino passou a funcionar.
Segundo o médico Dárcio Pinheiro, especialista em metabolismo e longevidade, o organismo da mulher mudou de forma significativa nos últimos 20 anos. O estilo de vida atual criou o que ele chama de descompasso metabólico, uma resposta de defesa que bloqueia a queima de gordura mesmo diante de esforço extremo. Essa resposta começa no hormônio do estresse.
“As mulheres não estão falhando. O que está falhando é o ambiente biológico em que o corpo feminino é obrigado a funcionar hoje”, explica o médico.
O cortisol, por exemplo, está cronicamente elevado em grande parte da população feminina. A Organização Mundial da Saúde estima que 60% das mulheres relatam níveis persistentes de estresse. Quando esse hormônio permanece alto por longos períodos, o resultado aparece no acúmulo de gordura abdominal, na queda do gasto energético e no aumento da fome.
A insulina também passou a se comportar de forma diferente. De acordo com estimativas recentes, uma em cada três mulheres apresenta resistência insulínica sem diagnóstico.
Não é preciso consumir muito açúcar para isso acontecer. Noites mal dormidas, pressões constantes, longos intervalos sem refeição e beliscos frequentes são suficientes para alterar esse mecanismo. Quando a insulina dispara, o corpo prioriza o armazenamento de gordura e trava o emagrecimento.
"A microbiota feminina se tornou um espelho da vida moderna. Quando ela está desequilibrada, o metabolismo perde precisão e o corpo passa a lutar contra a própria mulher”, afirma.
O estrogênio, extremamente sensível ao ambiente, completa a equação. Exposição diária a plásticos, cosméticos e alimentos industrializados coloca as mulheres em contato com substâncias capazes de imitar ou interferir nesse hormônio. A Sociedade Norte-Americana de Endocrinologia estima que 90 por cento das mulheres convivem com esses compostos no dia a dia.
A combinação entre estrogênio instável, insulina alta e cortisol elevado forma aquilo que especialistas já chamam de novo metabolismo feminino.
A mudança não aparece apenas nos hormônios. O intestino feminino também foi profundamente impactado. Pesquisas da Harvard School of Public Health mostram que mulheres que consomem muitos ultraprocessados podem perder até 40 por cento da diversidade bacteriana.
Essa diversidade é responsável por regular o metabolismo, manter o intestino desinflamado, equilibrar serotonina, controlar a fome e metabolizar o estrogênio. Quando ela diminui, surgem sintomas como inchaço, compulsão, fome emocional e dificuldade persistente em perder peso.
Outro fator silencioso é a inflamação crônica de baixo grau. Estudos indicam que mais de 70% das mulheres acima de 30 anos apresentam marcadores inflamatórios alterados, mesmo sem doença diagnosticada. São alterações que nascem de toxinas ambientais, noites ruins, consumo constante de ultraprocessados, estresse oxidativo e desajustes hormonais. Quando o corpo inflama, reduz a queima calórica como forma de autoproteção.
Como reverter essa situação?
O caminho para reverter esse cenário não passa pela antiga fórmula de comer menos e treinar mais. A ciência aponta para estratégias que envolvem regular o cortisol com sono profundo e pausas reais, controlar a insulina com refeições estruturadas e bom aporte de proteínas e fibras, reconstruir a microbiota com prebióticos, probióticos e alimentos naturais, além de investir em avaliação hormonal completa.
A suplementação adequada e treinos que preservem massa muscular, evitando estímulos exaustivos, complementam a abordagem.
“Quando ajustamos hormônios, inflamação e microbiota, o corpo volta a responder. O peso começa a cair não por sacrifício, mas porque a biologia foi corrigida”, finaliza o Dr. Dárcio Pinheiro.