Como transformar o hábito de ler em prazer e conhecimento?
Pesquisa mostra queda no número de leitores no Brasil, mas especialistas afirmam que é possível resgatar o interesse pelos livros com escolhas certas
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O ritmo acelerado da vida moderna tem refletido no comportamento de leitura dos brasileiros. A Pesquisa Retratos da Leitura, divulgada neste ano pelo Instituto Pró-Livro e pelo Ministério da Cultura, revelou uma redução de cerca de 6,7 milhões de leitores em quatro anos.
Entre os principais motivos estão a falta de tempo, o desinteresse e a preferência por conteúdos nas redes sociais. No dia 29 de outubro, é celebrado o Dia Nacional do Livro e, pensando nisso, a matéria de hoje irá trazer dicas para quem está em busca de melhorar a relação com a leitura.
Para a escritora e pedagoga Carollini Graciani, no entanto, é possível reverter esse cenário com pequenas mudanças e mais leveza no processo de criação do hábito.
Primeiros passos para ler mais
Segundo Carollini, o segredo está em começar pelo prazer e não pela obrigação. “A leitura colabora para criatividade, enriquecimento pessoal, vocabulário, raciocínio, interpretação, ou seja, só tem contribuição positiva, seja para crianças ou adultos. A primeira dica para quem quer criar o hábito da leitura é nunca escolher um livro clássico ou aquele livro que está todo mundo lendo. Procure um gênero que goste, algo que te desperte interesse. Se você gosta de cozinhar, comece com um livro de culinária; ou comece com leituras simples, como quadrinhos e mangás. Leve em conta seus gostos e sua personalidade. Além disso, procure temas de fácil consumo, um suspense ou ficção científica, ou até mesmo um livro de autoajuda, se for do seu gosto”, aconselha.
Ela também destaca a importância de metas realistas. Não adianta achar que vai ler um livro por semana. Comece com 10 páginas por dia ou 15 minutos de leitura.
Se o livro não te prender, tudo bem trocar. O importante é manter o contato com o texto.
Recursos como audiobooks e leitores digitais também podem ajudar quem tem dificuldade de concentração. Criar uma rotina de leitura, estabelecer um horário fixo e afastar o celular durante esse momento são atitudes simples que fazem diferença.
Incentivo desde a infância
Para a pedagoga, o gosto pelos livros deve nascer cedo. “A formação da criança leitora passa pelo exemplo familiar: presenteá-las com livros, ler juntos uma história antes de dormir, tudo isso ajuda. Mas se a criança não vê os pais lendo um livro, uma revista ou um jornal, esse hábito vai ficar mais difícil de ser desenvolvido nos filhos”, explica.
Carollini defende que o contato com os livros deve existir desde o berço, com exemplares sensoriais de borracha ou tecido. “E o incentivo tem que ocorrer desde quando a criança é bebê, com livros de borracha, de tecido, com sons, imagens, texturas, já para esse pequeno começar a interagir com o livro desde cedo. Às vezes ele só vai morder o livro ou brincar na hora do banho, mas o contato nessa fase é fundamental para despertar o interesse”, afirma.
Bienais e o novo público leitor
Enquanto o hábito da leitura enfrenta desafios, eventos literários seguem em alta. Um estudo do Ibmec Rio de Janeiro apontou que a Bienal do Livro Rio 2025 movimentou R$ 1,18 bilhão na economia fluminense. O levantamento também revelou que 81% do público tem até 34 anos, o que mostra a força dos jovens leitores.
Segundo o reitor do Ibmec Rio e coordenador da pesquisa, Samuel Barros, o evento consolidou o chamado “turismo literário”. “"A Bienal é uma programação que atrai cada vez mais o público jovem, 81% têm até 34 anos. São pessoas ávidas pela leitura, que vão até lá para comprar os livros que desejam. Boa parte mora no estado, mas há um destaque interessante entre os que vivem fora do município do Rio. Entre eles, 76% afirmaram que a Bienal foi o principal motivo para visitarem a cidade, o que podemos chamar de turistas literários. Consequentemente, todo esse movimento causa impacto na economia dentro e fora dos pavilhões, desde a venda de livros até o aquecimento no mercado hoteleiro da cidade””, comenta.
Para Carollini, o sucesso das bienais mostra que o livro continua vivo, mesmo em meio às telas. “Eventos como esse dão a rica oportunidade aos leitores de poderem ver de perto e escutar os autores. A presença dos jovens nas bienais é também um efeito das comunidades digitais que são levadas para o mundo físico, e se transforma em um momento de socialização entre eles. Muitos autores jovens ou influenciadores digitais literários se conectam com seus leitores durante esses eventos, impulsionando a presença nesses encontros e o incentivo à leitura”, conclui.